Talvez fosse mais fácil nos séculos passados,
ou no máximo no início do século XX, para os ocultistas
eruditos ensinarem aos seus discípulos que um determinado símbolo
é análogo ao simbolismo da grande mãe, falo divino,
cteis universal, anima mundi, cadmom, véu de ísis, coagulatio,
olho de hórus, logos, azoth, putrefatio, astrosoma, elus cohens,
luz astral, mônada, ain soph, thipheret, kore, goécia, solar
ou lunar. Enfim, eram tantos termos místicos com valores universais
que tudo se tornava análogo a alguma coisa; porém, quantos
eruditos clássicos existem atualmente? Quantas pessoas têm
a capacidade de compreender tais conceitos? O que é o sagrado ou
o profano — quem poderá classificar atualmente? O que é espiritual
e mundano? Lógico que tudo isto ainda existe dentro das fraternidades
esotéricas, mas quais têm tradições seculares
— duas ou três? E o resto se baseiam em que? Dissidentes revoltados,
diásporas fragmentadas, egos inflados do poder killipótico?
E o conhecimento oculto se perdeu ou ainda está guardado? Quem está
com a verdade espiritual? Quem detém a tão comentada palavra
“tradição”? Quanto demora para se atingir o autoconhecimento:
35 anos, 22 athus, 365 monografias, um curso de fim de semana, uma fração
de segundo — mas quanto tempo tenho que esperar ou estudar?
Temos que entender que todas as sociedades “secretas” se tornaram
“discretas”, estão abertas a qualquer mísero mortal, todos
os símbolos e assuntos que eram ocultos se tornaram revelados em
nosso século, os assuntos que se aprendem dentro de qualquer fraternidade
podem ser facilmente encontrados em qualquer livraria, porque é
delas que, atualmente, seus discípulos também fazem uso;
portanto, tudo está ao nosso dispor, e qualquer um poderá
aprender. Bom, parece simples, mas não é. Com essa globalização
esotérica temos um sério problema: sim, podemos ler o que
eles praticam, mas nunca vivenciaremos o que eles aprendem; assim perde-se
toda a tradição e os valores iniciáticos, ou seja,
até conhecemos o significado de alguns símbolos esotéricos,
mas nunca teremos o entendimento dos valores simbólicos corretamente.
Podemos até inflar nosso ego perante os mais leigos, mas nunca saberemos
da profundidade mística expressada.
O resultado dessa pseudo abertura esotérica, ou melhor,
exotérica, que os conhecimentos estão abertos a qualquer
um, transforma-se na seguinte balbúrdia: existem pessoas ensinando
a cabala que aprendeu em livros, magias que leu em revistas, tarot num
sábado, astrologia por correspondência, pantáculos
no chá da tarde, reiki na hora do almoço, anjos na sala de
juntar, xamanismo na lua cheia, cromoterapia num jardim encantado, numerologia
no computador, yoga num hotel, meditação por revistas, renascimento
e carma numa fogueira, tornando o verdadeiro conhecimento disperso, fragmentado,
fundamentado no nada, no desencontro de idéias, nos conceitos próprios,
na experiência pessoal, na falta de coerência filosófica,
sem escopo e, principalmente, no misticismo decadente.
Embora desejemos e tenhamos pessoas e empresas fazendo o melhor,
tais como, livrarias, editoras, revistas, lojas, espaços, núcleos,
professores, mestres, fraternidades, não basta a boa vontade de
todos nós; temos que ter consciência e responsabilidade do
que aprendemos, ensinamos ou ofertamos. Neste ponto todos começamos
com a melhor das intenções mas, se o negócio vai mal,
como pagar as contas? Como continuar nossa “missão espiritual”?
Como ensinar aos nossos semelhantes nossa fantástica descoberta
pessoal? Vamos dar ao povo o que ele quer: pão, vinho e circo, já
dizia os imperadores romanos ou um de nossos ex-presidentes, comida e futebol.
Assim voltamos à estaca zero. Modismo, a lei da procura e oferta,
o interesse pessoal momentâneo. Aprendemos e melhoramos? Não.
Decoramos e nos viramos, seria a melhor resposta.
O círculo vicioso da moda mística tipo “fast
food” tem que parar! Se prestarmos bem atenção, tudo o que
se reporta em evidência já existia há séculos,
ou talvez milênios, apenas se tornou conhecido e mais acessível.
Apenas tomamos conhecimento da ponta do iceberg, e o resto quem se atreve
a desvendá-lo? É muito comum trabalharmos na superficialidade,
é menos extenuante, vende mais, atrai mais, é mais rápido.
Mas funciona? Não. Paramos pouco tempo depois, semanas, meses, 2
anos no máximo; e procuramos outro assunto para ensinar, vender
ou aprender. A busca frenética da missão espiritual não
deve se encontrar somente no esoterismo ou na religião, ser um sacerdote
ou um discípulo não é sinônimo de estar com
o passaporte garantido para o reino dos céus ou para a paz no lar.
Você já pensou na missão espiritual que tem um médico,
professor, coveiro, político, lixeiro, psicólogo, advogado,
motorista, economista, escritor, jornalista, vendedor, pai, mãe?
O mundo funcionaria se existisse somente religiosos e místicos?
Quem iria plantar, carregar tijolos, aplicar as leis e educar os filhos?
Vamos ser objetivos e práticos neste limiar do século
XXI: todo simbolismo, arte e cultura esotérica, a antiga ciência
oculta, caiu no gosto popular, mas nem todos são esotéricos
ou gostariam de ser. No máximo, são exotéricos. Nem
todos querem passar anos da vida fazendo rituais iniciáticos, estudando
monografias, livros, pesquisas, vivências, participando de hierarquias,
juramentos, honras, dispondo horas intermináveis de seu precioso
dia de labuta. Temos que ter a plena consciência do que há
duas correntes atuando lado a lado, sorvendo dos mesmos conhecimentos,
ou melhor, talvez, nunca tenha mudado a antiga fórmula criada por
Pitágoras de Samos, 584 A.C., “Os esotéricos, que entrem;
os exotéricos, que fiquem”. Porém, hoje, os exotéricos
não querem ficar somente observando os esotéricos, desejam
também conhecer e sentir a sensação do mundo transcendental
mas, por outro lado, não pretendem se aprofundar, querem conhecer
de tudo um pouco, no máximo em alguns meses, ou fins de semana,
por isso a minha classificação de neo-exotéricos.
O que fazer com essa classe emergente? Nada. Ela veio para ficar e talvez
criar um novo conceito de vida, mais leve, mais solto, menos dogmático
e doutrinário.
Portanto, um fator primordial que teremos que lidar doravante
é a urgente mudança da linguagem simbólica para os
leigos e emergentes. Desenvolver uma hermenêutica esotérica
mais acessível a todos, procurar uma semântica mais atual,
mitos mais próximos da realidade em nossa sociedade, respostas mais
fáceis e objetivas aos incautos, para não passarem adiante
conceitos deformados. Como escreveu o Tarólogo Albert Cousté,
é preferível uma resposta simples e verdadeira do que uma
eloqüência confusa e obscura. Aos novatos nessa sociedade emergente
neo-exotérica aconselho uma pesquisa, uma prévia, de livros,
mestres e fraternidades; podendo, assim, escolherem com calma a sua “iniciação”
e evitarem possíveis atrasos no saber e mazelas em suas contas bancárias.
Aos buscadores experientes, aconselho uma renovação em seus
conceitos, uma consciência do que é o sagrado e o que é
o profano, o que é a sua verdade pessoal e a verdade das fraternidades;
se são esotéricos, exotéricos ou neo-exotéricos.
Enfim, aos eruditos, aceitarem um novo tempo que surge, uma nova era de
amálgama filosófica, uma nova linguagem mística para
arregimentar o novo rebanho, uma nova fórmula de conhecimento para
o saber antigo.
Não sou contra defender a vida financeira através
das artes esotéricas ou até ser autodidata espiritual, mas
que tal querer e oferecer qualidade? Que tal conceituar filosofia e estrutura
ao que se propõe? Que tal promover responsabilidade, e acima de
tudo tê-la? Que tal antes de passar a novidade adiante dos conceitos
decorados ou limitados: estudar, pesquisar, organizar, praticar, para verificar
se o caminho é verdadeiro? Neste ínterim ainda sou um ferrenho
defensor do esoterismo tradicional — disciplina, monografias, tempo, degraus,
vivência, experiência, responsabilidade, compromisso, filosofia.
Mas se não quer tê-las que tal acompanhar o ritmo da verdade,
da coerência, do saber? Que tal não misturar catarse psíquica
e emocional com missão espiritual? Que tal não confundir
o livre arbítrio com o carma? Que tal buscar coerência e congruência
na vida? Afinal o que somos: uma lesma gosmenta, uma naja sibilante ou
uma centelha divina?
Nei Naiff
Tarólogo, Astrólogo e Cabalista
Fone (021) 567 1702
Virtual (021) 459 3093
E-mail: webmaster@neinaiff.com
Home Page: www.neinaiff.com