OM MANI PADME HUM

 

Sua Santidade Tenzin Gyatso

Décimo Quarto Dalai-Lama

 

Centros Budistas Calmuco-Mongólia, Nova Jersey

É muito bom repetir o mantra Om mani padme hum,
mas enquanto o estiverem fazendo, devem pensar sobre sua
significação, pois o significado dessas seis sílabas é grande
e profundo. A primeira, Om, compõe-se de três letras, A, U
e M, que simbolizam o corpo, a palavra e a mente puros
e sublimes de um Buda.
Podem o corpo, a palavra e a mente impuros ser transformados em corpo, palavra e mente puros, ou são inteiramente separados? Todos os Budas eram seres como nós que, após trilharem o caminho, tornaram-se iluminados; o budismo não afirma que haja uma pessoa que desde sua origem esteja livre de falhas e possua todas as boas qualidades. A condição pura de corpo, palavra e mente surge ao abandonarmos gradualmente os estados impuros e, em conseqüência, nos tomarmos puros.
Como se processa isso? O caminho é indicado pelas quatro sílabas seguintes: Mani, que significa “jóia” simboliza os fatores do método a intenção altruísta de alcançar a iluminação, a compaixão e o amor. Assim como uma jóia é capaz de eliminar a pobreza, a mente altruísta da iluminação é capaz de afastar a pobreza, ou as dificuldades  da existência cíclica e da paz solitária. Do mesmo modo como uma jóia satisfaz os desejos dos seres sencientes, a intenção altruísta de alcançar a iluminação satisfaz as aspirações dos seres sencientes.
As duas sílabas, padme, que significam “lótus”, simbolizam a sabedoria. Assim como um lótus nasce da lama mas não se contamina com ela, a sabedoria é capaz de nos colocar numa situação de não-contradição, ao passo que haveria contradição se não tivéssemos sabedoria. Existe a sabedoria que percebe a impermanência; a sabedoria que percebe que as pessoas não são auto-suficientes ou substancialmente existentes; a sabedoria que percebe o vazio da dualidade — ou seja, a diferença de entidade entre sujeito e objeto e a sabedoria que percebe o vazio da existência inerente. Embora existam muitos tipos diferentes de sabedoria, a mais importante é aquela que percebe o vazio.
A pureza deve ser alcançada através da unidade indivisível do método e da sabedoria, representada pela sílaba final hum, que indica essa indivisibilidade. De acordo com o sistema sutra, a indivisibilidade de método e sabedoria refere-se à sabedoria influenciada pelo método e a este influenciado por aquela. No mantra, ou veículo tântrico, faz-se referência a uma consciência na qual existem de forma completa tanto a sabedoria quanto o método como uma entidade indiferenciável. Em termos das sílabas-sementes dos cinco Budas Vitoriosos, hum, é a sílaba-semente de Akhobhya - o inalterável, o que não se agita, o que nada pode perturbar. Desse modo, as seis sílabas, om mani padme hum, significam que, em função da prática de um caminho que é uma união indivisível de método e sabedoria, podemos transformar nosso corpo, palavra e mente impuros, no corpo, palavra e mente sublimes de um Buda. Diz-se que não devemos procurar o Estado de Buda fora de nós mesmos; as substâncias para que alcancemos o Estado de Buda estão dentro de nós. Como Maitreya declara no seu Sublime Continuum do Grande Veículo (Uttaratantra), todos os seres possuem a natureza de Buda no seu próprio continuum. Temos dentro de nós a semente da pureza, a essência d’Aquele que chegou à Verdade, Tathagatagarbha, a qual deve se desenvolver completamente e se transformar no puro Estado de Buda.
(Bondade, amor e compaixão. São Paulo, Pensamento, s/d.)

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