Grandes Disputas e Amizades
Por toda a história da humanidade, homens brigaram. Escritores, sendo humanos o fizeram também. Aqui nesta parte do site reuno algumas das disputas entre escritores que passaram para história. Mas cuidado: nem todas tiveram muita classe. Por outro lado, muitos desenvolveram profundas amizades que passaram a história.
Pêro Garcia Burgalês vs. Rui Queimado
Não se sabe muito sobre esta disputa. Tudo o que se sabe é que Pêro Garcia Burgalês escreveu uma cantiga de escárnio de um seu rival, Rui Queimado. Para ler esta cantiga, aperte aqui.
Resultado: Ao mesmo tempo pífio e proveitoso: uma Cantiga de Escárnio composta por Pêro Garcia Burgalês.
Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa
A dupla de célebres escritores do Arcadismo brasileiro, Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa, era famosa. Os dois davam as melhores festas, faziam as melhores poesias e só competiam (amigavelmente) quanto a quem mais louvava sua musa.
Resultado: Trágico. A amizade dos dois foi o fator que levou TAG a ser preso durante a Inconfidência Mineira, impedindo seu casamento com sua "Marília de Dirceu" e CMC se suicidou na cadeia um dia após a sua prisão (ele era culpado).
Pompéia vs. Bilac
Essa foi um pouco mais feia. Em 1892 um artigo assinado com o pseudônimo de Pierrô - publicado sob a responsabilidade e possível pena de Bilac - acusava Raul Pompéia do seguinte "Ele sofreu amolecimento cerebral de tanto masturbar-se contando as tábuas do teto." Pompéia, tímido e sempre com dificuldades com as mulheres revidou dizendo que "Bilac é um tipo alheado do respeito humano, marcado pelo estigma do incesto.", já que Bilac dizia que não precisava de filhos por ter o sobrinho.
Resultado: Os dois marcaram um duelo de espada para resolver o assunto, mas a turma do deixa disso interviu a tempo. Mas os dois nunca se reconciliaram e Pompéia acabou se matando (e este foi o começo, já que quando Pompéia morreu havia sido abandonado pelos amigos e caluniado muito na imprensa) três anos depois.
Ramalho Ortigão e Eça de Queirós
Ambos se conheceram no colégio interno da cidade do Porto e se tornaram amigos. Ramalho Ortigão ensinou Eça de Queirós a gostar de literatura e a falar francês.
Resultado: O Mistério da Estrada de Cintra, um livro escrito em conjunto pela dupla.
José de Alencar vs. Gonçalves de Magalhães
Em 1856, Gonçalves de Magalhães sabia que tinha um sucesso nas mãos: Confederação dos Tamoios. Foi seu fracasso. Sob o pseudônimo de Ig, José de Alencar massacrou a obra num gesto corajoso (ele era um novato na época) por causa da diferença de visão dos dois quanto aos indígenas.
Resultado: Ganhou Alencar. Sua visão prevaleceu durante o Romantismo e Gonçalves de Magalhães hoje é considerado um poeta medíocre.
Aluísio e Artur Azevedo
Ambos eram irmãos. Fim da história.
Resultado: Mais fama para a família (que sofria de um terrível caso de má fama, já que os pais foram morar juntos antes do casamento).
Eça de Queirós vs. Machado de Assis
Machado de Assis e Eça de Queirós tiveram mais classe. Machado, após ler O Primo Basílio (escrito por Eça) escreveu que "a Luísa é um caráter negativo e, no meio da ação ideada pelo autor, é antes um títere que uma pessoa moral" ao se referir a uma das personagens.
Resultado: ambos não se conheciam antes e estavam separados por um oceano, mas desenvolveram uma amizade alimentada por muitas cartas e produziram algumas das maiores obras-primas da literatura lusófona.
Bernardo de Guimarães e Álvares de Azevedo
Estes dois eram amigos, muito amigos. Apesar do que alguns dos biógrafos mais conservadores de Álvares de Azevedo (figura ao lado) tentam esconder, ele e Bernardo de Guimarães pertenceram a Sociedade Epicuréia, um grupo boêmio de jovens intelectuais que pretendia instalar a boêmia byroniana em São Paulo, onde cursavam o curso de Direito.
Resultado: Ambos viveram uma vida devassa (epicurista significa "aquele que segue os ensinamentos de Epicuro" e "aquele que busca prazeres sexuais"), em altas orgias pelas noites. Álvares de Azevedo morreu jovem (20 anos de idade), mas Guimarães manteve o estilo de vida mesmo quando já era juiz.
Esta famosa disputa literária ocorrida em Portugal nos anos de 1865-66 é um marco em sua literatura. Tudo começa quando Antônio Feliciano de Castilho critica em uma carta-prefácio a nova geração de poetas, especialmente Antero de Quental e Teófilo Braga. Os dois respondem com outros poemas instigando o sentimento contrário às tradições românticas, políticas e religiosas. Isso faz com que os intelectuais e estudantes se dividam: de um lado os defensores de Antônio Feliciano de Castilho, Camilo Castelo Branco e Ramalho Ortigão (românticos); do outro defensores de Antero de Quental e Teófilo Braga (realistas).
Resultado: Os realistas ganham a disputa historicamente e o Romantismo português acelera sua ruína. Anos mais tarde Ramalho Ortigão e o próprio Castelo Branco passariam a escrever em estilo realista e Teófilo Braga chegaria a ser presidente de Portugal.
Lima Barreto vs. Coelho Neto
Lima Barreto odiava futebol. Mas mais que isso, odiava a literatura "sorriso da sociedade" de seu tempo. Quando Coelho Neto, um escritor de prosa estilística e vazia pronunciou um eloqüente discurso sobre a imortalidade do grande feito de... inaugurar-se uma piscina no Clube Fluminense, Lima Barreto se enfureceu.
Resultado: Os Bruzundangas, de Lima Barreto, uma crítica feroz a sociedade de seu tempo. E enquanto em vida Lima era desconsiderado e Coelho Neto enaltecido, hoje Coelho Neto é (merecidamente) esquecido e Lima Barreto consagrado como um dos maiores escritores brasileiros de toda história.
Oswald de Andrade e Mário de Andrade
Mário e Oswald de Andrade não poderiam ser mais opostos do que eram. Oswald de Andrade era um ricaço extravagante, dado à farra e às viagens. Mário de Andrade era um intelectual de classe média um tanto tímido. Oswald de Andrade uma vez atendeu a uma palestra de Mário quando era repórter de jornal e se estapeou com um concorrente pelas minutas da palestra. Mário de Andrade as concedeu e ambos desenvolveram uma grande amizade.
Resultado: A amizade dos dois foi apenas o começo da reunião de vários jovens intelectuais que levaria a Semana de Arte Moderna de 1922 e o nascimento do Modernismo brasileiro. Sem contar numa das maiores duplas de intelectuais do século XX. A amizade eventualmente se esfacelou, no entanto.
Monteiro Lobato vs. Oswald de Andrade
Quando Anita Malfatti fez sua exposição Expressionista, Monteiro Lobato fez uma critica negativa. Oswald de Andrade contra-atacou que era um absurdo atacar tal talento indiscutível. Lobato disse que não atacava o talento, realmente indiscutível, mas a expressão deste.
Resultado: Muitos dos quadros já vendidos foram devolvidos, mas Monteiro se rendeu aos Modernistas eventualmente e sua editora publicou várias obras destes. Até hoje historiadores perguntam-se que motivo teria levado o inovador Monteiro Lobato a criticar os novatos.