|
|
|
|
|
|
CANTIGA DA BABÁ Eu queria pentear o menino Como os anjinhos de caracóis. Mas ele quer cortar o cabelo, Porque é pescador e precisa de anzóis.
Eu queria calçar o menino Com umas botinhas de cetim. Mas ele diz que agora é sapinho E mora nas águas do jardim.
Eu queria dar ao menino Umas asinhas de arame e algodão. Mas ele diz que não pode ser anjo, Pois todos já sabem que ele é índio e leão.
( Este menino está sempre brincando, Dizendo-me coisas assim. Mas eu bem sei que ele é um anjo escondido, Um anjo que troça de mim. )
( Cecília Meireles )
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
CLASSIFICADOS POÉTICOS
Atenção ! Compro gavetas, Compro armários, Cômodas e baús. Preciso guardar minha infância, Os jogos de amarelinha, Os segredos que me contaram Lá no fundo do quintal. Preciso guardar minhas lembranças, As viagens que não fiz, Ciranda, cirandinha E o gosto de aventura Que havia nas manhãs. Preciso guardar meus talismãs, O anel que tu me deste, O amor que tu me tinhas E as histórias que eu vivi. Troco um passarinho na gaiola Por um gavião em pleno ar. Troco um passarinho na gaiola Por uma gaivota sobre o mar. Troco um passarinho na gaiola Por uma andorinha em pleno vôo. Troco um passarinho na gaiola Por uma gaiola aberta, vazia...
( Roseana Murray )
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
|
MADRASTA FAZ MENOR PEDIR ESMOLA EM SP
Os irmãos G.E.S., 13, e L.E.S., 14, ganham todos os dias cerca de R$ 20,00 cada um vendendo chicletes num cruzamento dos Jardins ( zona sul de São Paulo ). O dinheiro é todo entregue para a madrasta, Adevanir, 39, que os traz diariamente de Santo André ( Grande São Paulo ). Os três passam até seis horas por dia na esquina da rua Oscar Freire com a avenida Rebouças. Adevanir não vende, apenas "supervisiona" o trabalho dos enteados. "Eus sei que eles não podem trabalhar, mas meu marido está desempregado há um ano e meio. Que é que eu vou fazer, roubar, matar ? Não posso", diz ela. L.E.S., o mais velho, diz que não se importa de trabalhar na rua. "É mais gostoso do que ficar em casa", diz. (...) Os funcionários do prédio em frente dizem ainda que Adevanir fica o dia todo sentada, à espera do dinheiro conseguido pelos enteados. "E quando chove, ela se esconde na padaria, enquanto os garotos ficam tomando chuva", diz o porteiro, que não quis se identificar.
( FOLHA DE SÃO PAULO, 24/09/96 )
|
|
|
|
|
|