Uma pesquisa brasileira acaba de revelar o grau de estresse no casal brasileiro infértil. O estudo, realizado no Centro de Reprodução Humana da Maternidade Sinhá Junqueira de Ribeirão Preto (SP) pelo médico José Gonçalves Franco Jr., livre-docente em ginecologia e obstetrícia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo - campus de Ribeirão Preto/USP, aponta a ansiedade, depressão e irritação como algumas reações próprias de casais que não conseguem ter filhos, principalmente quando questionados sobre a demora da gravidez. A pesquisa, elaborada com 200 casais brasileiros, observou a elevada preocupação dos casais com o teste de gravidez e o nível de estresse três vezes maior das mulheres. Das entrevistadas na pesquisa, 82,8% disseram ficar angustiadas durante essa etapa. Quando descobrem que não engravidaram, 74,7% ficam deprimidas. Quanto aos homens, 18% ficaram deprimidos após saber da chegada da menstruação de suas mulheres. Outro fator estressante, de acordo com o estudo, é a cobrança de amigos e familiares e 36,2% das mulheres e 22,7% dos homens relataram incômodo diante da pergunta a respeito da ausência dos filhos. Infertilidade afeta o lado psicológico de casais Vários aspectos demonstrados por essa pesquisa ilustram como as dúvidas com a infertilidade conjugal compõem uma vertente importante na vida de casais causando tantas incertezas para os envolvidos.
"A infertilidade conjugal acarreta uma carga emocional grande, aumenta a ansiedade e muitos casais ainda postergam a procura por tratamentos especializados", diz Luiz Eduardo Albuquerque, médico da Associação para o Estudo da Fertilidade e do Hospital Pérola Byinton, em São Paulo. Contudo, a adoção de novas técnicas, maior envolvimento e conscientização dos pacientes esboçam um novo quadro de casais que têm dificuldades para ter filhos. Enquanto era tabu, hoje fertilidade significa lidar com maiores conhecimentos médicos ao lado de outras tecnologias aplicadas à natalidade. Faixa etária da mulher define chances de gravidez Conseguir ter filhos não é uma tarefa tão fácil quanto se imagina. Para exemplificar, um casal de trinta anos, mantendo relações durante o período fértil tem, a cada mês, uma probabilidade em quatro tentativas de engravidar. Ou seja, apenas 20% de chances regularmente. Por isso quando a gravidez não ocorre nas primeiras tentativas trata-se de um fato clínico relativamente normal, mas outros fatores podem contribuir para as deficiências de se conseguir ter filhos sem ajuda médica. A idade da mulher é uma das questões mais relevantes quando se fala em ter filhos, pois com o avanço da idade a ovulação feminina se altera significativamente e as chances de engravidar se tornam reduzidas com o passar dos anos e diminui muito a partir dos 35 anos. "O fator idade da mulher é definitivo e devemos deixar o casal ciente de toda a situação e estabelecendo uma participação conjunta e bem próxima de todos. O tempo para a gravidez também é relativo e o diagnóstico detalhado é fundamental", diz Albuquerque. Problemas podem atingir homens e mulheres Os transtornos com a infertilidade podem ter outros fatores, que podem ser associados a problemas masculinos (como alterações na quantidade e na qualidade de espermatozóides, desarranjos hormonais, varicocele etc.), a problemas femininos (por exemplo ovulação irregular, endometriose, infecções do trato genital etc.), de ambos ou não ter causa aparente. Portanto, com a infertilidade a avaliação da causa é uma questão definitiva para se objetivar a gravidez e inclusive para se propor um tratamento adequado e viabilizar a melhor orientação ou técnica de reprodução a ser empregada. "A investigação precoce é indispensável", diz o médico Vicente Abdelmassih, do Centro de Reprodução Humana de São Paulo, que alerta para a necessidade de se estabelecer critérios com cada casal antes de qualquer procedimento, pois os custos podem ser elevados e as chances de êxito precisam ser estudadas detalhadamente. "As tentativas com infertilidade podem ser desgastantes e a terapia de repetição, um problema para todos", diz Abdelmassih. Uso de técnicas dependem de prévia avaliação Os principais tratamentos partem, em geral, do coito programado, que é o mais simples e pode ser feito através de medicamentos para estimular a liberação de óvulos. Depois, os mais complexos incluem a inseminação artificial, fertilização in vitro (bebê de proveta) e ICSI - injeção intracitoplasmática de espermatozóide - entre outras. Todas essas técnicas de reprodução assistida dependem de ampla avaliação do quadro geral da saúde do casal antes de serem executadas e muitos requisitos devem ser levados em conta para que a gravidez seja bem-sucedida, tais como tempo de infertilidade, idade da mulher e o acompanhamento especializado, os quais devem ser priorizados para quem procura por atendimento médico para se ter filhos hoje em dia, fato que pode ser concretizado com mais facilidade e inclusive com atendimentos em vários centros de reprodução assistida, sejam públicos ou privados. Danilo Tovo www.bancoreal.com.br/medico - mai/2002 |