With a Little Tenderness

 

TRISTE

 

 

Foi quando sai do ventre materno, respirei e depois abri os olhos, que entendi que o universo nascera. E ele nascendo , pela primeira vez dei-me conta de minha existência.

Conforme eu crescia o universo ia se modificando, mais e mais ...mais e mais. Transformações às vezes brutais.  Ou sutis. Ou mesmo despercebidas ...

Lembro-me ainda quando o universo começou a se movimentar diante de mim. Era como se eu estivesse andando, percorrendo o mundo. Tudo muito bom até que começou a acontecer um fato muito estranho: eu olhava e tudo o que olhava desaparecia.

Olhei para João e ele desapareceu. O mesmo aconteceu com Maria. E com Pedro ... e com Joana e com ...

Não só pessoas. Tudo.  Casas, ruas, carros, tudo ...

E o universo não parava de se movimentar. Cada vez mais depressa... até percorrer-se inteiro diante de meus olhos, não restando mais nada. Levantei minha cabeça e olhei para o Sol. Fez-se noite. O Sol desaparecera.

Mas qual era o problema? Ainda restavam aqueles minúsculos olhos de anjos, pontos azuis alegrando o Céu. Olhei sorrindo para a primeira estrela e ela desapareceu. A última também ...

Fiquei com medo ... estava só. O que havia acontecido? O que não havia acontecido? Ai então reparei que a escuridão não era total. Havia algo que lançava uma luz sobre mim. Lembrei-me da Lua. Só poderia ser ela. Mas e se eu a olhasse? Desapareceria?

Por puro desespero ergui meus olhos ao Céu, e vi a Lua. Ela não desapareceu. Sorriu para mim. Acarinhou-me com seus raios.

Eu havia descoberto uma razão de ser. Ser um com a Lua. E essa foi minha vida durante muito tempo ... muito tempo. Até que um dia olhei para ela e ela não estava no Céu ...

Desde então somente restaram três coisas ...

Eu.

A escuridão.

E uma pergunta:

... será que morreu a Lua, ou será que morri eu?

 

Paulo ... em 27.03.99

 

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