COMENTÁRIOS

 

Convido todos os colegas que tenham interesse em fazer comentários sobre os anos vividos no seminário para que os mandem por por e-mail, para minha caixa postal.
Podem mandar arquivos de textos, gravados normalmente no Word. Serão bem recebidos, também, comentários de outras pessoas que nunca hajam  passado por um seminário. Se desejarem fazer observações curtas, não se esqueçam de usar o meu livro de visitas.

 

Luiz Roberto Soares (1964/1969)

DE "VERBO SEMINARISTÆ"

Digno de encômios o opúsculo, ou "livrete", como ele o chama de autoria do colega PAULO TOSCHI (anos 50), intitulado "Palavra de Seminarista". Percebe-se que foi escrito mais com o coração do que com a razão, ou preocupações técnico literárias. Passei pela mesma maravilhosa Casa, onde vivi 6 anos, e onde adolescente, forjei os traços de meu caráter. A propósito, um livro marcante para mim, na época, foi: "O moço de caráter", de Dom Tihamer Toth. Fui discípulo do então Mons. Constantino na década de 60, quando os hábitos e regras eram um pouquinho, bem pouquinho mais flexíveis. Já se jogava futebol com short (que despudor!) e não com as ridículas calçolas-amarelas da turma de 50. Devorei impetuosamente a obra, que muito me emocionou pelas alegres reminiscências, mais ainda porque "ARAÇARIGUAMA", meu torrão natal, foi citado 4 vezes, e o "Pe. JAIR", meu incentivador no caminho vocacional, à época vigário de Araçariguama, também foi citado 2 vezes. E pelo que conheço o Pe. Jair, mantenho contato com ele até hoje, o Paulo deveria estar "lunático" mesmo, quando resolveu deixar o seminário, porque o "baixinho" não mente.

Concordo em gênero, número, grau e "caso" (como gostaria de ouvir o velho Constantino da "Ars Latina") com o Paulo quando disse que "o Seminário de São Roque era o Seminário do Pe. Constantino. Sem ele, o Ibaté não teria sido o mesmo". O ardor, o carinho, a devoção com que atuava, junto aos alunos, magnetizava a todos. Era admirável!

Parabéns, mais uma vez, `a iniciativa do colega Paulo. Esperamos que traga desdobramentos e estimule outros colegas a escrever ou a aprofundar o trabalho. É um período digno de ser escrito e reescrito.

ARAÇÁ

 

SE EU (NÃO?) FOSSE LUNÁTICO

Paulo Francisco da Costa Aguiar Toschi (1949/1953)

O Padre Jair disse que eu era lunático, quando lhe expus a minha intenção de ir embora do Seminário de São Roque. Achava que o meu desejo era passageiro, mudaria, tão logo a Lua entrasse em nova fase. Querer sair de São Roque era uma crise provocada pela Lua. Eu era lunático porque, no fundo, queria mesmo lá ficar, de acordo com o nosso querido Diretor Espiritual.

O nosso colega Araça (Luiz Roberto Soares), comentando o livro "Palavra de Seminarista", defendeu aquele sacerdote, concluindo que eu era mesmo lunático, por não ter seguido o seu conselho de permanecer no Ibaté. Portanto, para o Araça, lunático é aquele que não quer ficar em São Roque (ou ali por perto, creio).

Fico na dúvida se ser lunático é ficar ou não ficar. O pessoal de Araçariguama que resolva, pois devem entender de Lua. Estou escrevendo esta resposta no dia 7 de abril, dia em que, não me lembro muito bem, D. Pedro I disse que Fico ou que não Fico.

Só sei que eu abdiquei, apesar dos conselhos do bom padre. E não me arrependo de ter abdicado. Ou será que eu atingi a maioridade? (Não, esse era D. Pedro II, aquele que usava barba e parecia mais velho que o pai). Apenas tenho saudades da Lua que brilhava altaneira nos céus do Ibaté. Aquela que, até hoje, prende o Araça ali por perto. E o Padre Jair também. Um grande abraço para os dois.

(Meu Deus, eu pensei que não entendia apenas de Lua ou de Literatura, agora, estou percebendo que também não entendo nada de História do Brasil).

O que muito me agradou, na crítica benévola e gratificante feita pelo Araça, foi a sua afirmação de que meu livro foi escrito sem preocupações técnico-literárias. Pois foi isto mesmo. Se para escrever alguma coisa, as pessoas tivessem que fazer um curso, apegar-se a escolas, engessar-se em estilos, seguir tendências, a arte não seria arte. Afinal, literatura de cordel é literatura, não é mesmo? Fiz do meu livro uma tentativa de levar a literatura, ainda que modesta, para a Internet, uma nova espécie de apresentação, capaz de chamar a atenção daqueles que somente se atêm às imagens GIF ou JPG, aos sons WAVE e aos recursos do Java Script e outras novidades. Um livro leve, curto, despretensioso, porém, procurando mexer com os sentimentos, embutindo nas frases de aparência inocente reflexões sobre problemas sérios que todos nós vivemos.

Sim, porque todos nós, que vivemos sob a Lua do Ibaté, tivemos grandes problemas. Ou é mentira que muitos de nós passamos por grandes traumas psicológicos e levamos muitos anos para nos adaptarmos à vida normal dos mortais comuns, após os poucos anos em que vivemos no Seminário de São Roque ?

Será inverdade afirmar que ainda hoje o nosso comportamento carrega muito daquela experiência? Que dizer dos colegas que se recusam terminantemente a manter qualquer contato com os seus antigos companheiros e fogem dos encontros das primeiras sextas-feiras, com medo de voltar ao pesadelo que os atormentou por longos anos? E o que falar daqueles que, tendo rompido com a vida clerical, tendo abandonado o ideal de "espalhar a fé", como diria Camões, não conseguem se afastar das sacristias e, até hoje, centram suas vidas em preocupações litúrgicas? Não, não estou afirmando que somos todos nós um bando de lunáticos. Apenas estou lembrando que há situações que "imprimem caráter".

Estou sendo contundente? Pois leiam de novo o meu livro. Repassem o que não está escrito, prestem atenção nas entrelinhas. Outro dia alguém disse, lá no Circolo Italiano (acho que foi o Almeida), que eu havia ficado em cima do muro, que o João Steck tinha sido mais direto e objetivo, nos seus comentários. Que bom. Como eu fico feliz. Não é preciso ser extremamente explícito, não há necessidade de contundir. Com mansas palavras e recordações amenas é possível despertar emoções já recalcadas ou sublimadas. E as pessoas começam a se manifestar. Era isto mesmo o que eu queria.

Meu livro é uma agua-de-milícia? É sim, e até me admiro, porque tantas pessoas, mesmo aqueles que nunca viram um Seminário, o leram de um só fôlego, não conseguindo parar, sem antes chegar ao fim. Afinal, a Lua não brilha apenas no Ibaté.

"Palavra de Seminarista" não é realmente uma grande obra. Nunca teve a menor pretensão de se comparar com o trabalho dos literatos. É um pequeno ensaio, podem chamar de livrete, de opúsculo, do que quiserem, mas ele tem uma dupla finalidade: primeiro, testemunhar uma época que não mais existe (Deo gratias) da evolução permanente de nossa Santa Madre Igreja; segundo, tentar lançar uma forma nova de escrita, adaptada ao mais moderno veículo de comunicação, a Internet.

O livrete não é um desabafo. É uma provocação. Eu quero vocês todos na seção Colaboradores, da minha página da Internet. Vamos transformá-la em um fórum de debates. O tema é quente, minha gente. Outro dia, num bar próximo ao Circolo Italiano, eu ameacei trazer à luz um trabalho em que já venho pensando há tempo, e que terá o nome de "ET PORTAE INFERI....!" O Furlanetto, ao tomar conhecimento da idéia básica, logo reagiu como eu desejava. Prometeu replicar se eu me atrevesse a mandar aquele artigo para o Echus do Ibaté. Que legal. É isto que vale a pena. Recordar (apenas) não é viver. A evocação do passado tem que ter um significado, um propósito. Deve servir para ajudar a construir alguma coisa.

Estou dando início a um outro trabalho, que denominei FLASHES (nada tem a ver com o Seminário) e que já está na minha página da Internet. Ainda não pode ser acessado por todos os internautas. Seus arquivos estão velados, por enquanto. Vai ser um passo a mais para o desenvolvimento desse estilo pseudo-literário-cibernético. Se o nosso amigo Araça tivesse lido o último episódio que escrevi para o "new bookinho", aí então, e com razão, ele iria me chamar de lunático. Aguardem e verão.

Obrigado, Araça. Seus comentários já estão na seção própria do "Palavra de Seminarista". Você também já foi para a Internet. Araçariguama falando para o mundo, como diriam os locutores da Rádio Jornal do Comércio, do Recife.

 

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