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(chamada para capa) Cultura
Arquitetura Islâmica (domo.jpg) Para o historiador de arte francês, Roger Garaudy, 85, a arquitetura islâmica conseguiu traduzir em conceitos simbólicos o Jardim do Paraíso ao expressar um Deus invisível e transcendente. Para ele isto foi possível graças ao aproveitamento da luz e à repetição rítmica de motivos geométricos. Páginas C4 e C5 (Chamada para capa de cultura light.jpg) Arquitetura islâmica: para o historiador de arte Roger Garaudy a arquitetura islâmica tenta simular o Jardim do paraíso (título)Arquitetura islâmica tenta construir visões do Paraíso, afirma historiador da arte (subtítulo) Para o filósofo e historiador de arte francês Roger Garaudy a harmonia geométrica, luz e a palavra divina tentam simbolizar na mesquita um Deus onipresente e invisível Alexandre Gomes (legenda domo.jpg) Variações sobre um tema: a combinação de luz, motivos geométricos, vegetais estilizados e epigráficos é comum a todas as mesquitas, ainda que materiais e estilos variem. Na foto o interior da Mesquita Al-Aqsa, o Domo da Rocha em Jerusalém (legenda sabil.jpg) Purificação: o Sahn é um grande pátio com o sabil, fonte, no qual os fiéis fazem suas abluções rituais (Pátio central da mesquita Karauine, Fez, Marrocos/ Século XI) Crédito: Werner Forman in "L 'Islam habite notre avenir", de Roger Garaudy. (legenda mihrab.jpg) Unidade: o mihrab aponta a direção de Meca e simboliza a unidade da comunidade (mihrab da mesquita Lutf Allah, em Ispahan, Irã) (legenda light1.jpg) Metáfora da Divindade: O desenvolvimento e multiplicação das muqarnas debaixo dos domos pode ser entendidos por sua função de refletir e refratar a luz. Para ampliar este efeito são utilizados azulejos e espelhos, como nesta mesquita do Mausoléu de Shah-Hamza Ali em Shiraz, Irã (legenda geom2.jpg e geom5.jpg) Ordem divina: O Islam transformou a geometria numa forma de arte com a geração de padrões e a aplicação dos princípios de repetição sumária, simetria e mudança de escala para criar uma variedade espantosa de efeitos. Tumba de Akbar, Sikandara, Índia (esquerda) e teto do mausoléu do profeta Hafiz em Shiraz, Irã (direita). (legenda domo2) Caligrafia: trechos do Alcorão e os 99 nomes de Deus transformam-se em ornamentos que relembram o Deus transcendente formando desenhos que se harmonizam com os arabescos. Domo da Rocha, Jerusalém. (legenda rosa.jpg e water.jpg) Jardim de Allah: os motivos baseados em plantas são outra constante na arquitetura islâmica como neste padrão de tapeçaria com um flor estilizada ou nas colunas que simulam palmeiras como esta do Pátio dos Mirtos no Alhambra, Espanha A celebrada arquitetura islâmica tenta mostrar a magnificência de um Deus onipresente e invisível através de uma "sinfonia de pedra" - harmônica, matemática, racional, musical - que tenta simbolizar esta transcendência. Esta é a opinião do filósofo e historiador da arte Roger Garaudy, ele próprio convertido ao Islam depois de Ter sido dirigente do Centro de Formação Política do Partido Comunista francês, com o qual rompeu no Maio de 68. O desafio de expressar este "Deus onipresente e invisível", para ele, foi encontrada num forte simbolismo cuja expressão típica é a mesquita, edifício destinado às orações, verdadeira porta entre a realidade sensível e a realidade transcendente. Para Garaudy três elementos sintetizam este simbolismo: a ordem geométrica e harmônica, o uso da luz e a caligrafia que ornamenta os detalhes. As curvas que se perseguem ao infinito e se entrelaçam formando hexágonos e outras figuras geométricas numa repetição criativa. Os suaves mas marcantes contornos delineados a gesso copiando formas vegetais e minerais. Os arcos harmoniosos e semicruzados compondo uma sinfonia de pedra. Para Garaudy é necessário recorrer à música como metáfora para tentar descrever a harmonia matemática da mesquita. (intertítulo) Luz Para ele a luz - segundo símbolo - é tão evidente que nem sempre é percebido. A luz, destaca ele, é referenciada incontáveis vezes como metáfora da Divindade, da Revelação e portanto é evidente o papel da iluminação no conjunto da Mesquita, reforçado por mil artifícios técnicos buscado pelos arquitetos muçulmanos. O terceiro símbolo é a caligrafia, os desenhos suaves que formam imagens e que marcam todos os pontos principais da mesquita e encontram sua expressão mais significativa no "mihrab", oratório na parede ao fundo da mesquita que marca a "qibla" - direção de Meca para onde todo muçulmano se volta quando faz as suas orações, verdadeiro símbolo da unidade de toda a Ummah - a comunidade dos muçulmanos. Outro símbolo importante é a água, presença marcante das construções islâmicas. Na mesquita água com seu simbolismo de "purificadora serve para marcar a passagem do profano ao sagrado, do mundo real para o transcendente. No Sahn - pátio aberto que antecede o Haram (sala destinada às orações) - há sempre um sabil, fonte de água corrente na qual os fiéis fazem as suas abluções rituais - o wudhu - lavando mãos, antebraços, rosto e pés, purificando-se para a oração. (intertítulo) Palavra divina Na área externa a mesquita é marcado pelo minarete, torre da qual o muezin faz cinco vezes ao dia o adhan - chamado para a oração - avisando a vizinhança que chegou a hora de rezar. Para o historiado de arte há um outro simbolismo nem tão evidente no conjunto, o de um jardim, com as suas flores na decoração, suas árvores estilizadas em colunas, seu córrego metamorfoseado na fonte. Um jardim iluminado pelo sol e no qual uma suave melodia de fundo - a música da palavra divina, ressoa através do aliterado canto do muezin, na salmodiação do Iman ao recitar o Alcorão, na caligrafia que ilumina as paredes e sobretudo naquela ordem matemática e harmônica do conjunto. É o Jardim do Paraíso. Alexandre Gomes é editor do PRIMEIRA PÁGINA. (subretranca) Estilo sintetizou influências culturais diversas (legenda light.jpg) Alhambra, em Córdoba, Espanha: obra-prima do estilo mourisco (legenda light2.jpg) Fatehpur, Sikri, Índia: estilo Mughal caracterizou-se pelo ecletismo (legenda light3.jpg) Mesquita Suleymaneyya, Istambul, Turquia: estilo otomano teve forte influência bizantina (legenda lutfallah.jpg) Mesquita Sheikh Lutf Allah, Ispahan, Irã: fachada monumental foi herdada do Império Sassânida pelo estilo persa A base da arquitetura islâmica vem da herança mediterrânea praticada por gregos e romanos mesclada à influência do Império Sassânida na Pérsia e, posteriormente da renovação trazida por invasores turcos e mongóis que trouxeram influências novas mais do Oriente. ]Contudo não há como negar que não houve apenas uma amálgama apenas de estilos anteriores, mas uma verdadeira síntese baseada numa nova visão de mundo. A arte muçulmana é extremamente conceitual, repleta de significados inseridos nos detalhes, de símbolos flagrantes, mas sutis. Talvez por isto mesmo jamais foi uma obra de autor, mas um concerto de milhares de artesãos anônimos que tentavam louvar a seu Deus e não a si mesmos. Assim no céu da arquitetura mais cintilante não brilha a estrela de nenhum arquiteto, mas o esplendor de uma fé. (intertítulo) Unidade na diversidade Do estilo básico da arquitetura islâmica surgiram cinco estilos diferenciados em suas ênfases, materiais e recursos. Na península arábica, Síria e Egito predominou um estilo mais fiel à tradição mediterrânea. No Maghreb (Norte da África) e na Espanha Muçulmana desenvolveu-se uma forte variante regional mais grandiloquente que a anterior, ainda que sua tributária. Esta variante, em geral chamada de estilo mourisco buscou um refinamento das formas originais, mas buscou seus próprios caminhos uma vez que estava mais livre das influências orientais. Na Pérsia a influência Sassânida com as suas fachadas monumentais foi bastante forte e desenvolveu-se um estilo visual mais elaborado e rico em detalhes que na região mediterrânea. Na Índia os imperadores Mughal criaram um estilo eclético na qual se nota a forte influência tanto dos estilos hindus e budistas como de outras culturas circundantes, configurando um estilo cuja marca principal é o ecletismo. Por fim a arquitetura Otomana, de surgimento mais tardio incorpora a herança bizantina de Constantinopla alimentada pela grandiosidade de um Estado forte, portanto generoso, e pela busca de uma excessiva sobriedade. (intertítulo) Interferências mútuas Contudo esta classificação não é definitiva porque os estilos se influenciam mutuamente, em grande parte devido à mobilidade dos artesãos e constantes mudanças políticas. Os artífices da corte de um soberano que perdia poder ou era derrubado em geral se mudava para outra corte mais afortunada. Governantes em ascendência buscavam prestígio e legitimidade contratando artesãos habilidosos para embelezar sua capital. Além disso a unidade da língua - mesmo nas regiões onde o árabe não era a primeira língua ele falado pela elite - as estradas relativamente seguras e a ampla circulação de mercadorias permitia o fluxo de idéias e pessoas. (box) Perfil (roger3.jpg) nome: Roger Garaudy Profissão: Filósofo e historiador da arte Nacionalidade: Francesa Idade: 85 Religião: muçulmano (quadro) Saiba mais sobre o assunto L'Islam habite notre avenir (o Islam habita nosso futuro) (escanear capa) Livros em português: O melhor da arte islâmica, Teresa Peres Higuera, G&Z Edições, Lisboa - livro de leitura rápida, com boas ilustrações e texto acessível e explicativo. Coleção História geral da Arte, Volume Arquitetura II - Ediciones Del Prado - Enciclopédia vendida recentemente em bancas a preço acessível traz boas ilustrações e bom texto. Coleção Grandes Impérios e Civilizações, Volume O Mundo islamita, esplendor de uma fé, Ediciones Del Prado - também vendida em bancas, aborda o desenvolvimento histórico e as manifestações culturais e espirituais do mundo islâmico, boas ilustrações e mapas, texto com forte sotaque português de Portugal. Uma história dos Povos árabes, Albert Hourani, Companhia das Letras - Ótimo texto sobre as bases sociológicas das opções estéticas da arquitetura islâmica e outras manifestações culturais, pelo escopo do trabalho não inclui a Índia Mughal - ótimo texto mas peca pela falta de ilustrações que seriam essenciais. Prolegômenos, Ibn Khaldun, Sociedade Brasileira de Filosofia - raríssima tradução do clássico Muqqadimah de Khaldun que está a pedir uma reedição. A tradução é péssima, apesar de toda a boa vontade dos tradutores, sem ilustrações. Na Internet IslamicArt - http://www.islamicart.com/ - excelente site bastante completo e técnico, muitas ilustrações, inclusive diversas reaproveitadas aqui. Passeio por Ispahan - http://isfahan.anglia.ac.uk:8200/ - site excelente no qual você pode conhecer Ispahan, Irã, reconhecido como patrimônio da humanidade pela Unesco. Site interativo no qual você mesmo define o seu roteiro. Inclui explicações detalhadas sobre arquitetura e história do Islam, do Irã e da arquitetura Islâmica numa interface muito simpática. Muslims Students Association - http://wings.buffalo.edu/sa/muslim/umma/lang.html - O site da Associação dos Estudantes Muçulmanos dos Estados Unidos oferece diversos links relacionados a cultura islâmica em um site simples e sem muitos recursos, mas atualizado regularmente. O Minarete - www.geocities.com/Athens/Agora/3836/ - a próxima edição desta revista eletrônica trará esta reportagem com informações complementares e fotos coloridas. (em português) www.islam.com.br - traz fotos de algumas mesquitas brasileiras. (em português) Yahoo - www.yahoo.com - oferece muitas referências sobre arquitetura islâmica, infelizmente a maior parte dos links já não existem mais. |
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