The reason why I love the sea I cannot explain. It's physical. When you dive, you begin to feel you're an angel.
Jacques Cousteau
The sea does not belong to despots. Upon its surface men can still exercise unjust laws, fight, tear one another to pieces, and be carried away with terrestrial horrors. But at thirty feet below its level, their reign ceases, their influence is quenched and their power disappears. Ah! sir, live - live in the bosom of the waters! There only is independence! There I recognise no masters! There I am free!
Captain Nemo in 20,000 Leagues Under the Sea, Jules Verne
BREVE HISTÓRIA
Segundo os historiadores, os primeiros mergulhos poderão ter acontecido 5000 anos antes do nascimento de Cristo e sabemos que os gregos mergulhavam em busca de esponjas há 2000 anos. O mais antigo registo conhecido de um mergulhador aparece num baixo relevo assírio de 885 a.C.. A mitologia grega e os escritos do historiador Heródoto estão repletos de contos submarinos.
As primeiras tentativas para conseguir permanecer debaixo de água durante maiores períodos de tempo são descritas por Aristóteles (360 a.C.) e por Alexandre, o Grande (333 a. C.). Os primeiros sucessos, no entanto, começam no séc. XV, com grande destaque para Leonardo da Vinci (1452-1519) e o seu Codex Atlanticus. No séc. XVI o sino de mergulho é reinventado por Gugliemo Lorena e, no final do século, parece estar generalizado. No séc. XVII aparece o sino de mergulho de Kessler, o escafandro de Borelli e o famoso sino de mergulho de Halley (Físico e astrónomo inglês que deu o nome ao cometa), que em 1689 atingiu os 18 metros no rio Tamisa e lá permanecendo durante 90 minutos!
O mergulho com escafandro acontece com a invenção do escafandro por Lethbridge em 1715. Fréminet constrói um outro escafandro em 1774 com algumas melhorias. Em 1797 Klingert inventa o seu Monstro (fato de couro ligado a um capacete metálico) e em 1808 Drieberg inventa o Tritão (semelhante ao escafandro autónomo actual, mas não era autónomo).
No século XIX os irmãos Deane registaram a patente do Smoke Apparatus (um fato para bombeiros que esteve na origem do Diving Dress dos mesmos irmãos em 1928). Em 1836 os Deane publicaram o primeiro manual de mergulho.
Augustus Siebe projectou um capacete que se começa a utilizar com sucesso em 1835. E em 1840 adaptou um fato estanque com válvula de escape ao capacete (protótipo do conhecido Pé de Chumbo).
Apesar das importantíssimas invenções dos irmãos Deane, de Siebe e de muitos outros, o mergulhador ainda não conseguia sobreviver sem o cordão umbilical que o ligava à superfície.Muitos inventores imaginaram sistemas que permitiam tornar o mergulhador autónomo. Muitos contributos foram dados. Nomes como William James, Lemaire d'Angerville (inventor do Pneumato-nautique), Sandala, Rouquayrol e Denayrouze e Le Prieur não podem deixar de ser mencionados. Para o resto do equipamento básico deram o seu contributo: o francês Louis Corlieu com as barbatanas (já desenhadas por Da Vinci); o inglês Steve Butler com o snorkel, Fréderic Dumas com a máscara (apesar de muitos terem arranjado as suas próprias soluções quase simultaneamente) e até Charles Goodyear para o fabrico de fatos de borracha.
Mas a exploração moderna do mundo subaquático está associada a um outro grande nome e teve o seu início em Junho de 1943, quando Jacques Cousteau fez o seu primeiro mergulho com um revolucionário aparelho de respiração que ele tinha desenvolvido com um engenheiro francês chamado Emile Gagnan. Para o comandante Cousteau não chegava o facto de os humanos só poderem ficar debaixo de água e admirar o fundo do mar até acabar o fôlego.
Gagnan tinha desenhado um regulador de fluxo de gás para ser usado em automóveis e em salas de operação de hospitais durante a Segunda Guerra Mundial. Cousteau pensou que se poderia modificar o invento de modo a ser utilizado debaixo de água. Então os dois acabaram por inventar um modelo de SCUBA (Self-Contained Underwater Breathing Apparatus).
Cousteau não só conseguiu realizar o seu sonho de "voar" no fundo do mar como um peixe, mas também permitiu a muitos outros (eu incluída) penetrar no oceano e estudar os seus segredos mais recônditos. Hoje em dia milhares de praticantes de mergulho desportivo exploram recifes em todos os oceanos do mundo, estudando a vida marinha e explorando navios naufragados.
DE APRENDIZAGEM
Para a maioria das pessoas, aprender a mergulhar não é difícil. O primeiro passo é, muitas vezes, o snorkelling, ou, por vezes também chamado, mergulho livre ("free / skin diving"). O único equipamento necessário para snorkelling é a máscara e o "snorkel", ou seja, o tubo para respirar. As barbatanas, embora não sejam indispensáveis, permitem uma maior velocidade com muito menos esforço. O praticante de snorkelling nada à superfície da água, olhando para o panorama subaquático através da máscara enquanto respira através do tubo. Para poder ver o recife mais de perto, o mergulhador sustem a respiração e mergulha. Este processo ("breathhold diving") é uma actividade segura e agradável, desde que o mergulhador se precavenha contra uma hiperventilação excessiva ou respiração rápida na superfície antes de um mergulho. Disto pode resultar uma formação de dióxido de carbono e causar desmaio à superfície e morte se ocorrer debaixo de água.
Quando um mergulhador decide explorar áreas mais profundas do oceano, é necessário que se matricule num curso. Aí o mergulhador vai aprender a manusear o equipamento: junto com a máscara, barbatanas e tubo usados no mergulho livre, também irá usar uma garrafa, regulador, medidores de pressão (manómetro) e profundidade (profundímetro), cinto de pesos (ou cinto de lastro) e o colete (BCD Buoyancy Control Device), que é insuflável e que serve como segurança e ajuda o mergulhador a regular a flutuabilidade debaixo de água.
Um treino inicial também inclui como lidar com os dois maiores problemas fisiológicos associados ao mergulho: embolia gasosa e mal de descompressão. Ambos os problemas são causados pelo aumento da pressão atmosférica que ocorre enquanto o mergulhador imerge. A pressão da atmosfera ao nível do mar é de 1.03 quilos por centímetro quadrado. Esta pressão é chamada 1 atmosfera. A 10 metros de profundidade a pressão dobra. A pressão a 20 metros é aumentada em mais uma atmosfera.
Um mergulhador tem que equilibrar estas mudanças de pressão: na descida, deve desbloquear os ouvidos; na subida, a respiração tem que ser normal, nunca sustendo a respiração porque o ar nos pulmões irá expandir. A pressão diminui quando se sobe à superfície com o mesmo índice que aumenta quando se desce. Se um mergulhador inspirar fundo a 10 metros de profundidade, mantiver o ar nos pulmões e emergir à superfície, o ar nos pulmões irá expandir até ao dobro do seu volume original e o mergulhador sofrerá de embolia gasosa.
A embolia gasosa ocorre quando os pulmões expandem demais até ao ponto de forçar bolhas de ar através dos pulmões para a corrente sanguínea. As bolhas podem alojar-se no coração, nas artérias ou no cérebro. Os sintomas da embolia gasosa aparecem minutos ou até segundos depois de chegar à superfície. Pode dar origem a tonturas, confusão, fraqueza, visão desfocada, convulsões e, até mesmo, a morte.
O mal de descompressão também resulta das diferenças na pressão debaixo de água. Devido a esse aumento de pressão, o azoto no ar comprimido que é respirado é absorvido pelos fluidos e tecidos do corpo do mergulhador. Se um mergulhador que tenha estado em águas profundas vier à superfície de forma correcta, à medida que a pressão diminui, o azoto é libertado dos fluidos e tecidos, passa pelas veias, é solto nos pulmões e é expirado.
A chave para vir à superfície de forma correcta é o tempo. A Marinha dos Estados Unidos desenvolveu tabelas de mergulho ou descompressão para indicar a quantidade de tempo que é necessária para o azoto desaparecer da corrente sanguínea. Mergulhadores que prolonguem a sua estada em águas profundas devem fazer paragens no seu regresso à superfície para permitir que as bolhas de azoto se dissolvam. Se um mergulhador subir demasiado rápido, causa mal de descompressão: as bolhas podem ir para a corrente sanguínea e alojar-se no cérebro, pulmões ou medula espinal. Em casos menos graves as bolhas podem causar prurido na pele e articulações rígidas; em casos mais extremos pode haver dor, paralisia total ou parcial e morte.
A maioria dos mergulhadores aprende o tempo e as profundidades até onde se pode ir sem requerer descompressão ("no-decompression diving") e mantém-se dentro desses limites. Um mergulhador pode ficar a 9 metros (30 pés) indefinidamente, mas a 40 metros (130 pés) só pode ficar durante 10 minutos sem descomprimir à subida.
As profundidades superiores a 40 metros não são recomendadas para o mergulho recreativo. A cerca de 30 metros, e por vezes até menos, o azoto afecta o sistema nervoso do mergulhador com resultados semelhantes à embriaguez ("nitrogen narcosis"). Não acontece de repente, mas aumenta gradualmente com o aumento de profundidade. Não é uma condição permanente ou traumática, mas sabe-se que afecta o discernimento, podendo levar o mergulhador a tomar atitudes impensadas e irresponsáveis. A 40 metros pode ser bastante visível, mais uma razão para estabelecer esta profundidade como limite máximo do mergulho desportivo.
O desporto é fascinante, mas deve ser praticado por pessoas qualificadas e responsáveis e, de preferência, acompanhado de um amigo ("buddy"). Os perigos causados por mergulho são muitos e assustadores, mas depois do primeiro mergulho, quando somos alvo da curiosidade de milhares de peixinhos coloridos que nos vêm cumprimentar e dar as boas vindas ao seu mundo, tudo em que pensamos é voltar e, como Jacques Cousteau diria: "voar no mundo azul do silêncio".
From birth, man carries the weight of gravity on his shoulders. He is bolted to earth. But man has only to sink beneath the surface and he is free.
Jacques Cousteau