O Samurai Moderno

Já faz tempo que minha vida, por mais que eu deteste, abomine e fuja, é digitalizada. São aquelas malditas fotos de celular impressas em papel fotográfico ou os malditos emails. Eu resisti o quanto pude mas até o meu cartão de crédito denuncia minha saga e o meu futuro. Minha respiração calma e os exercícios de ioga destoam de tudo a minha volta. O som alto, mais alto possível, toca rock n'roll porque é disso que eu gosto. Olho pela janela e o sol invade meu quarto do jeito que eu gosto. O sol é uma força do bem inspiradora e coletiva que brinda a todos com sua energia criadora e modificadora.
Feito o café e trocando miúdos por trocados me pus a pensar no que eu tinha para fazer. Primeira coisa que o amor ensina: cuidar da saúde. Isso mesmo. Alimentar-se melhor, fazer exercícios de respiração, algumas abdominais e fazer a barba. Cuidar de si leva uma hora e meia e para mim são os melhores minutos do dia. Depois pensar sobre o mundo. Cuidar da casa, do trabalho e equilibrar o lado profissional com os pranaiamas diários. Calma. Hoje em dia as coisas são feitas sem calma.
O samurai levantou-se depois de seu estado Zen. A manhã trazia com seus primeiros raios de luz uma pequena chuva, um pequeno sopro de ar. Da caverna o samurai olhava com seus pequenos olhos, incrédulo, o momento. Talvez fosse este seu último dia na Terra. Todas as formas, cheiros e sentidos estavam aquecidos pela meditação que equilibrava as batidas do coração do homem e da terra em que ele sentava. O calor de seu corpo cedia ao frio da manhã e o éter agradecia o calor trazendo o mais puro ar para seus pulmões. O samurai recebia da natureza sua força. Um gole de água apenas saciaria sua sede naquele momento. Um copo de água antes de sair dali para o local destinado onde outro samurai o esperaria até que um deles não mais existisse.
Duzentos e quarenta e sete mil e doze passos até a clareira. Shogo estava lá. Pacientemente sentado, olhos serrados ao relento vestido à caráter. Um homem elegante, um soldado mortal. Sentindo a presença do adversário Shogo logo acalmou seu coração com o fluxo de seu sangue e com um longo expirar levantou-se até poder fitar o samurai. O que viu poderia ser sua última visão. As árvores, o vento passando levemente pelas folhas e o som cortante de cada passo do adversário seriam talvez a porta para outro mundo.
Shogo não ousou olhar o samurai duas vezes pois ao se levantar desembanhou sua espada e desferiu apenas um golpe de cima para baixo, da esquerda para a direita sobre o jovem samurai nu... Ao olhar Shogo sentado o samurai intuiu a mudança da respiração do adversário e decidiu antecipá-lo atacando de cima para baixo, da direita para a esquerda e assim matá-lo com um só golpe...
Os pássaros testemunharam um choque brutal de lâminas, um relâmpago forjado milhares de vezes por mãos humanas e a lâmina de Shogo explodiu contra o peito do jovem samurai nu vertendo-lhe o sangue e tirando-lhe a vida. O corpo caiu inerte e pesado. A poeira cobriu levemente o morto e drenava o sangue que ainda pulsava de suas veias até que Shogo tirou o próprio vestuário e cobriu o samurai ficando nu ante todas as árvores, ante a natureza e sua própria realização. Shogo tinha dezessete anos e aquela seria sua última luta contra a morte. Depois seguiu nu em busca das respostas da vida.

Fim

Por incrível que pareça foi depois de controlar minhas emoções e pensar muito no que tenho a perder nesse mundo que tento explicar como as coisas as vezes são estranhas. Na vida a gente faz escolhas. Esta noite eu escolhi dormir com a campainha do telefone ligada. As 7:30h ele toca, toca, toca, toca, tocou, tocou, tocou, tocou. Na pior das hipóteses a pessoa pararia de ligar ou alguém atenderia o telefone antes de tudo acontecer. Eu queria permanecer no calor do meu edredon na melhor lembrança de sua voz e harmonizando minhas inspirações e expirações pelos nastros poderosos que deus me deu.
Ontem foi um dia de provação contra a preguiça. Enfim ao tê-la vencido fi-lo aquilo que quí-lo: ioga. Muita calma neste momento
Eu atendi o telefone imaginando qualquer coisa menos o que eu ouvi. Uma voz conhecida remotamente sumida ligando pro bróduei noivo que não tem mais relação nenhuma com a tal persona. Eu entro em casa e acordo o sujeito que dormia no sofá. Tudo fora de curso até então. Eu vou saindo e ouço que ela foi agredida pelo namorado e estava vindo pra minha casa. Ouço a história depois da boca do bróduei. Toca a campainha e eu não consigo imaginar o que seria agressão de um namorado a uma namorada. Eu já tinha visto murro no olho e unhada. O que eu vi foi uma mulher sem dignidade alguma de manhã com os lábios úmidos de sangue, inchados, os olhos lacrimosos, um deles fechado pelas porradas... a testa cheia de galos e o terror nos olhos da mulher nossa amiga. Covardia.

Agora eu tenho uma ligeira idéia da maldade que ele teve. Raiva, covardia, abuso de poder. Quantos adjetivos. nenhum descreve tudo o que vi. Eu fui conselheiro. Sugeri o BO, o corpo de delito, uma queixa na delegacia da mulher. Mas entendo porque ela preferiu conversar e depois dormir. Agredida, subjugada, só pensei na minha neguinha e nas coisas todas do mundo das quais nós dois estamos sujeitos. Um caminho, duas pessoas. Mas eu não estava preparado para tudo isso a uma semana atrás. Hoje eu respirei fundo e tchum. Obrigado.

Fantasmas são memórias e eXperiências que nãos são boas de lembrar. Cada dia que eu encosto minha cabeça no colchão procuro avaliar o que fiz, o que sou e como estou respirando. Nova lição sobre entender o tempo é: como estamos respirando? Durmo muito tranquilo ciente de que tenho dois carros batidos nas costas, dívidas com a telefonica da Espanha, dívidas com minha saúde e a pior namorada do mundo. Quando encosto a cabeça e durmo fecho meus lábios e cerro meus olhos no silêncio que existe entre um reter do fôlego e outro batimento cardíaco. O amor brilha em minha testa e sigo viajando entre o inconsciente e o consciente estimilado: neurônios. Posso estar impressionado, mas existe um efeito benéfico na respiração.
Graças ao meu grande irmão Tatsuei estou praticando uma nova modalidade: mastigação! - isso mesmo. Através de um livro sobre ioga e saúde aprendi que mastigar os alimentos e transformá-los em um bolo é o mais saudável método de digestão existente. Comer sempre me foi penoso. Meus dentes tortos fundem-se constantemente quando como e isso me irritava. Talvez a pressa, a urgência também contribuíssem para não querer comer as coisas direito. O fato era que eu só comia quente e cozido.
Faz seis dias que eu sigo a experiência de mastigar bastante, dez vezes mais meus alimentos. Minha digestão melhorou porque eu me concentro mais no ato de mastigar e respiro melhor. Também fica impossível falar e fazer tudo isso ao mesmo tempo. Depois a digestão fica mais leve porque a saliva é catalisadora e ajuda o estômago. E o intestino agradece porque trabalha menos. Isso se deve ao quase total aproveitamento do bolo alimentar. Carne.
Você perceberá que é impossível mastigar totalmente um pedaço de carne assim como um pedaço de batata. A digestão das carnes é, por isso, sempre mais difícil do que a de legumes ou frutas. Comer menos carne significa uma melhor digestão.
Seu cu agradecerá.

O hábito de escrever ficou restrito a minha máquina olivetti. Nada mais saudável para os dedos do que aquelas teclas de verdade.

14/9/04 - O clima no Vaticano não deve estar nada leve. Um camerlengo, muitos cardeais e secretários. Uma Cúria Romana fincada nos tempos de hoje é um resquício dos tempos antigos. Uma coluna imensa que toca mais de um bilhão de almas pecadoras no mundo do mundo. Entre a salvação e seu rei apenas a China com sua igreja católica imaculada por séculos e séculos de distância da realidade européia. Não sinto as camadas do cristianismo assim tão pesadas. Apenas o mal-cheiro que o papa exala em seu leito. Deve, ele, estar tossindo esperando seu fim. O reino de Deus receberá mais um cheque sem fundo... mesmo que tenha que pagar por isso.
Conclave. Entre chaves são tomadas decisões sérias. Entre as chaves dos nossos pensamentos estão os caminhos reveladores que irão compor a decadência de nossa humanidade e, enfim, nascer consciente de que só nós podemos abrir as portas da percepção que muda de não para sim os morais. As vezes a cura para a solidão está nos livros.

23/08/04 - É imenso o avanço das telecomunicações. Além das fronteiras dos DDDs ou DDIs está a internet, o telefone celular digital, seus avanços com a internet e GPRS. Os satélites... e a fibra ótica que não liga os EUA ao resto do mundo. Quem diria: a revolução da internet. Nunca me imaginei tão pensativo sobre isso.
Minha namorada me entende. Ela encontrou minha máquina de escrever. Meu elo com o computador que imprime ao mesmo tempo. Lá existe uma linha de pensamento que cresce com o personagem principal. No meu novo celular eu posso ler mails e os resultados das olimpíadas. Ligo e uso ele para me comunicar. O amor não sabe esperara. Em casa o computador conectado 24horas, sem brincadeira, à rede mundial só transmite mails, rádios de IDM ou reggae. Até que não interessa mais tanta conexão. Fico olhando o telefone fixo aos Domingos pensando com quem gostaria de gastar 25% de impulsos e impostos, o que ouvir e dizer. As escolhas viáveis me distanciam de outras tecnologias, formas de me conectar com o que eu até já esqueci.

Apenas a sinfonia vanguardista do amor me faz querer muito um teletransportador.

O antes do que aconteceu foram cenas animais. As relações entre duas cachorras nunca mais serão as mesmas depois do bull terrier que veio aqui em casa. Cachorro mais idiota. Não é bonito com aquela cara escrota, espremida na genética gritante que atesta sua cara de muitas misturas. O que era aquilo? Minhas cachorras são, uma tão misturada quanto aquele bull terrier, e a outra é uma genética alemã da segunda guerra mundial. A rottweiler foi amada como uma criança para ir contra meus princípios de que ali estava uma genética assassina. O amor mudou isso nela. As duas cadelas tinham sua vida muito simples e tudo girava em torno delas aqui. Ontem veio o tal bull terrier chamado scott. Lixo de bicho? Nada disso. Bem cuidado e criado. cachorro amigo, mas a natureza dele violou a santidade das cadelas. A escrotidão do bichinho se resumiu a hipertensão. Do momento em que viu as fêmeas até a hora em que tretou com elas até o ranger de dentes tudo se resumiu ao instinto. Foi uma observação estranha. Estou acostumado com animais humanizados, quase pensadores e ali eu tinha uma espécie assassina que não tinha olhos pros humanos. Mas seria um assediador sexual voraz de cachorras. Sua tensão passou pras bichinhas e na madrugada a tarde alucinada aliviou toda aquela tensão em um gato.

Ninguém nunca saberá a versão do gato para esta história. Porque o gato viveu depois de apanhar muito de duas cachorras e de ser o brinquedo favorito delas por alguns minutos. Se não fosse o ser humano piedoso e o atestado de vida do gato ainda tentando se libertar das presas babentas da rottweiler, não fosse as sete vidas do b(é)chano um cadáver estaria sendo jogado no lixo pela manhã. A verdade é que deu pena do gato. Salvamos ele com água e apenas afastando as cachorras da diversão delas sob protesto, sob latidos que dobravam o silêncio da madrugada.
O gato deslizava zonzo pela escada que passa atrás da minha casa, rolava os degraus. Teve um surto instintivo e tentou subir o muro, o que faria com muita facilidade normalmente. Deu de cara nos tijolos, tonto e incapacitado. Tinha perdido algumas vidas enquanto seu mundo perdia o chão na disputa canina. Nica puxava a cabeça para um lado. A Tusca puxava o rabo para o outro. O gato era o elástico. Coitado.
Penso muito na minha namorada estas horas. Ela gosta muito de gato. Pensei nela e poupei mais um gato de sofrer sua sina. Vi o bichinho sair pela entrada da frente cambaleando até encontrar o muro e, enfim, descansar um pouco. Assim como não tenho coragem de tirar uma árvore que nasceu em um muro aqui de casa. Essa árvore quis tanto nascer e crescer ao sol de inverno que nasceu nos tijolos, barro, terra, solo, verticalizados de São Paulo. Penso na infiltração que ela causará. Mas penso na vida da árvore e do gatinho. Ambos querem estar vivos e eu respeito esta querência. Obrigado!

26/07/2004 - Na Argentina deve ser inverno. Daqueles bem rigorosos. Estou buscando desenvolver a história que tenho escrito. Minha dedicação está dividida e não tem sido fácil trabalhar com a cabeça. Há o sentimento pleno da saudade. Há também as coisas familiares que me leva a pensar sobre as origens. Enfim, os índios tem tradições que se desenvolvem a mais de 10 mil anos. Daí sinto as familiaridades que me fazem gostar de Picasso, Gaudí, Luís Buñuel, Che Guevara, Ayrton Senna, me permiti a experiência de percorrer os olhos na Amazônia e calar uma longa pergunta e um sonho antigo.
A maior revolução que imagino é pacífica. É um desencargo de consciência dialético e dúbio pela compreensão do todo através de experiências libertadoras e que desafiem nossa capacidade de superar o medo e a vergonha de não ser bem sucedido em tudo o que fazemos. Faz parte do caminho experimentar desilusões, confusão de pensamento e derrotas menores.
O maior samurai de todos os tempos passou mais tempo meditando e pensando no seu livro "O livro dos cinco anéis" do que lutou duelos ou experimentou a própria vida carnal. Seu nome é Musashi.
Daí acontece Kill Bill e todo o vazio é preenchido por serragem. Digo, leve e efêmero filme que nos diz algo sobre o que? Luta.
Bruce Lee brigou tanto nas ruas de Hong Kong que foi orientado por seu pai a procurar um mestre para dosar sua raiva. Mais do que isso orientou a forma de ver o mundo dele. Tanto que ele fundou o Jet Kune Do, arte baseada na eficiência humana sobre as pequenas coisas. Não está em seus filmes. Morreu com ele jovem. Mas ele deixou um livro: O Tao do Jet Kune Do.
Mataram Jesus antes que ele pudesse ter escrito o seu legado. Por isso a bíblia com seus atos de fé as vezes não explica a essência de sua filosofia. Um desvio nas curvas da vida.Ou é culpa da igreja católica dos tempos antigos? Sigo a pensar que a igreja de hoje é como a de ontem. Tem a mesma tradição. E a Argentina merece perder sempre um jogo oficial contra a seleção brasileira. E os amistosos também. Obrigado!

Ao telefone tive um sentimento controverso. Não sabia o que dizer a não ser a verdade. O sol queimava minha testa e foi ali,olhando o prédio de 16 andares à minha frente, que eu recebi a resposta para minha última pergunta divina. Não fosse a vicissitude de fazer tudo certo na hora certa, eu poderia ter criado a ilusão triste que acompanha a má notícia. Mas como a verdade nunca mente me detive em dizer as besteiras justificativas de seres sonhadores contra uma vida simples e apaixonante.
O carinho superando o domínio da surrealidade enfim terminou quando relaxei em frente a televisão bêbado com um pensamento fixo de amor. Jimi Hendrix tocou meu coração porque eu estava aberto, com uma imagem fixa na cabeça e meu ouvido direito queimando. Tinha haver comigo. Eu sei quem, quando e onde estava aquele calor de 1,58m e eu deitado no chÃO sentia todo o peso do oxigênio. Os efeitos mortizantes da bebida tomaram conta da minha corrente sangüínea, mas eu sorria porque estava comemorando mais uma alegria. As dificuldades aparecem e a gente l i d a com elas como pode.
Parece que uma onda de ligações magnéticas passou pela Terra. Inevitavelmente a necessidade de adaptação do homem integra sua intimidade ao caos estabelecido pela liberdade de expressão. Tenho grande interesse em acabar de vez com a mística de meus tempos, a juventude alienada não tem casa no meu caminho. É vital o momento que estou vivendo. Tenho sido o mais verdadeiro homem que posso. Tenho sido feliz em quase todas as minhas decisões. Fui abençoado pela hora inevitável do meu encontro com a minha mulher. Sou grato por ela ser melhor do que fui. Tenho fé que somos seres melhores juntos do que separados. Tenho os melhores amigos. Sou amado por gente de todos os cantos. Não aprendi a negar as coisas com facilidade. É meu melhor momento. O que está a minha frente é um desafio sadio. Da minha intelectualidade brotou uma voz que compartilho. Sou também todo ouvidos e as idéias alheias ficaram mais interessantes. Incisão, inspirar, ler. Passei os desejos por um filtro e uma passagem para a juventude nasceu do que despoluí. Obrigado!

Criar e desenvolver um personagem é uma tarefa árdua de reflexôes comparativas e uma observação da natureza e do cotidiano ricas em detalhes e percepções. Criar um personagem é um caso de amizade, pode ser um caso de amor platônico por uma segunda visão, por um pseudônimo. Desenvolver a personagem requer muita disciplina, conhecimento da vida e paciência. Eis que surgem as idéias rotineiras, depois os arrependimentos e a felicidade é a busca do autor. Uma busca que as vezes é impossível de se alcançar. Um livro.
É insofismável e cabal a relação autor-personagem e não seria justo pensarmos que seria diferente. Por isso adorei pegar ônibus nesses últimos dias e amo mais ainda minha namorada!!!!!!! No ônibus são reais as chances de se deparar com gente de todos os tipos, assim motoristas e cobradores se tornam coadjuvantes de atores naturalmente e as histórias brotam. O transporte ilegal realizado por vans nos mostra que falta trabalho e o povo se vira como pode. Um índio pintado pronto para a guerra, outro índio que sabe cantar os hits da rádio Jovem Pan, o rapaz homossexual que se orgulha de não ser brasileiro e o cobrador que insiste em repetir frases que poderiam estar afixadas na frente da van. Muitos equívocos cinematográficos. Pero sem meios de mudar de vida.
Teve o vestibular que acomete as almas juvenis. Tal como elas estudam, tremem ao se deparar com o vazio do desconhecimento. O vestibular se tornou um monstro arrecadador de dinheiro, gera empregos temporários para os necessitados e imbute a carga do voto em cada item assinalado nos cartões. Um item errado anula um item certo, a caneta preta tinge os espaços que servirão como base comparativa para todos os resultados de todas as provas de todos os alunos. Um em mil novecentos e uns quebrados chances em porcentagens desiguais de cursos e vagas. Lixo!

A IBM fez muito mais pelos nazistas do que pelo Cespe, com certeza.

Foi importante a distância para mim. Foi importante porque deu aquele distanciamento, aquele segundo plano do cinema, o antagonismo das coisas que geralmente estão coladas à nossa vidinha. Foi muito bom. Foi importante para aprender de novo. Confiar mais nos instintos, deixar a prolixidade tomar conta dos espaços vazios do tempo. Enfim, namorar, amar e aprender tudo de novo.
Por isto a distância.
Mas é como aquele infindável sofisma: tudo volta para seu começo, um ciclo de bobagens que me faz pensar no que estou fazendo e com quem eu quero ficar. Para todos os fins, o começo. Tem coisas que ficam muito bem em mim, são meus números e medidas preenchidos pela paciência e pelo encontro da paz, enfim cabe dizer que eu sou um homem de uma mulher e ponto.
Obrigado!

Manifestações naturais de instabilidade caracterizam todo período de transição, mas os efeitos da natureza sobre o que sugerem ser os climas de 2004 não estavam nos planos. Vento, vento, velocidade do vento que se espalha pelo litoral sul e sudeste. Os efeitos da poluição ficam evidentes, todos os gases tóxicos jogados no ar pela cidade de São Paulo se arrastam por mais de 400Km até se dissipar nas pequenas comunidades do interior, onde nascem burros de duas cabeças ou a seca destrói a colheita por falta de ventos frios do Sul causados pelo aquecimento das capitais que atraem as massas de ar, teoria ou não, a verdade é que tudo isso mudou. Meu irmão filosofou que a massa da Terra diminuí desde que começou a extração do petróleo, material de alta viscosidade, que teria papel significativo no peso da região central do mundo. 100 anos depois, toneladas e litros milhões exportados todos os dias fazem com que a Terra pese menos, vibre mais um pouco pela falta de peso e somado ao aquecimento global está 2,2Hz mais vibrante. De acordo com meu mecânico japonês este fenônemo interfere até em nosso condicionamento físico e por isso a explicação de tanto cansaço e indisposição nos dias de hoje. O stress é fruto da incapacidade de nos preocuparmos com as coisas simples e elementares, atribuindo o insucesso muitas vezes ao acaso e falta de oportunidade. Uma senhora no Rio de Janeiro acredita que os homens de hoje não são machos pois usam brincos e colares e não se dão o respeito, cuidam de criança e fazem comida, que os brasileiros são macacos que aceitaram o capitalismo em todo e qualquer lugar, no caso estávamos em um restaurante árabe no Flamengo, por pura preguiça e que seu filho é um grande talento musical que não deu certo por ser autodidata e precisa trabalhar em algo que ganhe mais. Ela, não sei, dizia ser formada em antropologia e história. Me parecia mais uma facista raivosa mal comida atrapalhando nossa refeição e a do irmão dela, coitado, senil pra caralho querendo comer coalhada. Onde que o capitalismo estava inserido em nossa conversa? Sim, nas similaridades entre as regiões norte e sul do país, na consciência anti-norte-americana que existe por onde eu passo, na realidade política que não causa mais tanto medo, mas discussão, em nosso país. Nos filmes que importam como os de Truffault e Goddard, nos filmes do Tarantino também e nos dvds piratas vendidos em todos os lugares. Minha senhora, os camelôs vendem as mesmas coisas no Brasil todo, eu disse. Eu disse que só tendo a oportunidade de conversar com o capixaba e com o manauara para saber que temos os sotaques, o meu de Brásília, parecidos. Diferente é o mineiro, suave é o do recife, as gaúchas que me perdoem, mas minha namorada é linda. Ela me perguntou se eu sabia o que significava antropologia. Eu disse sim, que era a ciência que estudava as culturas e suas relações. De repente anos de estudo fizeram sentido. Uma senhora de 67 anos finalmente pode notar que eu, a juventude, já não sou mais como ela. Acho que ela se sentiu velha pois jovem é quem pensa sempre de acordo com seu tempo e o tempo é já. Todo nosso. Ela me perguntou se eu tinha esperança, eu disse sim. Ela sorriu depois e eu fiz um bem aquela noite. O irmão dela pôde comer em paz enquanto discutíamos e ele parecia o Junior Soprano. A grande sacada foi o telefonema antes da conversa, o amor entre as porcelanas na parede e os quilos que separam as pessoas dos seus acentos diziam saudades. Só o amor me dá coragem para enfrentar o dia-a-dia sem muitas restrições e xurumelas. Obrigado!

A percepção da Amazônia e a análise superficial do Rio Negro que costeia a cidade de Manaus e quase se encontra com o Rio Solimões tem um sentido relativo. O Rio Negro tem por característica a sua cor, efeito da decomposição das folhas da mata que está submersa nesta é poca do ano. Decomposição de quilhões de folhas que abaixam o Ph da água e com isso afastam muitas espécies de peixes incluindo o boto. Tem pirarucu, surubim, tucunaré, piranha negra. Peixe de água doce que aguenta viver na acidez, adaptação da natureza. O Rio Negro é lento, chega a velocidade de 4Km/h e na maior distância entre suas margens chega a profundidade de 110 metros. Muita água pra beber de verdade. O Rio Solimões é totalmente diferente, as vezes é o oposto. Veloz e turbulento, chega a velocidade de até 8Km/h. Por isso sua cor é marrom claro, a velocidade invariavelmente derruba e leva às margens do rio. A vegetação boia em suas águas e muitos peixes, incluindo o boto, nadam por suas águas. Tem cardume de piranha-cará, acho que é isso, pirarucu, tambaqui. Cajuru, o mais temido de todos os seres humanos, peixe minúsculo nada lá também. Por isso, nada de natação. A densidade dos rios impede que eles se misturem. A velocidade impôe o Solimões sobre o Negro, o volume do Negro segura o Solimões. Não há violência alguma que brote do seu encontro, pelo contrário, as vezes bolsões do Solimões ultrapassam as profundezas do Negro e formam bolhas claras na imensidão negra das águas e colorem a paisagem e a passagem das barcas e pequenas embarcações. O Rio Negro é a calmaria do selvagem, é uma mãe mesmo. O tamanho disso tudo é pouco. Quando o sol se põe no horizonte amazônico, sorrindo ante o reflexo do Rio Negro e todas as cores aparecem e desaparecendo pintam de muitas cores a floresta, a terra e o céu, quando a água fica mais escura que o anoitecer tudo é um vazio sem fim. A barca para Parintins sai, os hidro-aviões ficam estacionados e o silêncio está em sintonia com os ruídos da natureza, venta leve de vez em quando e Manaus se torna mais um paraíso na Terra. Às margens do Rio Negro estão 8 metros maiores do que o nível máximo das cheias de Julho. O Rio está em comunhão e muda minha percepção da vida. Se a Terra fosse uma vertical naquele momento o céu e a terra seriam a mesma coisa. De dia e de noite essa impressão marca a mente desperta. Obrigado! Porque isso só acontece na maior conspiração de todas e isso envolve muita bondade e muitas pessoas boas. O amor é maior. Está em todos os momentos do celular, o adereço mais moderno que eu conheço.

29/4/2004 - O inesperado comentário sobre o efeito das vibrações do globo em nossas vibrações e do cansaço físico que essas vibrações nos causam não me causou espanto. O japonês filho do dono da mecânica foi quem, por um breve momento, explicou sua classe de três pessoas o tal efeito. Não me lembro do nome visto que apenas o fato explode as idéias. Na realidade a consciência trabalha com milhões de elementos comparativos assimilados desde o nascimento até que colide com a morte ou invade os raros debates filosóficos ou a solidão de algumas cabeças. Meu carro foi consertado. Além disso, outra coisa. A urgência dos encontros entre o sim e o não está próxima.

Os embalos sonoros possuindo consciência cósmica, o espiritismo absoluto, a fé nos homens abalada pelo sofrimento de milhões de miseráveis. O som do ambiente começa com os primeiros barulhos dos bichos. Depois, os carros em atrito com o asfalto ainda frio da manhã. O céu limpo de São Paulo aparecendo entre os brilhantes raios do sol, tudo dourando as faixadas dos prédios e o telhado de casa. As plantas vibram com o vento e os cachorros podem estar tão cansados quanto possível, afinal ontem elas passaram a noite toda atentas. Alguma coisa estava no ar, era o cheiro de churrasco habitual de quarta-feira onde encontram-se almas torturadas pelo dia-a-dia, como se a vida fosse uma eterna festa à fantasia, entre demagogias e latas de cerveja que mais tarde acusarão o desperdício da classe média. Com certeza o banheiro está limpo, a varanda também. Meu quarto, sempre limpo, é a prova de que mesmo uma festa não pode interromper o sono de muita gente. A polícia, fiquei sabendo, foi acionada duas vezes mas não interrompeu o encontro dos justos. Porque os novos vizinhos do prédio que agora reluz devem respeitar a ocupação da boemia brasiliense, seus quatro anos de história na Pompéia de São Paulo valem como ouro para os policiais da área. Existe respeito entre os cidadãos e já estão encaminhados os preparativos para a anual festa junina da Barão do Bananal onde vizinho bom é vizinho que dança, pode ser velho, pode ser criança, só não pode ficar parado. E a cachaça vai rolar solta antes, durante e depois da feira da Pompéia onde tem yakisoba e cerveja por um real e os peruanos trançam seus fios coloridos pelas ruas estreitas da vila. Uma pessoa pode ter perdido seu vôo entre estas nuances do dia e nada pode tapar o desgosto de seu estômago e a azia dos seus pensamentos. Deus existe em cada gole de bebida, fosse o que fosse que tipo de coisa ingerida... só mesmo a existência de nossa empregada alcóolatra alerta-nos sobre os perigosos desígnios divinos sobre o pecado e a culpa. Ela perde dentes por semana, mas não larga o diabo do copo. E com ela vai uma geração toda de amantes da vida e do calor humano. Todos estão convidados para o arraial. O espírito sai do corpo e deslumbra este dia maravilhoso, é oito de abril de dois mil e quatro, ano domini e apenas através da libertação da alma através da não-violência é que chegaremos a igualdade almejada. Só a chuva lavará nossas pegadas depois do amanhã. Que se faça luzir infinitamente o amor em nossos corações. Obrigado!

A paixão de Cristo - parte II

Quando a sorte dá lugar a confiança e a verdade baba de nossa língua o envolvimento com a resposta do mundo, seu eterno cala a boca, ficam latentes, a sorte possuindo os espaços de ar e as palavras brotam traçando linhas tortas no tempo desramificando o sistema espacial do entendendor e do receptor da comunicação. Jesus tinha um dom, uma missão e um problema. A palavra, seja divina ou não, proferida pelo humano ganha duplo sentido, muitas interpretações, subentendimento das experiências de vida e se torna um enigma. Por isso Jesus seguiu o caminho da fé já não olhando mais para trás, sabendo que a sua frente encontraria inexatidão, falta de compreendimento e fome. Transformar o espaço parecia não ser um problema. Modificar a relação do homem com sua natureza, sim, uma tarefa bastante delicada. Na paixão, dedica-se o tempo a realizar doses de bondade, criatividade , amor, sexo e paixão. Paixão pela vida, dor na realização do que seria a pena de morte dele. E as escrituras não parecem criar o verdadeiro ambiente hostil em que vivíamos. Viviam eles em contradições religiosas? Jesus estava lá para ajudar. A missão toda especial de sua parte nos legou igrejas, muitas traduções e insurreições religiosas, foi impressa e divulgada como nunca e a todos quase atingiu. Missão de salvar os pecadores, divulgar as novas intenções de amor humano, de si para si mesmo, e deixando de lado Deus, objeto financeiro do mundo médio e fruto da discórdia judaica. A salvação viria debaixo de sangue. E o Problema que foi perdurando, atravessando as eras, os ponteiros dos relógios, as rotações da Terra e os ciclos lunares pousando na atual situação de Cristo, exposto às telas de cinema no começo de um novo milênio. A crusada religiosa é eterna sob júdice papal, não se deve abandonar as almas que estão aí para serem salvas. O problema da distância dos fatos, das bases e fontes de estudo e do tipo de vida que se leva constituí parte da sorte de Cristo. Ele poderia ter apanhado mais se tivesse nascido hoje, talvez dissesse YO e entendesse de psicologia reversa. Jesus hoje seria um playboy do Plano Piloto, um pai de santo desmiolado, a cerveja do desesperado, a comida de cachorro e muitas outras coisas essenciais. Jesus seria o amor e nós não o veríamos nem a um palmo de nossos olhos. Enfim, obrigado!

A sorte de Cristo - parte I

Paixão, nos tempos antigos, era substantivo desinencial de sofrimento aliado sempre do amor, final trágico dos tempos do homem. Morreu um, morreram muitos nos tempos de Goethe e nada se falou sobre a linha que une a morte e o amor. A isso se deu o nome de sorte. Pode ser cruel e nascer do mais simples pensamento, pode ser o bater das asas de um inseto no Tibete ou sua invasão gerando anos de divergências políticas e territoriais que fluem energias diversas para nos lembrar de que faz parte da sorte estarmos vivos. A sorte de Cristo foi o azar de todos nós.
Ainda que hoje pareça o pecado a forma mais fácil de reconhecermos que existe a maldade temos um grande fardo de bondade para carregar. Nunca a vida dependeu tanto de energia e soube-se tão pouco sobre a alma e o espírito, visto que as idéias difundidas de Deus tem selo do Inmetro e salas de cinema como templo. Por Deus tem gente enriquecendo e os açoites de Cristo parecem cada vez mais ilusões do que feridas libertadoras. Os pedaços de sua cruz estão distribuidos pelas catedrais, a arquitetura do medievalismo aponta sempre para uma regressão inútil da capacidade humana, a capacidade de esconder a verdade do povo, criar líderes e mártires como oposição do que é justo e fugindo do bom senso nas ações ilícitas da economia. Dinheiro é filho de Oxalá, o que prende a morte para mostrar seu poder e esse poder se perpetua até hoje. Por isso a sorte de Cristo é o nosso azar. Sofrendo pouco, mas muito pouco mesmo pelo tanto que já destruímos de natureza e azedando as insurretas buscas pela liberdade, torturando sempre que possível, bombardeando a urbe ou colocando giletes em bolos de chocolate, está lá o Mc Donald's da guerra e Cristo, assim como Che Guevara, virou estampa de camiseta.
No filme está a marca de Mel Gibson, a sua visão violenta do tema mais lembrado no livro mais lido. Lá, a sorte ainda não tinha desígnios divinos e parecia mais associada a escravidão humana do que ao aprisionamento cerebral e intelectual porque já censurava desde os primórdios a sabedoria do todo. Pelo menos o sofrimento não tinha a esperança como antagonista e um pedaço de terra tinha o seu valor de silêncio. Mas obediência, só a Deus e a sua voz. Nem os sacerdotes tinham a vontade absoluta, por incrível que pareça. Foi o Cristo que iniciou toda a raiva que se acumula no nosso caminho de libertação da alma pois foi dada a ele a missão de nos salvar e nós só fomos salvos das chicotadas aparentemente. No seu legado de dor, os pecados dos quais nos arrependemos. No amor, a salvação. Obrigado!

Quando a gente acorda com vontade de ficar perto de quem amamos o dia fica muito melhor. A distância, apesar de efêmera, também é motivadora, luz de muitas soluções, da saudade que aperta o coração e faz belas melodias ou ilumina os dias chuvosos. Lendo poesias de Neruda ou apenas ouvindo o som dos autofalantes sinto saudades, me sinto um pouco muito querido e talvez no meio de toda crise do inferno astral, pleno. O amor rondando a imaginação é certo, justo e gratificante. Quando a gente acorda com vontade de beijar quem amamos, melhor, mais forte é o sentido da existência e o vazio preenche os espaços esgotados de depressões e asfalto. Nos dias modernos, no contemporâneo da genialidade ou da beleza criam-se vagas para uma realidade paralela onde qualquer sentimento perde sua natureza e vira moda. Por isso, por aquilo e pelo sol o vazio que preenche os espaços é único, atingível e passivo de vivência, passivo por atuação indireta no que decidimos seguir. A atuação é um processo indefinitivo. Intuitivo e criativo, pois quando a gente acorda, respira-se e olha-se e não há nada além do vazio que preenche-se todos os dias. O poço da alma, nenhuma ilusão persistirá.

Não é tarefa fácil dizer o que se pensa. A comunicação é um veículo que exige um locutor e um ouvindo, duas mãos e papel, teclas, as vezes pensamentos não são fáceis de serem pensados. Todo tipo de experiência, de quem fala e de quem ouvi ou recebe, é referencial para toda palavra ouvida ou pronunciada. Coube a alguns oradores famosos a ciência em se fazer entender com palavras ditas, outras escritas. Já distante no tempo haviam meios de incentivar a cultura por meio palavras. Mas hoje os sinais tomaram conta dos espaços comunicativos. A comunicação ficou visual e pessoal em sua essência devido a individualização dos comunicadores, ou nós todos gênios trabalhadores.
Assim pousava a sabedoria e sua amiga comunicação. Quando uma intuia a outra explicava o não dito pelo dito. Ficava sempre aquela impressão de que faltou uma letra ou idéia semi-intendida para quem se dedicava a uma destas ciências. Saber virou um fundamento da selvageria e as vezes supera sua capacidade de poder e vira silêncio. Comunicar é um slogan mal interpretado pelas multidões. Resta-nos a paciência para efetuar a somatória que educará nossas necessidades. A compreensão da mente e do corpo e o espírito que nos comprime a "ser" e divaga no "estar".
É impróprio dizer, mas haja capacidade para explicar a mesma filosofia para a mesma pessoa diversas vezes! Implica paciência e muita ideologia, prática de observação e análise do presente, passado e futuro e integridade moral para defender uma concepção universal em detrimento do egocentrismo que deprime a sociedade branca de nosso tempo. Consumismo até das horas de lazer, recessos para cura do stress mental e ainda defendemos a mesma idéia de que é preciso acreditar em Deus. O importante é fazer a coisa certa e Deus estará ao lado de quem está assim também. Os erros expressam números, milhões de pessoas mortas em defesa de causas menos nobres como terras ou minérios. Um trabalho construtivo tem que estar apoiado na união de quem o desempenha, o soldado, o governador e o general. Na idéia de defender a mesma bandeira, ou a mesma música e concepção artística ou a noção de que nascem-se bebês inteligentes todos os dias e o que é bom hoje pode estar enterrado amanhã. Dizer a mesma coisa muitas vezes é uma perda de tempo horrível, saber que as mesmas tragédias de hoje aconteciam nos leva a pensar no pior. Mas reforça-nos o ideal de que fazer a coisa certa é vital e aprender a dizê-las é fundamental. Saudades da minha nega...

Princípios e fundamentos para um viver melhor. A compreensão da natureza interior e sua interação com outras forças e matérias. Em absoluto definir a intuição e presenciar os atos de amor. Escrever sobre o amor com criatividade. Jogar para aprender. Viver com mais acertos do que erros. Aprender a sofrer e aceitar que a felicidade é presente. Dividir e doar com confiança. Receber de bom grado. Afastar o preconceito dos pensamentos e das pessoas.
Tive a felicidade de parar um pouco de pensar sobre tudo o que me rodiava por mais de um mês. Passei todos os dias deste mês com minha amada porque ela me acalma de verdade. Vi muitas coisas que me agradaram. Outras menos que me desagradaram. Vi muita maluquice tomar conta dos ânimos dos desesperados. Estou sentindo daqui o calor dos seus pensamentos. Na minha orelha direita, que felicidade. O Tao se apresenta sempre com tamanha sutileza e tenta sempre se expressar através da bondade oculta em nossas palavras. No trabalho está o discernimento entre o poder e o que fazer para melhorar a vida das pessoas. No amor está a energia vital para seguirmos sempre em frente.

Obrigado!

As vezes eu não me atrevo dizer coisas que beiram a atemporalidade, à plenitude do indescritível e aos sonhos mais reais que os olhos podem ver. Esteriótipos, arquétipos e simbologias parecem descrever com quase nenhum foco o que acontece nesses momentos sublimes. Sublime e leve e brumoso, quase um sonho de se viver. As vezes me ligam para perguntar coisas sem respostas. As vezes eu vejo o mesmo rosto 20 vezes na platéia, e hoje eu tive um sonho conflitante com minhas dificuldades, os desafios diários de uma mente questionadora e insatisfeita com as condições humanas de ser e estar e pensar e esperar e jejuar e caminhar e se ausentar do complexo ao mais simples movimento aural. Evaporando-se em hidróxidos e carbonizado pelo tempo, há de ser assim a matéria humana. O átomo, o Atmam e o Teh são as imagens da perpetuação cósmica. O Tao direciona sem apontar a direção; meu sonho dizia respeito aos meus medos. Um deles era enfrentar o que chamo de sentimento de entrega. Me entregar completamente a alguém. Como um rio flui, uma gota se espalhou em mim e foi humidecendo minhas dores e meu desconsolado peito. Foi uma vida de espera para estar em mim como uma ela. Antes, nos meus sonhos sobre o medo, eu tentava seduzir as pessoas a minha volta acabando sempre por conquistar alguma mulher e levá-la para algum lugar. A partir do momento em que tudo se relacionava à sexo parecia que eu perdia o controle sobre meus impulsos e tudo fluía desordenado até que eu perdia o total controle sobre mim. No sonho, sempre a mesma posição sexual, a mesma imagem de Monet criando o mundo com muito fogo e paixão. E a perda de controle culminava sempre em desespero e em precipitação. No meu sonho de hoje a mulher tomou uma nova forma. Uma forma menos ameaçadora e mais carinhosa, íntima de meus anseios e coberta dos meus invernos. No sonho ela não me induzia ou eu perdia controle sobre minhas ações, tudo acontecia e se encaixava tão bem... quer dizer, venci mais um dos meus obstáculos diários e ainda tive a chance de explicar meu método de meditação e auto-estima como forma de provar que nem sempre quem fala demais excede em suas idéias. Pena, pena que o que eu penso se reserva as poucas vezes em que eu não ouso falar sobre o que eu acho sobre um momento perfeito. Eu sempre me atento ao barulho do vento. Assim eu sei que a maldade está em perigo. Obrigado! (as vezes o que sentimos está presente em nós desde muito antes do tempo em que nos damos conta de que estamos conspirados ao amor. Eu já estou pleno desde Março).

...até que depois do Ano-Novo fiscal, ao telefone, me pus a pensar sobre mentiras. Mentiras pequenas que por ventura fui criando para acreditar na grandiloqüência do infinitamente distante, do magneticamente perto, mentiras sobre a surrealidade. Bem, se me ponho nos nervos lembro que insisto na verdade, busco sempre estar na direção da certeza dos acertos e dos desvios dos erros. Já faz tempo que tenho vivido uma calma muito boa e cheia de luz, de amor e paixão. Mas me pus a pensar sobre as mentiras, estas pequeninas que acabam distorcendo algumas de minhas fantasias. Um truque muito antigo para suavizar a solidão de antigamente. Um meio termo entre o que nossos ouvidos ouvem e nossa mente quer ouvir. A verdade nunca mente, insisto. E na voz de minha namorada, ao telefone, depois da seguinte pergunta sobre as minhas manias de mentir pensei, busquei com paciência o absoluto silêncio. E lembrei do por que de tudo isso. Era tudo o que eu imaginaria dizer se meu caso de amor fosse um filme, cheio de elegâncias, modéstias e surpresas. Um filme que passa na minha cabeça quando trilho as estradas e os céus do meu dia-a-dia. Uma crueldade com minha sanidade, eu poderia acreditar. Mas não é. É um pedido. Ela me desmentiu e eu, sim, de novo preciso renovar algumas energias sobre o todo. Até porque, ela me desmentiu, mas não totalmente. Porque eu pedi aos motoristas de meu ônibus para dirigirem com cuidado, pedido este feito por minha namorada enquanto eu me punha a sair de tão longe pra casa. Ela me querendo de tão longe e eu longe de poder estar mais perto dela do que eu podia. Eles desaceleraram, mas não por causa do meu resgardo, mas porque foi uma ordem do cliente para o prestador de serviço. Enfim, saber que eles zelavam pela minha saúde por uma ordem do amor é a melhor causa para se começar uma conversa. Fui desmascarado, não me envergonhei, assumi prontamente que estava exagerando, daí a conversa foi pra outro lado e eu me passei por um quê de misterioso comigo. Assim, comecei meu ano em nova avaliação do todo, como um começo de um meio, de um fim inesgotável de energia que tende ao infinitivo das palavras. Quando ouço sua respiração leve ao dormir e tenho em minha mãos a suavidade de sua pele apenas torço para adormecer sorrindo, nu em todos os sentidos tendo que lhe deixar a mercê da ressaca e voltar à rotina. E enquanto conto os dias ao contrário e me dedico ao próximo disco, espero, penso e jejuo. Com aquela saudade estampada em meus olhos, no fundo quase sem brilho dos meus olhos quando estou longe de mim. Longe de você.

Estava assistindo Drácula, de BramStoker ontem. Nas aparências e simbolismos daquela figura turca, na mitologia dos monstros e nos deuses tapa-se os vazios da alma. Uma transformação ocorreu na sala, as luzes cessaram e o vento soprou até começar a chuva. No verão a chuva cai com uma força revigorada. A força do vento balançava os galhos da árvore em frente a minha casa, ela batia nos fios elétricos que batiam no poste. O prédio a frente já estava todo apagado, pudera, já era mais de meia-noite. Os sons dos carros foi dando lugar as leves jorradas de água ao luar. Me prometeram uma lua quase cheia. Eu não tive olhos para enxergá-la por aqui. Estou no meio de uma varanda profundamente escondida entre um muro e um edifício. A rua é uma ladeira íngrime e eu me coloco sempre em posição angular aguda com relação ao solo depois de pensar e refletir. Ouvi os soluços de uma voz fina ecoando em meus pensamentos, na verdade eram as lágrimas que caiam de alguma personagem do filme, talvez fossem apenas gritos ou mordidas. Lembrei dos meus impulsos e aceitei que estava sozinho na sala de televisão. A chuva não me traria nem calor e nem carinhos. As rajadas de vento aumentavam junto com a saudade, o breu da varanda era uma clara visão. Todos dormiam aquela hora. Eu estaria dormindo também se não fosse pelos sonhos que tenho tido. Che Guevara e Huxley estão delirando sobre meus primeiros dias do mês. Muitas incertezas no trabalho, o sono se acumulando em minhas veias. Quem sabe as coisas continuam mudando. Obrigado!

2003
1