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É o rei dos deuses e dos homens; seu reino é o Olimpo e com um simples movimento de cabeça agita o Universo. Sua arma é o raio.
Foi casado sete vezes, sendo sua primeira mulher Métis (a reflexão ou a prudência), que engole logo após de casarem, conformando-se aos hábitos da família, e dá à luz uma filha que lhe sai do cérebro, Atena (a sabedoria divina). Por mais brutal que pareça, é fácil de compreender: o deus nutre-se da Reflexão para gerar a Sabedoria. Mnemósina (a memória) é outra esposa de Zeus: da união da memória com o sopro divino, nascem as Musas. Com Têmis (a justiça), Zeus torna-se pai das Parcas inexoráveis e das Horas, cuja marcha ninguém pode deter, porque uma nunca se arroga ao direito da outra. Deméter, a personificação da Terra, fecunda a mãe de Perséfone, que é o grão de trigo; Latona, mãe de Apolo e de Ártemis, ou do Sol e da Lua; Eurínome, mãe dos Benefícios ou das Graças. E finalmente Hera, sua irmã, que foi a última esposa.
Zeus amou também numerosas mortais, tendo delas filhos colocados entre os deuses e semideuses. Para escapar dos ciúmes de Hera, chegava a usar seus extraordinários poderes, transformando-se em animais ou objetos, a fim de visitar impunemente suas bem-amadas. Assim é que virou um touro manso, de pele branca e aveludada, para raptar a pastora Europa filha do Rei da Fenícia, virou cisne para encontrar-se incógnito com Leda, e chegou até a virar garoa para penetrar, através das frestas da janela, no quarto em que estava encerrada a bela Dânae.
Esses artifícios, porém, não conseguiam burlar a vigilância de uma espécie de detetive olímpico, chamado Argos, a cuja vista penetrante e cujos dotes de dedução e adivinhação dificilmente poderia escapar qualquer ardil. Aqueles que Zeus punha em prática, para fins de infidelidade conjugal, eram freqüentemente desmascarados, e disso ocorriam, nas alturas do Olimpo, altercações domésticas por vezes entremeadas de pancadaria, semelhantes às que, com lamentável freqüência, se verificam em lares de todas as épocas e classes.
Certa vez, a desavença se teria deteriorado ao ponto de Zeus perder a linha e espancar com bastante decisão a sua divina e real consorte. Um filho do casal, Hefesto, deus do fogo e das indústrias, acorreu em defesa da mãe. Na confusão que se seguiu, Zeus levou a melhor e, com um golpe semelhante aos que hoje cuidadosamente arquitetam os profissionais de luta livre, atirou o corajoso e infeliz rebento para fora do Olimpo, fazendo-o cair perto do mar, mais de três mil metros abaixo.
Os deuses eram imortais, mas não invulneráveis. Hefesto sobreviveu, portanto, ao incrível impacto, tendo ficado, todavia, com as duas pernas quebradas. Em conseqüência, andava coxeando de ambos os membros inferiores e, como acontecia dele ser um dos poucos deuses feios, tal circunstância não concorria, obviamente, para lhe dar melhor aparência.
Os filhos deuses de Zeus eram suas qualidades personificadas.
Os irmãos de Zeus, Hades e Posseidon, são simples desdobramentos da sua personalidade. Proclo fala de uma tríade demiúrgica cujos três membros, Zeus, Posseidon e Hades, constituem um deus único e triplo simultaneamente. A época em que Proclo viveu poderia tornar suspeita a sua opinião, mas anteriormente ao cristianismo, já exprimira a arte a mesma idéia.
A arte da grande época não podia aceitar o deus triforme, cuja estranha concepção mais se aproxima do temperamento da Índia do que da Grécia. Assim, repeliu qualquer idéia de um deus triplo, mas afirmou, de outra maneira, a identidade dos três personagens. Assim, enquanto Apolo, Hermes ou Dioniso (todos os três filhos de Zeus) possuem na forma uma caráter inteiramente determinado e perfeitamente reconhecível, os irmãos do rei dos deuses se assemelham em todos os pontos, e só se distinguem um do outro pelo atributo que carregam. Quando vemos na testa do deus o misterioso módio, ou ao seu lado o cão de três cabeças (Cérbero), trata-se do Zeus infernal, chamado também de Hades ou Serápis. Quando segura o tridente em lugar do raio, reconhecemos Posseidon, o deus dos mares. Mas a idade do personagem, as feições, a sua fisionomia, numa palavra o seu tipo em nada difere do Rei do Olimpo. Assim, os irmãos de Zeus representam na mitologia apenas uma das faces do deus supremo.
Como é a abóbada celeste, seus templos eram sempre descobertos no alto. Somente os templos de deuses da terra é que têm tetos fechados.
Era difícil à arte representar sob forma humana o caráter de abóbada celeste de que se reveste Zeus. Entretanto, uma antiga pedra gravada nos mostra o rei dos deuses sentado num trono que descansa sobre uma véu inflado pelo vento e seguro por Posseidon, posto embaixo. Ou seja: o espírito de Zeus paira sobre as águas. O céu que Zeus representa está lá caracterizado pelos doze signos do Zodíaco e colocados em torno da composição, e Zeus, ademais, vê-se escoltado por seus filhos Ares e Hermes.
Deu a arte a Zeus a forma de homem barbudo, na força da idade; seus atributos comuns são o raio, a águia e o cetro. Considerado como deus ativo, Zeus está sempre de pé, mas os escultores o têm mais freqüentemente representado repousando, sentado, na calma e na vitória. Está geralmente nu da cabeça até a cintura; os cabelos caem-lhe como crina, nos lados da testa, que é clara e radiosa na parte superior, mas convexa na parte inferior. Tem olhos fundos, apesar de bem apertos, uma barba espessa, peito amplo, mas não as proporções de um atleta. A atitude é sempre majestosa e a arte jamais o representou em movimento violento.
Não compreendiam os antigos que pudesse haver força comparada à do raio. O raio que Zeus impunha é, pois, a imagem da força repentina e irresistível. Todos os que tentaram lutar contra ele, homens ou deuses, foram fulminados.