1 de agosto de 1999
Hoje, primeiro de agosto, fim das minhas férias
e eu estou voltando de uma viagem que fiz para o interior com
minha família. Essa viagem foi a mais estranha de toda
a minha vida e nela aconteceram muitas coisas que mereceriam
páginas e mais páginas de história pra contar,
portanto, vou me conter apenas nos fatos mais notáveis.
Essa cidade onde eu fui, é a cidade onde moram os parentes
de meu pai e minha mãe e eu vou pra lá desde que
nasci, porém nunca gostei, porque ficava lá sem
ter o que fazer. Nunca quis conhecer ninguém da cidade
para que pudesse sair, fazer alguma coisa. Por saber que não
iria ter o que fazer lá, combinei com uma amiga minha
da faculdade que iria voltar antes de toda a minha família
para poder ir em sua festa de aniversário aqui em São
Paulo, no dia 30 de juho. Chegamos em Batatais (esse é
o nome da cidade) no dia 23 de julho. No sábado, minha
tia montou uma rede no quintal da casa. Eu deitei lá,
gostei e disse que dormiria lá aquela noite. Meu irmão
disse que tinha dito que iria dormir lá antes de mim e
isso foi motivo pra uma pequena disputa entre eu e meu irmão.
Mas nada de sério. Naquela tarde, descobri que teria uma
festa para ir lá. Milagres acontecem, iria ter uma festa
legal para eu ir em Batatais! Meu primo disse que iria com a
namorada e me convidou, pois ele tinha três convites de
cortesia. Depois de pensar um pouco, pois eu nunca tinha saído
com eles dois e pensei que poderia ficar meio deslocado, resolvi
aceitar. Ele passou em minha casa faltando dez pra meia noite
e fomos pra balada. Chegando lá, estava bastante cheio
e começamos a andar pelo salão. Eles encontraram
umas pessoas conhecidas: a irmã da namorada dele e mais
quatro amigas. Se cumprimentaram, mas não me apresentaram.
Eu fiquei ali, plantado, meio de escanteio, esperando pelos acontecimentos.
Depois de alguns minutos, uma garota resolveu tomar a frente.
Seu nome, Clara. Ela disse ao meu primo "Você não
vai apresentar seu primo pra a gente?" e foi se apresentando
e me apresentando ao resto da turma. Aí sim eu comecei
a curtir a noite. Elas eram todas muito legais e nós nos
divertimos muito. Fomos embora às 5 horas e eu não
quis dormir na casa do meu primo, pois iria dormir na rede aquela
noite, que estava linda e eu não queria perder a oportunidade.
No dia seguinte podia não estar daquele jeito. No carro
tive oportunidade de conhecer melhor as garotas. Clara e Silvia
(irmã da Nívea, namorada do meu primo) eram bem
legais e Clara era muito falante, enquanto Silvia era mais quieta.
Eu fiquei meio deslocado naquela noite, pois tinha acabado de
conhecê-las, mas tentava me entrosar. Combinamos de sair
juntos no domingo, uma sorveteria. Entrei em casa e vi meu irmão
deitado na rede. Eu fiquei puto, porque já tinha dito
que iria dormir lá e aquilo me pareceu provocação.
Eu fui dormir em casa, muito furioso. Minha mãe resolveu
me defender, pois ela realmente tinha me ouvido falar que iria
dormir lá antes dele. Ele ficou nervoso, e foi dormir
na minha tia. Disse que meus pais puxam meu saco e ficou sem
falar comigo por dois dias... Eu até chorei, porque não
gostava de ficar sem falar com meu irmão, mas depois de
alguns dias ele voltou a falar comigo, sabe Deus por quê.
No domingo, saímos novamente, a mesma turma do dia anterior.
Clara estava linda, mais que nunca e eu começava a me
entrosar melhor. Só que aconteceu o pior. Clara encontrou
seu ex-namorado, pelo qual ela ainda tem um enorme amor... ficou
conversando com ele por horas, quase todo o tempo que nós
estávamos lá. Na hora de ir embora meu primo disse
que o que poderia deixar o namorado dela possesso era vê-la
com outro e ela disse que precisava ser alguém diferente,
que ele não conhecia. E me abraçou... sentiu, né?
Combinamos de ir comer uma pizza na próxima quinta feira,
que seria o último dia em que eu ficaria lá. Passemos
agora por quase uma semana, até chegar na quinta feira.
Não aconteceu muita coisa de interessante nesse dia, só
que nós ficamos procurando um lugar pra ir naquela cidade
e ela estava morta. Nenhum lugar tinha gente e o único
que tinha, meu primo não quis entrar porque não
estava com roupas adequadas, segundo ele, mas eu teria entrado
de qualquer jeito. Acabamos indo comer pizza numa pizzaria que
tava quase fechando e só tinha a gente lá... o
garçom deve ter nos adorado. Clara conseguiu me convencer
a não ir embora no dia seguinte, pois iria ter festas
muito boas na sexta e no sábado. Resolvi ficar, e até
agora não pensei em nada que eu pudesse dar de desculpa
para minha amiga da faculdade em quem eu dei o cano. Mas eu nunca
tenho o que fazer lá, quando descubro coisas legais tenho
que voltar? Não achei certo e fiquei. Na sexta meu primo
não iria e então só sairíamos eu
e as meninas, exceto a namorada dele, óbvio. Fomos Silvia
e eu pegar Clara na porta da escola para podermos ir. Ela ficou
conversando um tempo com seu ex, resolvendo uns assuntos... quando
ela terminou fomos. Passamos na casa de uma amiga delas e curtimos
a noite toda. Tava muito legal. Eu queria chegar na Clara naquela
noite, mas resolvi que não. Na hora de ir embora, sem
motivo algum, ela chegou perto de mim e, de frente comigo, apoiou
sua cabeça no meu ombro, como se estivéssemos abraçados,
mas ela estava de braços cruzados. Eu a abracei, a acariciei
e disse que ela perdia muito tempo com aquele cara. Ela concordou.
Fomos pra casa de carona com o pai de sua amiga. Eu não
podia me conter dentro de mim. Tinha uma certeza profunda de
que no dia seguinte ela ficaria comigo. Sábado, último
dia de minha estada em Batatais. Fomos para a festa. Ficamos
a mesma turma no salão, dançando e Clara ficou
muito pouco com a gente. Eu chamei meu primo de lado e perguntei
a opinião dele, sobre se deveria ou não chegar
nela. Ele disse que sim, pois eu não tinha nada a perder,
além do mais, depois poderia me bater um arrependimento
se eu não o fizesse. Eu o disse que ela só sabia
falar sobre seu ex-namorado, ele concordou, mas disse que mesmo
assim eu deveria tentar. Depois dessa reuniãozinha, cheguei
nela. Chamei-a para conversar e ela veio, linda como sempre.
Eu perguntei: "Esse cara, ele é único pra
você?" - bem direto, não? Mais direta ainda
foi sua resposta "No momento sim"... eu já perdi
as coordenadas nessa hora. Tentei por meio da persuasão
mostrá-la que aquilo não a levaria pra lugar nenhum
e que o certo era ela ficar comigo, mesmo porque eu estaria voltando
pra Sampa naquele dia e só a veria novamente no ano que
vem... ela disse que estava muito confusa, mas que no momento,
só restava a amizade mesmo... Amizade, o fora que eu estou
cansando de receber... "somos amigos". Senti como se
uma faca cortasse meu peito de um lado a outro. Minha turma chegou,
dizendo que queriam ir pra casa. Aceitamos e fomos. Eu me despedi
de todos e como disse, se eu perdi pra um cara que não
sabe nem o que quer da vida, vou empatar com quem? Me despedi
do meu primo, na porta da minha casa lá em Batatais. Ele
tinha razão quanto a eu não ter nada a perder,
exceto pela minha auto-estima. Fui pra minha casa para, como
um bom homem, chorar. Chorei a noite inteira tô chorando
até agora. Mais uma vez estou chorando por amor. É,
homem também faz isso. Peguei o primeiro ônibus
que saiu de lá logo após eu acordar às sete
horas. Saí de lá às 10:45 e cheguei em casa
às 15:40. Tô muito, muito triste. Já fez
aniversário que ninguém se interessa por mim. Estou
me sentindo o mais abandonado dos homens do mundo... Amanhã
tem faculdade... que eu digo pra menina que eu dei o cano? Será
que era melhor eu ter voltado pra Sampa? Qual dor será
que era menor, a de não chegar ou a de chegar e levar
fora? A vida não é justa mesmo. Ante eu achava
que meu problema era que eu não chegava nas garotas, por
isso eu ficava sozinho, mas tudo se resolveria quando eu mudasse
de atitude. Eu mudei, mas a situação continua a
mesma. Meu coração está do tamanho de uma
bola de gude e as lágrimas rolam desenfreadas pelo meu
rosto. O pior é que eu me sinto sem ter com quem desabafar...
tenho que ficar escondendo o choro dos meus pais. Vergonha de
contar pra eles. Como fazer para mudar minha vida? Só
sei que no momento estou com vontade de mudar pra Batatais, começar
uma vida nova, largar a faculdade deixar toda minha vida para
trás. A verdade é: os caras legais ficam por último
na história da vida.


