Esta parte do site contém os resumos dos diversos contos dos autores deste site. Livros com contos muito interligados como Noite na Taverna e ou que importam mais no conjunto como os de Simões Lopes Neto não se encontraram aqui, mas em suas respectivas escolas literárias. Muitos desses contos foram publicados em livros ainda em vida pelos autores, mas muitos permaneceram em jornais e revistas durante anos antes de serem publicados em livro (e alguns permanecem ainda, escondidos em algum canto, sendo descobertos por estudiosos até hoje).
A Cartomante (publicado no livro Várias histórias) narra a história de Camilo, Vilela e Rita. Os dois primeiros eram melhores amigos; a segunda era esposa do segundo e amante do primeiro. Quando Camilo começa receber denúncias anônimas, diminui a freqüência das visitas ao amigo. Preocupada, Rita visita uma cartomante, fato que faz Camilo rir. Quando Vilela chama Camilo a sua casa ele vai preocupado, e passa antes na cartomante pensando que não tem nada a perder. Ela lhe assegura que nada vai dar errado e ele chega despreocupado a casa de Vilela, onde encontra Rita morta. Vilela então o mata.
A Causa Secreta (publicado no livro Várias histórias) fala de dois homens que, após um salvar a vida do outro e passar-se algum tempo, tornam-se sócios. Mas pouco a pouco um deles vai demonstrando tendências sádicas, torturando animais, fato que atordoa a esposa. Quando ela morre, Fortunato, o sádico, presencia o amigo beijar a testa da mulher e derreter-se em choro, saboreando o momento de dor do amigo que lhe traía.
A Igreja do Diabo (publicado no livro Histórias sem Data) é uma nova idéia do diabo: fundar uma Igreja e organizar seu rebanho, tal qual Deus. Após comunicar Deus de seu futuro ato, vai à Terra e funda com muito sucesso uma Igreja que idolatra os defeitos humanos. Mas aos poucos os homens vão secretamente exercitando virtudes, Furioso, o Diabo vai falar com Deus, que lhe aponta que aquilo faz parte da eterna contradição humana.
Anedota Pecuniária (publicado no livro Histórias sem Data) é uma pequena crítica a ganância. Nela um homem "vende" suas sobrinhas aos homens que as amam por causa de sua fascinação com o dinheiro.
A Sereníssima República (publicado no livro Papéis Avulsos) é uma crítica ao processo eleitoral, feito como um discurso de um cônego que afirma ter achado uma espécie de aranha que fala e criado uma sociedade delas, uma república chamada Sereníssima República. Ele escolhe como sistema de eleição um baseado no da República de Veneza, onde retirava-se bolas de um saco com o nome dos eleitos. Este sistema vai sendo fraudado pelas aranhas, corrigindo-se, adaptando-se e variando-se diversas vezes e de diversos modos, eternamente corrupto.
Capítulo dos Chapéus (publicado no livro Histórias sem Data) é um conto onde aparece a frivolidade e ostentação da época de Machado. Mariana, após pedir ao marido que troque o seu simples chapéu, testemunha a sociedade (na famosa rua do Ouvidor) e acaba pedindo que ele permaneça com seu chapéu.
D. Paula (publicado no livro Várias histórias) conta sobre um casal que realiza uma separação temporária por ciúmes, com fundos, do marido. O caso é mediado pela tia da esposa, Dona Paula, que quando descobre quem é o outro, fica abalada. É o filho do homem com quem teve caso análogo, fato que deixa seus sentimentos bem abalados em relação ao caso.
Fulano (publicado no livro Histórias sem Data) Beltrão é um homem que vai aos poucos se tornando mais um homem público que privado após receber elogios públicos e acaba deixando seu dinheiro para a posteridade e não a família.
Galeria Póstuma (publicado no livro Histórias sem Data) é uma crítica a hipocrisia, onde o sobrinho de um falecido recente lê em seu diário as verdadeiras opiniões do tio sobre aqueles que o cercavam em vida, incluindo o rapaz.
Marcha Fúnebre (publicado originalmente em Relíquias da Casa Velha) são os pensamentos do deputado Cordovil sobre a morte durante o caminho de volta do Cassino até sua casa, logo após a morte de um inimigo político que estava doente. Aqui aparece principalmente a ironia e o pessimismo de Machado.
Missa do Galo (publicado no livro Páginas recolhidas) fala de uma singular conversa entre uma senhora de 30 anos e um jovem 17, que tinha que manter-se acordado para acordar o amigo para irem à missa do galo. Eles conversam, ele apieda-se dela (o marido traía e ela resignava-se), admira-a e distrai-se. Por fim o amigo lhe chama, já que já havia passado da meia-noite e ele nunca mais tem outra conversa profunda com ela. O que transpira aqui é a dúvida -- estaria ela tentando seduzi-lo, ou estaria ele apenas imaginando e fantasiando?
Noite de Almirante (publicado no livro Várias histórias) é sobre Deolindo, jovem marinheiro que volta de uma viagem longa para encontrar a namorada, com quem fizera um voto de fidelidade (e cumprira) com um novo homem. Ele a procura, conversa com ela, dá-lhe um presente e sai desesperado, pensando em suicídio. Não o comete, mas tem vergonha de admitir aos amigos a verdade e mente que realmente passou uma noite de almirante.
Pai Contra Mãe (publicado no livro Relíquias da Casa Velha) Cândido Neves, caçador de escravos fujões. Não o é por opção, apenas o é porque não agüenta qualquer outro emprego. Casa e passa a adquirir dívidas, com clientela cada vez menor; quando engravida a mulher, as dívidas aumentam. Depois de despejados vão morar em um quarto emprestado e o menino nasce. Após ceder às pressões da tia da esposa, Candinho vai por a criança na Roda dos enjeitados. Mas no caminho captura uma escrava, recebendo uma gorda recompensa, mantendo assim a criança. Mas a escrava estava grávida, e provavelmente abortou com os castigos recebidos, ficando a vida do filho de Candinho em troca da de outra
O Alienista (publicado no livro Papéis Avulsos) é sobre Simão Bacamarte, médico estudioso, cientista obcecado. Pensa Bacamarte que a ciência é tudo (casa-se com uma mulher mais jovem e pouco atraente apenas porque ela, cientificamente, lhe daria bons filhos; isso não acontece). Ao cabo de algum tempo ele decide construir um manicômio, para internar os doentes mentais que andam soltos ou trancados de modo subumano. Mas sua concepção de loucura vai se alargando, e aos poucos mais e mais pessoas vão sendo internadas, algumas por nada. A cidade vai revoltando-se em silêncio, alguns tentam fugir (alguns são capturados nisso), pensam que Bacamarte o faz por motivos pessoais; mas não, o faz por amor a ciência, tanto que pediu para não mais receber dinheiro para cuidar dos loucos. A revolta vai ganhando voz e a saúde mental do alienista duvidada . O povo em dado momento se revolta, e prestes a marchar contra o hospício (de nome Casa Verde), é impedido pelos Dragões. Mas os Dragões se juntam a eles. Eles derrubam o governo municipal e seu líder, o barbeiro, toma o governo da vila. O outro barbeiro lidera uma revolta e, após uma estranha reviravolta, Bacamarte volta a ter apoio da Câmara. E continua internando os loucos, incluindo a esposa (vaidosa após voltar do Rio de Janeiro) até que percebe que 80% da população está na Casa Verde. Liberta todos e passa a capturar todos aqueles que gozam perfeitamente de suas capacidades mentais, que eram exceção na cidade. Ao fim de um ano e pouco, a Casa Verde encontra-se vazia, todos os são, simples, modestos e bons devidamente enlouquecidos. Bacamarte então faz auto-análise e, e após discutir com outros, se recolhe a Casa Verde e morre depois de um ano e meio, sem sucesso em curar-se de sua sanidade.
O Caso da Vara (publicado no livro Papéis Avulsos) fala sobre Damião, um jovem seminarista que foge do seminário e refugia-se na casa de Sinhá Rita. Rita manda chamar o padrinho dele, João Carneiro, que vai pedir ao pai dele para retirar o rapaz do seminário. Enquanto esperam, Damião decide proteger uma jovem escrava de ser punida com uma vara caso não termine o trabalho a tempo. Quando volta uma mensagem de João, que diz precisar de tempo, Sinhá Rita responde com uma ameaça e diz que agora o caso é com ela. Quando vai a seguir punir aquela escrava, João lhe alcança a vara, pensando em quanto precisa sair do seminário.
O Enfermeiro (publicado no livro Várias histórias) conta sobre um homem que, a beira da morte, conta um caso de seu passado. Ele foi em 1860 ser enfermeiro de um velho e mau coronel, que acaba esganando alguns dias antes de partir por não mais o suportar. Quando abre-se o testamento ele é declarado herdeiro universal e distribui lentamente o dinheiro em esmolas. Enquanto isto se passa, vai lentamente se convencendo de sua inocência, apoiado pela sociedade que odiava o velho e suas ações que considera redentoras
O Espelho (publicado no livro Papéis Avulsos) conta sobre um homem falando de sua opinião sobre a alma humana num grupo de amigos que realizam discussões metafísicas. Ele descreve uma situação de sua juventude onde, após ter sido engrandecido pelo recém-conquistado posto de alferes, encontra-se sozinho. Solitário, passa a ter medo até a que um dia veste-se com seu uniforme de alferes e encara o espelho, encontrando assim o outro lado de sua alma (sua opinião é que temos duas almas, uma externa que nos vigia e a nossa que vigia o exterior). Isso retira-o da solidão.
Singular Ocorrência (publicado no livro Histórias sem data) é o relato de um homem a um amigo sobre o caso extraconjugal de outro amigo. Ele conta que esse amigo e a amante eram apaixonados (ela abandonou a difícil vida fácil por ele) e que, numa única vez, o traiu. E foi este caso que gerou um grande turbilhão emocional que quase acabou no rompimento e suicídio dela, mas eles por fim se reconciliam e vivem felizes até que ele muda de província e morre antes de voltar.
Teoria do Medalhão (publicado no livro Papéis Avulsos) é um pai aconselhando um filho no dia de seus 21 anos. Ele lhe diz que um futuro lhe espera, que pode ter várias carreiras diferentes, mas que devia ter uma de resguardo, preferencialmente a de medalhão. Para isto devia ter pouquíssimo conhecimento, originalidade, ironia, gosto ou qualquer idéia própria. E nisso disserta sobre a necessidade do filho de sempre manter-se neutro, usar e abusar de palavras sem sentido, conhecer pouco, ter vocabulário limitado, etc. Ao final, é uma bela ironia machadiana sobre como encontram-se os valores da sociedade de sua época.
Terspsícore (conto até pouco tempo inédito, publicado originalmente em um jornal), conta sobre Porfírio e Glória, um casal pobre e endividado, que está para ser despejado. Porfírio, usando parte de seu último pagamento antes de ser despejado, compra um bilhete de loteria. Ganha 1/2 conto de réis e paga as dívidas. E então dá uma festa para comemorar, tornando-se gastador das duas centenas de mil-réis que lhe sobraram, enquanto todos dizem que é muito mais.
Último Capítulo (publicado no livro Histórias sem data) é o bilhete de um suicida. Azarado a vida toda (ele literalmente caiu de costas e quebrou o nariz), sua vida foi povoada de desgraças. Quando estava inventariando os bens da esposa morta, achou cartas de amor de seu sócio. Decidiu matar-se e deixar em seu testamento a cláusula que deveriam ser comprados sapatos e distribuídos, já que vira um pobre coitado (mais que ele) feliz a contemplar seus calçados.
Um apólogo apresenta uma conversa imaginária entre agulha e linha. Ambas discutem qual das duas é a favorita da costureira, cada uma argumentando a favor de suas funções. A costureira chega e costura um vestido para uma baronesa. A linha vai ao baile enquanto a agulha fica triste na caixa, usada apenas para ter aberto caminho para a linha.
Um Homem Célebre (publicado no livro Papéis Avulsos) é sobre Pestana, um compositor eternamente assombrado pelo fato de nunca conseguir compor uma obra clássica, mas apenas as polcas que a principio tem orgulho, mas depois repudia. Casa-se achando que isso solucionaria o problema, mas não. Quando a esposa morre tenta escrever um réquiem e nada mais, mas não consegue nem um nem outro, tendo que voltar a trabalhar dois anos depois por necessidade. Quando morre entrega as duas últimas polcas ao escritor, sem nunca ter escrito uma obra clássica como a dos autores que tanto admirava.
A Nova Califórnia é uma crítica a ganância. Nele, um químico misterioso aparece na cidade de Tubiacanga. Anos depois de sua chegada, faz uma experiência na qual transforma ossos humanos em ouro. Ele convida três testemunhas (o farmacêutico, um fazendeiro e o coletor) para o ato , o realiza e depois desaparece da cidade. Então, os túmulos do cemitério da cidade, o "Sossego", começam a ser violados. Quando depois de um escândalo prendem dois violadores, eles mostram ser duas das testemunhas. O fujão é o farmacêutico. Quando a população descobre, vai até a casa do farmacêutico que promete divulgar a fórmula do dia seguinte. Assim, naquela madrugada a população inteira se esgueira para o cemitério para violar tantos túmulos quanto puderem (e ter tanto ouro quanto puderem depois). O que acontece é uma carnificina que deixa no cemitério em uma noite mais mortos que em seus 30 anos anteriores. O único que não se mete na confusão é um bêbado da cidade, que calmamente sobra na cidade-fantasma.
A sombra do Romariz é uma pequena alfinetada no hábitos políticos do tempo. Nela um tipógrafo explica que não trabalha à noite porque se lembra de um revisor chamado Romariz que morreu quando, em 1890, empastelaram um jornal monarquista no qual trabalhava, deixando a família do pobre na miséria.
Carta de um Defunto Rico é a carta escrita pelo defunto José Boaventura da Silva dizendo o quào feliz ele está por estar livre da sociedade e de suas pressões, assim como fala um pouco de como os homens lidam com a morte ("enterros… são feitas por vivos para os vivos.").
Como o "Homem" Chegou é uma crítica a burocracia. Numa delegacia do interior um delegado manda um louco em um carro blindado. Mas o médico que vai com ele é tão "intelectual" que ao cabo de uma viagem de dois anos, com total falta de cuidado com o louco e um excesso de preocupação técnica, o paciente chega morto.
Eficiência Militar é uma "historieta chinesa" onde o vice-rei do Cantão gasta muito para equipar seu exército às custas do povo trabalhador chinês.
Fim de um Sonho é um cavalheiro contando a efemeridade do luxo, já que ele tinha ricos amigos e passava noites luxuosas até que o clube onde jogava fechou e um de seus amigos foi preso.
Foi buscar Lã… é uma crítica dupla, mas com um final feliz: o advogado nortista Praxedes, que finge ter dinheiro e faz uma ostentação exagerada, é o primeiro retratado. Em seguida acontece um crime e prende-se o negro "Casaca", empregado da vítima (que ficou em estado de choque). Praxedes vai defendê-lo (ele nunca defende causas criminais) e a vítima, recuperada, entra e revela que o verdadeiro criminoso é Praxedes.
Lourenço, o Magnífico, é um novo-rico que lucra com a guerra e gasta grandes somas com a esposa e obras de arte vazias ao invés de ajudar os pobres de quem tem asco.
Manel Capineiro é um dos vários habitantes de uma favela que Lima Barreto descreve. Manel sobrevive colhendo capim e entregando-o com seus dois bois. Português, Manel gosta da terra e dos animais, mas um trem estraçalha ambos. Aqui Lima Barreto faz uma análise dos indivíduos pobres das mais renegadas partes do Rio de Janeiro.
Milagre de Natal é uma apresentação múltipla de temas de Lima Barreto: o casamento mais por interesse que amor, a burocracia inepta e a mania brasileira de aristocracia. Nele a filha de um burocrata casa com agregado do pai que é promovido (no Natal, logo o título), logo após anunciar que escreveria um livro sobre Direito Adiministrativo.
Miss Edith e seu tio são um casal inglês que chega a uma pensão do Rio e mantém-se afastadamente superiores. Todos os habitantes da pensão comentam sobre eles e sua suposta superioridade física, intelectual e moral, mas no final do conto uma das empregadas flagra Edith saindo do quarto do "tio".
O cemitério é o relato de um homem passando por um cemitério e observando as lápides e comparando-a a sociedade. Em seguida, observa um túmulo de uma mulher e põe-se a imaginar como ela era viva, chegando sentir luxúria pela morta.
O falso D. Henrique V é uma crítica à história do Brasil. Conta os fatos que cercaram a proclamação da República da Bruzundanga (ver Os Bruzundangas), toda a corrupção que se seguiu e da revolta popular que restabeleceu ao trono o herdeiro do rei, o jovem D. Henrique. Com o detalhe que o verdadeiro estava morto há anos. Mas este D. Henrique governa e, já velho, proclama ele mesmo a República.
O Filho da Gabriela ficou órfão aos seis anos. Gabriela era empregada numa casa onde o casal sem filhos vivia hipocritamente em matrimônio. Batizado de Horácio, ficou morando com os padrinhos (os patrões de sua mãe) e cresceu quieto. E assim passaram os anos, com Horácio sempre quieto, aos poucos ganhando confiança para se afastar do padrinho que não lhe gosta. Quando acaba o contos, está febril na cama.
O Homem que sabia Javanês não o sabia realmente. O conto é um relato de um amigo a outro sobre uma das espertezas que usou para sobreviver: fingir saber javanês e ensiná-lo. Logo aprendeu o alfabeto e meia dúzia de palavras e pôs-se a ensinar o velho que o contratou; logo já "lia" em javanês para o velho (que desistira de aprender) e publicava sobre Java. Foi nomeado cônsul e representou o Brasil em uma reunião de sábios; deu palestras e publicou pelo mundo sobre Java. No final do conto ainda estava em cargos consulares por "saber" javanês.
O Jornalista Nabor de Azevedo é o instrumento de um tema importante de Lima Barreto: a imprensa maléfica de sua época. Nabor vive em uma cidade pequena e, em sal ganância e vaidade, cria uma notícia: põe fogo numa casa. Tudo para vencer o concorrente. Mas tudo fica tão óbvio que ele é pego.
O meu Carnaval é Valentim descrevendo como, após se "voluntariar" para a para a Guarda Nacional e "doar" o dinheiro para a caixa do regimento, passa o Carnaval servindo seu corrupto oficial e acaba preso por guardas que não acreditam que ele realmente faz parte da Guarda.
O Número da Sepultura de sua avó foi o que Zilda escolheu para jogar no bicho. Zilda é uma jovem dona de casa suburbana num casamento monótono com Augusto. Sua avó lhe diz em sonho para jogar no número de sua sepultura, 1724, e ela joga no bicho e ganha. Augusto fica feliz e há festa, mas no mês seguinte é ele que paga o aluguel. Aqui aparece de novo a versão de Lima Barreto do casamento: quase um contrato entre duas pessoas, feito de curiosidade e conveniência ao invés de amor.
O pecado é uma crítica ao preconceito racial: São Pedro examina uma alma e vê um digno de sentar-se a direita do trono por toda eternidade, mas como o escriturário nota, é a alma de um negro e deve ir ao Purgatório…
O tal negócio de "prestações" arruina José. Após ganhar no jogo do bicho ele distribui dinheiro para a esposa e as filhas, que se endividam com prestações de futilidades com as quais ele acaba tendo de arcar.
O Único Assassinato de Cazuza foi um tanto banal: ele matou um pinto quando tinha sete anos. Mas o que transparece no conto é o valor que o autor dá à vida e ao horror que ele tem de tirá-la (e também muitas alfinetadas nos assassinatos políticos que eram muito comuns na época).
Quando ela deu o sim, mas… é a crítica de Lima Barreto aos aproveitadores de seu tempo. Nele João Cazu, um malandro jogador de futebol (esporte que Lima Barreto desprezava), tenta se aproveitar de Ermelinda, viúva com quem quer casar apenas para ter uma empregada. Ela aceita, mas antes diz que ele tem que arranjar emprego, etc. e ele sai e não mais volta.
Três Gênios de Secretaria é uma pequena crítica de Lima Barreto aos três tipos de burocrata: o honesto e insípido, o desonesto e simpático e o pior: o ameba, inútil, vazio, metido a literato, parasita da sociedade e produto típico de uma burguesia tola e falsa. É importante notar que este conto é "escrito por Augusto Machado", o mesmo autor ficcional de Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá.
Um e outro é sobre Lola, uma espanhola que emigrou pobre para o Brasil, abandonou o esposo e tronou-se amante de luxo do homem que fora seu patrão. Mas apesar de todos os seus amantes ricos e poderosos, gosta mesmo é do rude chofer que dirige o carro luxuoso em que passeia. Quando vai ao encontro dele, após um hiato de uma semana, este revela que deixou de dirigir o carro de luxo para dirigir um táxi. Ela imediatamente perde a atração que sentia em relação a ele, muito interligada ao carro que ele dirigia. Então ela deita-se com ele, repugnada, pela última vez.
Um Especialista é o diálogo de dois abastados portugueses de meia-idade sobre mulheres. Um deles prefere as brancas estrangeiras, o outro as mulatas e negras. Este último vai relatando sobre uma que conheceu nos últimos dias, muito bonita, que ao final a história é mostrada como sendo sua filha.
Um que Vendeu a Alma o fez por pouco: 20$000. Nesta anedota Lima Barreto critica o pouco valor que tem os homens (o cara se vende por uma ninharia) e a capacidade do ser humano de entregar o que lhe é de mais pessoal.
Iniciado por Artigo de Fundo, o prefácio onde o autor anuncia que a obra é um jornal, não moralizador, e órgão dos ítalo-brasileiros. A linguagem é uma mistura de português e italiano, e a obra está cheia de referências temporais como nomes de rua e marcas de produtos. O artigo também declara não ser a obra satírica. Os 11 contos que seguem são muito curtos e diretos, sendo quase crônicas. Em negrito, os títulos. Gaetaninhio era um jovem que sonhava sempre em ir na frente de um cortejo fúnebre; atropelado por um bonde, acaba realizando, morto, seu sonho. Carmela é uma jovem bonita que é cortejada neste conto, mas o foco da história está em sua estrábica amiga Bianca, que não é desejada por ninguém. Tiro de Guerra no 35 se fixa na figura de Aristodemo Guggiano, jovem *muito* patriótico que acaba por estapear outro soldado por ele não ser brasileiro. Aqui o nacionalismo exagerado é satirizado. Amor e Sangue é a história de um homem, Nicolino, que mata por amor, e fica com o crime publicado e levado ao público como um quarteto. A Sociedade feita por dois pais, um português e o outro italiano, é o que demove o primeiro de não deixar sua filha casar "com filho dum carcamano." Lisetta é uma menina que faz um escândalo a não ganhar um ursinho, e apanha por isso, mas fica contente depois que seu irmão a presenteia com ele. Coríntians (2) vs. Palestra (1) é um jogo de futebol que acaba por deixar Miquelina desapontada, já que ela torce pelo Palestra (começou após romper relacionamento com Biagio, jogador do Coríntians). Notas Biográficas do Novo Deputado é um título que dá a entender que o jovem Januário, ex-Gennarinho, que neste conto começa a ser criado por família de origem portuguesa, sucederá na vida. O Monstro de Rodas é o relato de um enterro que parece não o ser, já que apenas Dona Nunzia, a mãe da criança falecida, mostra luto. Armazém Progresso de São Paulo é sobre sonhos de riqueza e como pessoas pobres apenas tem sonhos. Nacionalidade é sobre Tranquillo Zampinetti, um imigrante italiano que vai se transformando de um homem que só queria falar sua língua-mãe até um que começa a votar e se naturaliza brasileiro.