A obra do Padre Saúl Pires Teixeira

 

Começámos a ver na última edição o que foi a obra do Padre Saúl Pires Teixeira em prol da pobreza na Paróquia da Lagarteira. Ele agregou em torno de si um punhado de pessoas boas que procuraram levar um pouco de alegria às famílias que viviam abaixo do limiar da pobreza naquela freguesia do concelho de Ansião.

À circular que tivemos a opor­tunidade de reproduzir, correspon­deram inúmeras pessoas de todas as latitudes do Mundo Português, pelo que o sonho de construir uma casa para aquela pobre e numerosa família do Maxial tornou-se uma feliz realidade, no curto espaço de meio ano.

O jornal Serras de Ansião de 15 de Dezembro de 1969, dá a notícia da inauguração e entrega da casa, na primeira página, publicando a fotografia de uma família feliz que, nesse ano, teve um Natal bastante mais “quente”: «Foi no passado dia 30 de Novembro, em cerimónia simples mas muito significativa, entregue ao Sr. António Fernan­des, sua esposa e sete filhos, de Maxial, a chave da casa, cons­truída por subscrição, a que o nosso jornal deu de há uns tempos a esta parte o devido realce. / Ao acto compareceram o Presidente da Câmara Municipal de Ansião, Prof. Elísio Mendes de Oliveira, Dr. Vítor Faveiro e esposa, a comissão constituída pelo Rev. Padre Saúl Pires Teixeira. D. Celeste Rodrigues da Silva Gaspar, professora local, António Freire e esposa, Diamantino Duarte e muito povo. / Falou em primeiro lugar, o pároco da freguesia, Rev. Padre Saúl, que salientou as carências da família, que bem justificaram as medidas tomadas para as debelar. / O Sr. Dr. Vítor Faveiro, em seguida, pôs em evidência a solidariedade gerada á volta de tão pungente caso, que constituiu verdadeiro acto de cristianismo, louvando a acção da comissão que lançou ombros à sua resolução. / Falou, ainda, o Sr. António Freire, para agradecer, salientar alguns nomes que presentemente acorreram com o seu auxílio material e moral. / Brindou por fim, pelas felicidades da família, o Sr. Presidente da Câmara de Ansião. “SERRAS DE ANSIÃO, agradecendo as referên­cias que lhe foram feitas, não enjeita o seu contributo pela publicidade dada para esta justa solução, cumprindo assim, mais uma vez, um dos objectivos para que foi criado.»

Três meses mais tarde, com a casa do Maxial completamente conc­luída, a Comissão resolve tor­nar públicas as contas referentes à iniciativa, utilizando para o efeito as páginas do jornal Serras de Ansião:

«Anunciámos  há dias num dos números deste jornal, que a casa para a família pobre do Maxial já estava concluída e hoje queremos informar os nossos leitores de tudo o que recebemos e gastámos.

Como já foi anunciado a obrafez-se graças à generosidade dum grande número dos nossos leitores, dos quais recebemos 36.906$10.

Tomou conta da obra o Senhor António Mineiro ao qual agrade­cemos todo o zêlo que pôs nos trabalhos. Para ele, para outros pedreiros e para carpinteiros e materiais entregámos 30.393$30.

Há um saldo de 6.512$80, que vai ser empregue consoante a opinião de todos os membros da Comissão. Deste saldo fazem parte os donativos que recebemos ùltimamente do Brasil os quais vinham acompanhados duma lista. Daqui agradecemos a todos os subscritores.

O livro das contas, em poder do tesoureiro Manuel Freire, vai pas­sar para o arquivo da residência paroquial.

Na hora da despedida do Padre Saúl – o último Pároco titular que a Paróquia da Lagarteira conheceu – os seus antigos paroquianos não esqueceram o quanto deviam àquele homem da Igreja que sempre se preocupou pelos mais desafor­tunados, ele próprio teve um modo de vida humilde, que se integrava bem no meio que pastoreava. Enquan­to muitos dos seus colegas possuíam já bons automóveis, o Padre Saúl percorria toda a sua paróquia de motorizada.

O último n.º do Serras de Ansião (1.ª série), de 15 de Fevereiro de 1975, noticia, assim, a sua saída da Lagarteira: «Deixou de paroquiar a nossa freguesia, cargo que exerceu durante onze anos, com inteira satisfação de todos os paroquianos, o Rev. Padre Saúl Teixeira, que deixou grandes amigos entre nós, pelas suas boas qualidades de padre e de homem. Amigo dos pobres, estava sempre pronto a auxiliar os mais neces­sitados, tratando todos, sem excep­ção, com humildade e carinho.

Deixou, por todas estas razões, fortes saudades em todos os paroquianos que tinham pelo padre Saúl grande admiração e muita estima.

Ao Rev. Padre Saúl Teixeira, que foi paroquiar a vila de Con­deixa, desejamos-lhe as maiores felicidades e apresen­tamos os nossos cumprimentos de despe­dida (...).»

 

(continua)

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