O boom da longevidade
 



No século XX, a ciência e a saúde passaram por transformações revolucionárias. Certamente é um período que ficará conhecido como um tempo de avanços significativos para a vida do homem, que acarretou em outros paradigmas para o seu cotidiano, já que a grande mudança do perfil etário foi uma das mais importantes conseqüências ocorridas no mundo. "A expectativa de vida média do homem subiu consideravelmente nesse século, muito próximo daquilo que se elevou nos 19 séculos que o precederam", diz Wilson Jacob Filho, professor de geriatria da Faculdade de Medicina da USP. Aliada a maior longevidade, as pesquisas também trazem boas perspectivas para o homem, especialmente no campo da biologia molecular, fato esse que ganha a cada dia maior notoriedade, especialmente pelas especulações sobre o controle de patologias que desafiam a medicina.

Muitos foram os fatores que geraram todas essas alterações no quadro social e estão ligados principalmente às melhorias das condições de saneamento básico, como cuidados com higiene e saúde pública, terapêuticas efetivas de muitas doenças infecto-contagiosas, diminuição do índice de fecundidade e de mortalidade entre outros. Associados a tudo isso, a indústria farmacêutica com a antibioticoterapia e a imunização das populações também ajudaram a reduzir drasticamente a morte precoce no século XX e traçou um novo panorama ligado a um maior envelhecimento das pessoas.

As características de uma população mais velha também provocam ressonâncias de caráter socio-econômico e devem assinalar para um melhor preparo dos sistemas de saúde para atender a essa demanda assim como um atuação médica diferenciada. "Nós da saúde temos que ter claro os objetivos, por isso precisamos definir bem o que queremos para o idoso e promover uma boa saúde para eles", diz o professor, ressaltando ainda que as atenções aos idosos devem ser detectadas de acordo com as prioridades e adequadas às necessidades loco-regionais.

Só o Brasil, por exemplo, daqui a vinte anos terá 17 milhões de habitantes acima de 65 anos. Para atender a maior parcela longeva e oferecer melhores serviços de saúde, a promoção e prevenção com saúde são frentes a serem trabalhadas mais intensamente, porém há necessidade de se conhecer melhor o idoso assim como oferecer outra forma de inserção social e a área médica terá uma grande responsabilidade com esse contingente. "A medicina está fascinada e assustada com esse novo universo", diz o médico.

Porém, o desafio da ciência no que se refere a longevidade vai ainda mais longe. As pesquisas com diversas doenças ligadas ao envelhecimento e com patologias mais prevalentes adquirem um precedente maior ligado ao futuro com conhecimentos mais aprofundados de saúde e especialmente no campo da biotecnologia. "Sem dúvida existe um programa genético para o envelhecimento, mas eu diria que a engenharia genética está numa fase anatômica dos genes. O interesse agora é identificá-los no processo de envelhecimento natural e patológico, elucidar o funcionamento e tratar patologias. Futuramente podemos até pensar em terapias gênicas", diz a Dra. Marília Smith, geneticista da Unifesp. Em seus estudos aborda denominadores comuns do processo de envelhecimento e acredita numa atuação médica atrelada a medidas mais efetivas. " Provavelmente o século XXI terá uma fração populacional de idosos com mais de 65 anos ao contrário do XX, que foi mais jovem", completa a médica.


Danilo Tovo

(Revista Médico repórter/número 11/dezembro de 1999)


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