quinta e sexta-feira — 21 e 22.9.2000

1:59 22-09-2000

Eu já estava ensaiando uma semana e meia e decido: vou comer sushi. Quem quiser que vá comigo, mas eu decidi.

O pessoal topa e vamos Manoel e Maria, Rita, David e Aline. Fazem-me de mestre de cerimônia (Kazi MC, check it out!) e escolho os pratos: tempura, sushi misto, sashimi misto, sukiyaki, shabu-shabu e udon. Em São Paulo isso seria comida para oito ou nove pessoas. E daria absurdos R$ 40,00 por cabeça. Pois bem, pagamos o equivalente a R$ 60,00 e eu comi mal. Fraco mesmo. Para quem acostumou com Mitsuba, Koi, Shin Zushi, Kosushi, Nakombi...

A ambientação, para não ficar só na malhação, é legal, e o restaurante fica no Bairro Alto, ao lado do mirante de São Pedro de Alcântara.

Mas se o papo é ambientação, acho difícil concorrer com o Pavilhão Chinês. Olhando de fora parece mais um restaurantezinho chinês, mas você toca a campainha e te atende um cara com aspecto de garçon dos anos 20. Conforme você vai entrando, vai descobrindo uma seqüência de salas revestidas de cristaleiras e móveis com basculantes de vidro contendo coleções de bonecas, soldados de chumbo, miniaturas de locomotivas, medalhas de guerra, chapéus e boinas militares, estátuas, quadros, pôsteres russos... Uma coisa de cada tipo, sem organização aparente de épocas ou estilos. Um amontoado de tranqueiras cercando mesinhas e bergéres aconchegantes. Fantástico. Parada obrigatória para turistas.

O problema, de novo, é o atendimento. Entramos mais pela curiosidade, eu Aline e David, e só eu iria tomar um café. O garçon nos dá uma bronca dizendo que não pode aceitar apenas um pedido para três pessoas. David, para evitar o problema maior, pede uma garrafinha d'água e o garçon anota os pedidos, fazendo cara feia. Minha pedida era uma café com chantily mas, como já estou escolado e sei que o «café com natas» daqui vem com umas gotas de café coberto com um quilo e meio de chantily, pedi como fazia em algumas padarias em São Paulo: chantily on the side. Caprichando na polidez, dirijo-me ao garçon: «O senhor pode me trazer a nata separada?»

«Não.»

Nos entreolhamos e David mal disfarça a vergonha (ele também não entende como uma cidade turística pode ter um serviço tão ruim.

«Por quê não?»

«Porque a casa não serve assim.»

E, como diria Rita, «ponto, parágrafo.» Eles não são flexíveis e não perceberam que, se me atendesse bem, eu voltaria ali com mais cinco, jantaria, levaria todos os meus amigos lá...

O café não era tudo isso, mas valeu pelo ambiente inusitado. Minha esperança é que aquele jumento seja o único garçon estúpido do local, e que tenhamos dado azar, porque fiquei com vontade de voltar.

***

Sexta-feira, 22 de setembro, é o Dia Europeu Sem Carros. Uma demagogia barata que serve mais para irritar quem tem de trablhar que limpar o ar ou economizar combustível. Sequer para conscientizar a população de coisa alguma. Well, pouco me importa, estou indo para o Brasil-sil-sil.

Amanhã estou em São Paulo, minha cidade. E pouco mais importa.



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