MANIFESTO
DE LANÇAMENTO DA |
No momento em que o setor público brasileiro passa por grandes
transformações no tocante aos serviços prestados à comunidade - entre os quais
incluem-se o abastecimento de água, o esgotamento sanitário, a drenagem urbana e os
resíduos sólidos - diversas entidades lançam à sociedade este manifesto em defesa do
direito fundamental, consagrado na Constituição, de acesso ao saneamento ambiental. Este
está intimamente associado a outros como habitação e o direito à cidade.
Do ponto de vista das entidades representativas da sociedade civil organizada é
necessário considerar que:
Brasil ainda apresenta dados alarmantes de déficit no acesso aos serviços básicos de
saneamento, revelados pelo fato de 33% da população brasileira não ter acesso ao
abastecimento de água e somente 30,9% da população ser atendida pela rede de
esgotamento sanitário;
há uma relação direta entre saneamento ambiental, saúde pública e qualidade de vida.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, quase 25% dos leitos hospitalares do mundo
estão ocupados por enfermos portadores de doenças veiculadas pela água. Quanto ao
Brasil, 60% das internações da população infantil (indicadores referentes à média
nacional) têm como causas doenças de veiculação hídrica. Estima-se ainda, que a
ampliação de 1% da cobertura sanitária da população de 01 a 05 salários mínimos
reduziria em 6,1% as mortes na infância;
são as populações marginalizadas do campo e da cidade as que mais sofrem os efeitos
nocivos desta realidade.
Ao mesmo tempo, percebe-se que o Governo Federal vem promovendo ações no sentido de
reestruturar a prestação de serviços públicos de saneamento básico, principalmente
através do Projeto de Modernização do Setor de Saneamento - PMSS, e da apresentação
da Emenda Substitutiva no 01 ao Projeto de Lei PLS no 266/1996. Segundo o Governo Federal,
ambos os projetos têm como objetivo desenvolver a gestão do saneamento através do
estímulo à competitividade com a incorporação do setor privado, e a criação de entes
reguladores comandados por notáveis que representariam a sociedade. No entanto, o
enfraquecimento do poder local, causado pela retirada da titularidade municipal, não
garante a ampla participação da sociedade, nem traz suficiente transparência para
assegurar sua legitimidade democrática.
Diante deste quadro, e tendo em vista que é indispensável adotar novas formas de gestão
do saneamento ambiental compatíveis com a realidade do país, estamos lançando a Frente
Nacional pelo Saneamento Ambiental, congregando sindicatos, associações de classe, ONGs
e movimentos sociais.
As propostas da Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental visam garantir:
> A UNIVERSALIDADE DE ACESSO AOS SERVIÇOS DE SANEAMENTO AMBIENTAL E AOS EQUIPAMENTOS
URBANOS
> PREÇOS E TARIFAS ADEQUADAS PARA PROMOVER A JUSTIÇA SOCIAL
> A QUALIDADE, REGULARIDADE, CONTINUIDADE E EQUIDADE DOS SERVIÇOS PRESTADOS
> ACESSO ÀS INFORMAÇÕES SOBRE OS SERVIÇOS
> A DEMOCRATIZAÇÃO DO PROCESSO REGULATÓRIO, COM A PARTICIPAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL
> CONTROLE SOCIAL DOS SERVIÇOS DE NATUREZA PÚBLICA
No plano imediato, a Frente Nacional pelo Saneamento Ambiental propõe ao Governo Federal,
Governos Estaduais e Municipais a abertura de canais de participação da sociedade nos
processos de tomada de decisão sobre a regulamentação do setor público de saneamento e
nos mecanismos de fiscalização das concessionárias, bem como na definição dos
direitos e garantias dos consumidores nos eventuais futuros contratos de concessão.
Por fim, as entidades sociais que compõem a Frente manifestam seu estado de mobilização
e alerta no acompanhamento do processo de definição das políticas públicas de
saneamento ambiental e conclamam toda a sociedade para:
> a participação pública no debate sobre a reestruturação do setor, através da
promoção de Conferências Municipais e Regionais de Saneamento Ambiental;
> a formulação de políticas públicas alternativas, criando mecanismos de
participação e controle social, incluindo sistemas de controle de qualidade dos
serviços, indicadores ambientais e de saúde, que expressem a eficácia dos serviços
prestados e a transparência na aplicação dos recursos;
> a organização de comitês de acompanhamento de programas e projetos, e de conselhos
municipais de monitoramento social da política de saneamento ambiental;
> a reivindicação por recursos públicos expressivos voltados para o setor -
colocando-o, concretamente, como prioritário em termos de investimentos públicos ao lado
de setores como saúde e educação;
> a abertura de canais de participação da sociedade na relação com bancos
multilaterais e nacionais em torno do acompanhamento dos atuais programas e da definição
de novos investimentos;
> a participação na formulação de políticas habitacionais articuladas ao
saneamento ambiental, dentro da perspectiva da reforma urbana.
Esperamos desta forma contribuir para a modernização institucional necessária para
atender aos anseios de parcela significativa da população que se encontra em condições
de saneamento ambiental não condizentes com os padrões necessários à vida com
plenitude e qualidade.
PELO ACESSO UNIVERSAL AO SANEAMENTO AMBIENTAL
POR CIDADES JUSTAS E DEMOCRÁTICAS
FNU - Federação Nacional dos Urbanitários; ABES - Associação Brasileira de Engenharia Sanitária e Ambiental; ASSEMAE - Associação Nacional dos Serviços Municipais de Saneamento; FNRU - Fórum Nacional da Reforma Urbana; CMP - Central dos Movimentos Populares; MNLM - Movimento Nacional de Luta pela Moradia; UNMP - União Nacional por Moradia Popular; Fórum Brasileiro de ONGs e Movimentos Sociais pelo Meio Ambiente e Desenvolvimento; FASE - Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional/Observatório de Políticas Públicas e Gestão Municipal; ANSUR - Associação Nacional do Solo Urbano; POLIS - Instituto de Estudos Formação e Assessoria em Políticas Sociais; IDEC - Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor.
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