Medicina baseada em evidências
 



O debate sobre medicina baseada em evidências vem se tornando cada vez mais notável nos últimos anos. Em torno dessa pauta, algumas resistências são enfrentadas diante de outros modelos de atuação, já que essa aplicação se insere numa mudança de comportamento médico, o que vem adquirindo ressonâncias na área médica e se difunde mediada pelo desenvolvimento de uma permanente capacitação de médicos.

Nota-se, também, que falar em medicina baseada em evidências é rotineiro no meio médico atual. "Primeiramente não é uma novidade e nem resolve todos os problemas. Isso não pode ser estrito e agora é um modismo falar sobre o assunto", critica Antonio Carlos Pereira Barretto, diretor do serviço de prevenção e reabilitação cardiovascular do Incor, em São Paulo. Relacioná-la como um conceito "novo" é um equívoco, já que existe desde o século 19, mas hoje em dia a sua propagação é expressiva e ainda gera polêmica.

Seus princípios e diretrizes são relevantes à medida em que o conhecimento médico torna-se comum para boa parte da categoria, que depende de estudos criteriosos de publicações para então se apropriar de uma evidência clínica constatada. A formulação de questões, a localização e avaliação das informações disponíveis na literatura e a utilização através de decisões clínicas, em resumo, norteiam a medicina baseada em evidências. Além de fundamental, a base científica se vincula a dados epidemiológicos e bioestatísticos, um rigor na apreciação dos estudos e muito mais. A padronização dessa prática médica, que absorve áreas distintas, tem uma dinâmica constante e para ser incorporada a condutas pertinentes. "Queremos disseminar os conceitos de cardiologia baseada em evidências para que o médico saiba analisar a informação existente para que se transforme em conhecimento médico, e possa ser incorporado na prática clínica beneficiando, assim, os pacientes", sugere o Dr. Álvaro Avezum Jr., cardiologista do Instituto de Cardiologia Dante Pazzanese, de São Paulo.

Uma mudança na postura e uma dose metodológica participam do conteúdo da medicina baseada em evidências, que abrange ainda o conhecimentos multidisciplinares e inclusive a relação de conjunturas econômicas associadas à prática médica. "O objetivo é que o paciente receba um tratamento mais adequado e nisso tem custos envolvidos", reforça Avezum. No entanto, boa formação, eficiência e até a limitação diante da interpretação correta das leituras compõem um quadro dessa medicina.

Apesar de não se mensurar com precisão o que representa a medicina baseada em evidências, seu significado pode estar diante das perguntas que a prática aponta e a ciência determina com terapêuticas mais seguras. "É importante que os médicos não pautem todas as condutas com atitudes com 'eu acho' e que se eduquem para ler bons artigos", sugere Barretto, ao mesmo tempo em que merece maior atenção o teor do que se lê e do que se faz nos procedimentos clínicos e cirúrgicos. "A resultante final é o paciente ser bem diagnosticado. Entretanto, a medicina baseada em evidências não garante 100% de acerto, e sim limita drasticamente a quantidade de erros", completa o Dr. Avezum.


Danilo Tovo

(Revista Médico repórter/número 7/agosto de 1999)


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