Curiosidades 

 
  
Em Brasília, no final da década de 60 e início dos anos 70 começaram a se desenvolver, com maior intensidade, as atividades automobilísticas na cidade. E foi nessa época que Nelson teve suas primeiras experiências importantes em corridas, competindo com kart. Diz Piquet:  
- Teve um ano em que pararam de fazer corridas de kart em Brasília. Eu tinha um kart com motor Parila importado e o pessoal de Goiânia me convidou para correr lá. Eu não estava querendo mais correr em Goiânia. Eu ia lá, ganhava tudo e me davam um troféuzinho de visitante muito modesto enquanto os pilotos da cidade ganhavam troféus grandes porque era prova local. Mas essa era uma corrida longa. No início não queriam me deixar correr. Depois concordaram porque meu tanque de combustível era de apenas 5 litros e acharam que eu perderia muito tempo nos reabastecimentos, já que os outros tinham tanques com capacidade bem maior. Acontece que meu kart era mais rápido e consumia bem menos. Eu liderava tranquilo, parava, voltava à corrida, recuperava a posição. Os goianos ficaram loucos e arrumaram uns caras para me bater. Acabei brigando e me desclassificaram. Eu e uns amigos de Brasília espalhamos gasolina e ateamos fogo no palanque no momento em que o prefeito fazia a entrega dos prêmios. Foi aquela correria. (Marcio Adriano) 
 
Em 1974, Nelson Piquet disputou o campeonato brasileiro de fórmula Super Vê. A quinta etapa em Cascavel, foi desastrosa. O grid de largada foi definido por sorteio porque o equipamento eletrônico da cronometragem oficial havia quebrado. As duas primeiras baterias foram amplamente dominadas por Julio Caio de Azevedo Marques. Nelsinho terminou as duas bem distante, ficando a 12 segundos de Julio Caio na soma dos tempos. A decisão ficou para a última bateria mas era praticamente impossível descontar a diferença. Só mesmo se Julio Caio quebrasse ou... batesse. 

Durante toda a terceira bateria Julio Caio veio brincando com Nelsinho. Ele usava uma primeira marcha mais longa que os demais concorrentes e, numa curva para a direita, que antecede a curva que se liga à reta dos boxes, sua saída de curva era sensivelmente mais rápida. Nelsinho andava no limite para encostar em Julio Caio e conseguia sempre fazê-lo naquela curva. Mas na saída da curva perdia terreno. Cada vez que Julio Caio saía da curva "acenava" para Nelsinho. Embora jamais tenha confessado é fácil concluir que os "tchauzinhos" de Julio Caio o irritaram profundamente. E Julio Caio pretendia levar a brincadeira mais longe. 

Na última volta, depois de passar por aquela curva, Julio Caio simplesmente desacelerou e esperou Nelsinho. Queria cruzar a linha de chegada lado a lado. Percebendo a desaceleração do carro da frente e, vislumbrando a possibilidade de uma ultrapassagem, possesso, Nelsinho "afundou a bota". Julio Caio contornou a última curva mais lento que o normal enquanto Nelsinho tomou a curva muito acima do limite, disposto até a passar por cima de Julio Caio. E foi o que fez. Bateu na roda traseira do carro de Julio Caio, arrancando-a, juntamente com a suspensão e outros pedaços do carro. Foi uma chegada tragicômica. Nelsinho cruzou a linha arrastando-se pela grama, com uma roda dependurada, obrigando o diretor de prova a voltar-se para fora da pista no momento da bandeirada. Julio Caio, sem uma roda traseira, ficou parado cinco metros antes da linha de chegada. 

Confusão geral. A maioria dos cartolas levantou-se em defesa de Julio Caio. Afinal, quem aquele "candango pretencioso" pensava que era? No final das contas ainda "deram um jeitinho" de colocar Julio Caio na segunda colocação, ficando a vitória com Nelson. À noite, na entrega dos prêmios, o pobre Nelson apareceu na solenidade calçando dois tipos diferentes de sapato. "É que os pares certos estavam ruins demais." - justificou Piquet. (Marcio Adriano) 

 
Cena 1 - Em 1974 quando foi inaugurado o autódromo de Brasília, designaram um garoto para limpar o capacete de Carlos Reutmann. Quando o garoto lhe entregou o capacete, o Reutmann olhou para o capacete e disse: "Garoto você não serve nem para limpar meu capacete" 

Cena 2 - Em 1981 Piquet ganha o seu primeiro campenonato em cima de Carlos Reutmann, vira para ele e diz: "Para limpar seu capacete eu não sirvo, mas talvez você possa limpar o meu que é de Campeão Mundial". 

 
Em sua corrida de despedida da F-3, em Silverstone, que venceu, Nelson recebeu um elogio de Jackie Stewart: "Tenho certeza de que no próximo ano você estará festejando uma vitória com aquela enorme garrafa de champanha que os pilotos ganham na Fórmula-1." (Marcio Adriano) 
 
Em uma entrevista concedida à revista Auto Esporte, Nelson respondeu uma pergunta que demonstra o nível de talento, de originalidade e de consciência profissional que já possuía antes mesmo de se tornar um piloto de Fórmula 1. Perguntou o repórter: 

- Que conselho você daria a quem vai começar a correr de F-3, agora?" 

A resposta de Nelson: 

"Antes de pensar em acelerar como um alucinado, tentando vencer no braço, no talento natural, pensar um pouco mais na parte mecânica, nos acertos. Por exemplo, convencionou-se que na chuva o carro deve ter mais barra, aerofólio e toda a pressão aerodinâmica possível. Em Silverstone, um circuito de alta velocidade, com três grandes retas, todo mundo fazia isso. Um dia, apareci em plena chuva com aparato de um carro acertado para o seco. Tirei toda a pressão aerodinâmica. Riram na minha cara. Larguei e, nas duas primeiras curvas, fazendo bem devagar, um monte de gente me passou. Nas retas, eu passava por eles como um foguete até que peguei a dianteira e fui abrindo lentamente. Acelerava nas retas e fazia as curvas bem devagar, com todo o cuidado. Foi talvez a minha vitória mais fácil. (Marcio Adriano)

 
Pouco depois de sua primeira vitória na F-1, Nelson fez esta declaração à revista Auto Motor:  
"Não é fácil descrever o que senti. Desde as últimas voltas da corrida, quando parecia estar com a vitória garantida, mas poderia, a qualquer momento, acontecer alguma coisa com o carro, até que subi no pódio para receber o prêmio e o Emerson me abraçou. Senti vontade de chorar, é claro, mas há um pensamento mais forte do que tudo isso: o de que estamos lá para passar por esses momentos, estamos trabalhando para chegar a isso, e temos que acreditar que virão muitas outras vitórias. Eu não sou nada frio, sinto plenamente todas as emoções de uma vitória como essa, mas tenho que ver a coisa como parte de um todo. Daqui a pouco, estarei com duas, três ou mais vitórias, e vai haver coisa mais importante a ser conseguida." (Marcio Adriano) 
 
Para chegar a uma vitória na Fórmula-1, o piloto deve contar com todos os recursos possíveis - e também com os inimagináveis - do seu carro ou do circuito. Mas Nelson Piquet exagerou no GP do Brasil disputado em março de 1981 no Autódromo de Jacarepaguá. Pole-position numa largada autorizada momentos depois de forte temporal, Piquet pensou que contaria com a ajuda de São Pedro e apostou que não choveria mais. 

Dos 24 carros alinhados a espera do sinal verde, somente um não estava equipado com pneus para chuva: o Brabham de Nelson Piquet. Dada a largada, o argentino Carlos Reutemann, o piloto da Williams, assumiu a liderança logo nos primeiros cem metros. E mais: ao completar a primeira volta Piquet já ocupava o modesto décimo-segundo lugar. Para desespero de Bernie Ecclestone, dono da equipe Brabham, e de milhares de torcedores. 

Piquet deu um breve sinal de recuperação quando a pista começou a secar, na metade da corrida. Pulou de décimo-segundo para oitavo lugar. Mas como a chuva ia e voltava, retornava a posição anterior, na qual terminou a prova. com duas voltas atrás de Reutmannn, o vencedor. No boxe, irritadíssimo, Encclestone disse: "Foi a decisão mais estúpida que já vi na história da F-1". Piquet respondeu: "Apostei e perdi. Se tivesse dado certo, o Bernie me carregaria nas costas aos gritos de meu piloto é um gênio". 

 
GP de Mônaco, 1981, sábado pela manhã. Na pista, os carros já rodavam no treino não-oficial (aquele antes da tomada de tempos para o grid). De repente, um corre-corre no boxe da Brabham: 

- Mas onde está ele? Afinal, onde ele se meteu? 

Aos berros, o todo poderoso Bernie Ecclestone (então dono da escuderia) perguntava por Nelson Piquet. E nem sombra do piloto nos boxes... 

Alguém se lembrou, enfim, de telefonar para o hotel. O telefone tocou uma, duas, três vezes; somente na quarta uma voz resfolegante o atendeu: 

- Alô, Nelson, o que houve? O treino já começou! - alerta, preocupado, Gordon Murray, o engenheiro da equipe. 

- Sabe o que é? - começou a explicar Piquet. 

- O que é o quê? - interrompeu, enfurecido, o próprio Ecclestone, tomando o aparelho das mãos de Murray. 

- A princesa, Bernie. É a princesa... Você não quer que eu a deixe na mão, né? 

Ainda que contrariado, Bernie não quiz. E no treino da tarde, agradecido, Piquet cravou a pole-position, quase um segundo a frente da Ferrari de Gilles Villeneuve. 
Para orgulho de Ecclestone e da princesinha, que, sonolenta, no quarto de hotel, entre perfumadíssimos lençois de seda, aguardava o nosso ás para mais uma flying lap... (Renato Maurício Prado) 

 
Para um jornalista da revista Auto Esporte Nelson disse pouco antes da prova de encerramento do campeonato de 83, na qual conquistou o bicampeonato: "Se vencer o campeonato vai ser sensacional. Se não vencer também está bom. Pelo menos não vou ter que enfrentar aquele monte de jornalista que cerca um campeão mundial." Nelson nunca disfarçou o fato de se sentir incomodado com o assédio da imprensa e de conversar enquanto está trabalhando. A princípio se dizia que ele não gostava apenas dos jornalistas brasileiros. "Não gosto de jornalistas brasileiros assim como não gosto de jornalistas de qualquer outra parte do mundo", afirmava. (Marcio Adriano) 
 
A coisa que mais deixa Nelson irritado é pergunta cretina, do tipo: "Você está com vontade de vencer hoje?" A resposta do bicampeão para tal pergunta bem poderia ser algo como: "Não, hoje estou com vontade de chegar em 15º." E por incrível que pareça essas perguntas são bastante comuns, principalmente por parte de jornalistas não especializados e curiosos. "Vai dar para ganhar hoje, Nelson?", perguntou um repórter da TV Globo. Nelson respondeu: "Eu não sou mago, sou piloto". Um grupo de pessoas em torno do piloto fazia perguntas de todo tipo ligadas ao automobilismo e Nelson respondia pacientemente a todas. Falou sobre o macacão, explicando que é muito quente... até que alguém perguntou: "Mas não existe um sistema de ventilação não?" Nelson se mostrando chocado e inconformado com a pergunta, respondeu ironicamente: "Tem sim! Eu levo um aparelho de ar condicionado dentro do macacão." Qualquer pergunta sem objetividade ou que revele total desconhecimento do assunto receberá de Nelson uma resposta, no mínimo, irônica. (Marcio Adriano) 
 
Uma das contribuições do Piquet para a Fórmula-1 foi na troca de pneus. Para não perder tempo aquecendo os pneus após a troca (andar mais devagar) mantinha os pneus aquecidos com cobertores elétricos. Hoje isto é usado no mundo inteiro. 
 
E ainda fez mais: o abatecimento durante as corridas. Para o desenvolvimento do fantástico Brabham, juntamente com o Bernie Ecclestone reduziram o tamanho do tanque de combustível, visando diminuir o peso do carro e consequentemente a velocidade. Pelos cálculos do Piquet o tempo que ganhava rodando ou "mais leve" compensava o tempo parado no box. Mais uma vez ele estava certo. 
 
Para tornar o Brabham mais competitivo, prejudicaram muito a posição do piloto. Nelson era obrigado a dirigir de lado, forçando o coluna, principalmente durante as curvas. Como conseqüência deste esforço, e dedicação, provocou danos na musculatura das costas, o que o obrigava a sessões de massagem diárias para aliviar a dor. 
 
Nos treinos para o GP da Áustria de 1984, já no segundo dia, o Piquet encosta no boxe e diz para o Murray: 

- Tira a 1a., 2a. e a 3a. marchas. 

O Murray coçou a cabeça e obedeu. Piquet voltou a pista e fez o tempo mais rápido marcando a pole. Depois do treino, o Murray não se aguentando chegou para o Piquet e falou: 

- Tá bom, tá bom eu sei que tirando as marchas o carro fica mais leve, também sei que neste circuito elas são desnecessárias durante as voltas, mas o que eu não consigo entender e como você sabia que o carro iria sair de quarta? 

No que retrucou o Piquet: 
- Pô cara, foi a primeira coisa que eu fiz hoje de manhã foi sair de quarta para saber se dava. 

 
Em 1985, estimulou uma aposta de 10 000 dólares entre Ron Dennis, dono da McLaren, e Bernie Ecclestone, então chefe da Brabham. Denis garantia que iria roubar o piloto da Brabham. Ambos desconheciam, no entanto que o brasileiro já havia assinado contrato com a Williams. 
 
O lance da despedida de Piquet da equipe Brabham não poderia ser outro. Aconteceu no dia do GP da Austrália, última corrida de 1985. Terminada a corrida, aconteceu aquele clima de fim de temporada com os pilotos e mecânicos brincando com o público australiano. Piquet teve a idéia, combinou com os mecânicos da Brabham e eles fecharam a porta do box, enquanto o público gritava o nome de Piquet. Em seguida, a porta se abriu e todos estavam de calças abaixadas e de costas para o público. Todo mundo riu. Mas era a despedida de sete anos de risadas gostosas que Piquet e seus amigos da Brabham deram juntos, e que por isso sempre foram chamados de a equipe mais alegre da Fórmula-1. 
 
Na Bélgica, perguntado qual a razão do seu carro quebrar durante os treino. Para cada jornalista estrangeiro ele respondia diferente: Foi o câmbio, foi o motor, foi a suspensão. Quando um jornalista brasileiro perguntou porque ele respondeu diferente para cada jornalista estrangeiro, Piquet disse: 
- Ele vão contar tudo para o piloto do país deles, então que se lasquem! 
 
Essa é mais uma das desavenças com o Mansell. Tem também a história do Panaca. Toda vez que cruzava com o inglês, Piquet o saldava todo alegre a amigável dizendo:  

- Oi panaca. 
O Mansell ficava todo alegre e bobo com a saldação "amistosa". Um dia perguntou aos jornalistas brasileiros que trabalhavam na Fórmula-1, o que siginificava Panaca. Quando soube, foi outro bate boca entre os dois com Piquet rindo a beça. 

 
Numa entrevista a "AutoSprint", Nelson comentava o final da sua brilhante carreira: 
- Depois do acidente em Tamburello, em 87, tudo mudou. Ainda consegui conquistar o título naquele ano porque fui mais inteligente do que o Mansell. Passei a correr taticamente e acumulei pontos. Mas a verdade é que depois daquela tremenda porrada - bati com a testa no muro! - nunca mais fui o mesmo. Perdi o feeling da distância da curva. Passei a guiar ansioso, procurando as placas que me mostravam quantos metros faltavam para cada curva, para então decidir quando frearia. (Renato Maurício Prado) 
 

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