Que alternativo é esse? Logo o Ira!, uma banda consagrada dos anos 80? Explica isso melhor...!!!

Não uma "banda" alternativa, mas um "disco" alternativo, que não teve os louros de um "Vivendo e não aprendendo" (86), mas foi tão bom ou melhor do que o grande sucesso da carreira do Ira!... Lançado em 88, Psicoacústica surpreendeu pela sua inovação estética (quem não se lembra dos óculos 3D encartados no vinil e os grandes efeitos que se tinha ao visualizar a capa super psicodélica... quem comprou o K7, como eu, ganhava uma faixa a mais, mas acabava tendo que ir na casa dos amigos para "sacar" a capa...) e pela fusão de elementos percussivos e rap com o rock básico, onde o vocalista Nasi e o baterista Andre flertaram ainda durante um bom tempo, inclusive participando de discos de rappers como Thaíde & DJ Hum.
Rubro Zorro abre o álbum com ecos de vozes quase inaudíveis, porém irascíveis; a guitarra raivosa, o banjo e a craviola quase barrocos de Edgard já sobressaem desde os primeiros acordes e a cozinha segura o tranco, enquanto o vocalista exalta a necessidade do herói: "No asfalto quente, o crime é o que arde/Bandidos estão vindo de toda parte"; e a pancada continua: "É na cabeça... seu poder racional...". Passamos a ouvir, logo após, um coral "gospel", provavelmente uma referência explícita das missas, instituições das Manhãs de Domingo, quando abruptamente, voilà: rock ! A distorção quase psicodélica das guitarras, a letra descritiva, a agitação (contida) reflete bem o que são estas manhãs: "Sua cabeça está noutro lugar/Parece que realmente a noite valeu a pena"... Poder, Sorriso, Fama vem com uma levada mais calma, mas não menos empolgante, com uma batida bem cadenciada. Um clássico: Receita para se fazer um herói... Edgard novalmente prima pela sua sutileza nas cordas, o arranjo primoroso da cama de instrumentos, incluindo os sopros que antecedem um final triunfante; as palavras ditas por Nasi mereceriam um capítulo à parte: "Pega-se um homem, feito de nada, como nós... serve-se morto". Não pague pra ver (ao vivo), lembra a primeira fase do Ira!, mais básica, mas pungente e empolgante. A captura destes momentos únicos (afinal, os shows do Ira! eram memoráveis) sempre foi extremamente bem-vinda e felizmente, bem capitalizada pela banda. Ouvir "A sensação de ver meu corpo entrando no seu/Agora quero matar saudade/Moça, não pague pra ver" é quase sentir os holofotes do palco... Pegue essa arma, uma aula de baixo (grande Gaspa), percussão (fala, Jung!), o Edgard crava um solo indescritível (afinal, normal...) além de duelar no vocal com Nasi... e como em Rubro Zorro, ouvimos quase gritos, ecos: "O terceiro mundo vai explodir/Quem tiver de sapato não sobra". Uma intensidade sonora como pano de fundo para uma letra que retrata o título; situações de opressão, medo... Deleite-se! Farto do Rock'n'Roll é quase uma grande brincadeira, um riff magnífico (rockeiro, claro...) e a intenção de fundir ritmos, insatisfação com o 4x4 e o baixo-bateria-guitarra, a certeza de que o mesmo Rock'n'Roll é o caminho... andando em voltas: "Eu fico tentando me satisfazer/Com outros sons, outras batidas, outras pulsações... Então eu faço como os outros e vou assistir ao show", fantástica... Um pandeiro, um berimbau? Advogado do Diabo é uma puta sacação... o baixo quase sombrio, Scandurra solando magistralmente, a percussão segura a onda "jongo" da música e Nasi detona em um slow Rap: "Atire a pedra no pequeno/Mas um dia você vai se queimar". Mesmo Distante reafirma a veia romântica do Ira!, porém lembrando as viagens dos Beatles/Mutantes; muitos efeitos, distorções, microfonias, um vocal grave e quase rouco, violões de aço, um trabalho percussivo criativo, clima de fechamento...
 
 
Cifras

 

 
 
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