Esta página reúne resumos de antologias poéticas, falando um pouco do estilo do(s) autor(es) destas obras. Também estão aqui (ou pelo menos estarão quando eu ler um exemplo) resumos de poesias ao estilo da página de contos. Mas apenas poesias que contam histórias específicas e longas.
Esta antologia editada pela Zero Hora passa pelos estilos do Barroco, Arcadismo, Parnasianismo, Simbolismo e Pré-Modernismo. O livro mostra a poesia de muitos dos poetas listados nesta página, passando pelos paradoxos e antíteses dos autores barrocos, o bucolismo dos árcades com seus autores falsamente pastoris, o amor exagerado, o indianismo e o Mal do Século dos românticos, de profundo subjetivismo, a perfeição de forma e o objetivismo dos parnasianos, a vaga e metafórica poesia dos simbolistas e por fim o Pré-Modernismo de Augusto dos Anjos, singular com seu pessimismo e visão única da morte em nossa literatura como um fim, usando uma linguagem cientificista. Os poemas inclusos incluem sátiras de Gregório de Matos, liras de Marília de Dirceu, I-Juca-Pirama, Navio Negreiro, Canção do Exílio, partes do Cântico do Calvário, poesias famosas de Bilac, poesias obscuras de Kilkerry e vários sonetos de Augusto dos Anjos.
Gregório de Matos e Guerra escreveu poemas sacros, líricos e satíricos. Apesar de ter feito linda poesia nos dois primeiros gêneros, é como poeta satírico que o "Boca do Inferno" se destaca. Em seus sonetos (2 quartetos e 2 tercetos), oitavas (estrofes de 8 versos), décimas (estrofes de 10 versos) e poemas de diversas formas Gregório de Matos não perdoa ninguém, rico ou pobre, homem ou mulher, inimigo ou não. Assim, Gregório de Matos abrasileira a linguagem inserindo em suas poesias palavras nativas e palavrões chulos, usando sempre o estilo barroco de mostrar uma visão de mundo conflituosa com antíteses, hipérboles, paradoxos, metáforas e simbolismo.
À Ilha Maré é um dos primeiros poemas de um brasileiro feitos em louvor à terra. Botelho de Oliveira descreve com todo o esmero de vocabulário típico dos barrocos os muitos frutos da terra, lembrando sempre a inveja que fariam às metrópoles européias.
I-Juca Pirama significa em tupi "o que há de ser morto" e é dividido em dez cantos. Neles Gonçalves Dias canta o índio tal qual o ideal do branco: valente, honrado e belo. A história: após uma tribo timbira vencer uma batalha contra os tapuias, um dos prisioneiros implora pela vida e liberdade temporariamente apenas para poder cuidar da vida do pai velho e cego, prometendo voltar depois. Os timbiras o libertam porque consideram-no covarde e indigno do ritual. Quando volta para o pai, este se desaponta e ambos partem de volta por iniciativa deste para o jovem tapuia se entregar. Lá o pai o rejeita ainda mais (ele havia chorado); o jovem então ataca seus captores e conquista a liberdade com valentia. Anos mais tarde o chefe timbira, que nunca esqueceu o ocorrido, conta a história do valente inimigo para os jovens.
Os Timbiras é uma narração dividida em uma introdução e quatro cantos. Neles são narrados os feitos de guerreiros timbiras, principalmente do chefe Itajuba e do jovem guerreiro Jatir. Altamente idealizados, estes índios falam apenas em valor, coragem, guerra e honra, num mundo populado por inimigos vis, piagas (pajés) sábios e guerreiros valorosos. O autor usa e abusa de termos em tupi e do verso branco (sem rima).
Auto do Frade é o relato da execução do Frei Caneca, um dos líderes da fracassada Confederação do Equador (republicana e separatista). Num clima ao mesmo tempo tenso (existe a possibilidade de rebeldes fugidos solttarem-no), religioso (a caminhada do frei alquebrado lembra e é sempre comparada a uma procissão com ele como santo) e esperançoso (existe uma espera por um indulto), o povo vai comentando a ida do frei a forca. A pós execrado pelo clero, Caneca é fuzilado pois nenhum carrasco ou condenado aceita executá-lo.
Dois Parlamentos é dividido em duas partes. A primeira é Congresso no Polígono das Secas, onde o autor compara permanentemente o sertão com um cemitério auto-suficiente, onde nasce e morre o sertanejo e nem mesmo os vermes proliferam. A segunda é Festa na Casa-grande. Nesta parte fala-se dos habitantes do engenho (os engenhos na época já eram poucos, definhando com a competição das usinas), sempre referidos pelo autor como cassacos (um pequeno mamífero), sempre pobres, sujos e famintos, com pouca instrução, chance de desenvolvimento e uma única certeza na vida: a morte na miséria. Todas as duas partes de Dois Parlamentos tem seus fragmentos precedidos por números aleatórios.
Morte e Vida Severina, que tem por subtítulo "auto de Natal pernambucano" começa com a apresentação de Severino de Maria do Zacarias, que é quase uma figura simbólica: o retirante sem nome, já que como ele haviam outros Severinos filhos de Maria e de Zacarias. Severino está seguindo o curso do Capiberibe em direção a Recife, e pelo caminho vai presenciando o rio seco, a morte dos retirantes, o empobrecimento das cidades e a banalização da morte que transforma os únicos empregos viáveis da região naqueles que lidam com a morte: coveiros, farmacêuticos, médicos, benzedeiras. Quando Severino chega no Recife percebe que a diferença é que lá a terra é mais macia, e os pobres que antes morriam na terra seca do sertão morrem nos úmidos manguezais que são o único lugar que lhes sobra. Num manguezal destes Severino está tendo uma visão cada vez mais derrotista da vida quando nasce uma criança e, após receber presentes humildes, duas ciganas prevêem que sua, vida enquanto não de opulência, será melhor que a dos pais. Em seus poemas de versos curtos, Morte e Vida Severina apresenta tanto uma visão pessimista da região quanto um final otimista com a perspectiva de melhora.
O Rio é um poema que apresenta preocupações sociais e até ecológicas. Descrevendo a viagem do rio Capiberibe do interior de Pernambuco até o mar, como que narrado pelo próprio rio, vai se mostrando o abandono das cidades no sertão, os retirantes, a pobreza, o empobrecimento, o desvio de rios para usinas, a desativação de engenhos e a poluição. Assim o Capiberibe passa e acaba por desaguar no mar, seu chamado original, logo após passar por Recife.