É de manhã.
Pracinha perto de casa.
Sentada na grama,
contemplo a natureza.
Verde. Verão. Ar puro.
Dezenas de bicos-de-lacre
sobrevoam em círculos.
Patinam uma valsa vienense.
Ora abrem as asas;
ora fecham. Ora planam.
Cantam e me encantam.
Às vezes tão próximos,
rentes à minha mão estentida...
Vem...vem...Oh! Quase...
15/01/98
Reconstrução
(Abstinência sexual)
Um ano pra decidir.
Começou a reconstrução.
Um dormitório amplo.
Lá , na frente.
Um ano pra conseguir.
Fiz a cirurgia.
Convalescença demorada.
Quarenta dias...
De abstinência sexual.
O dormitório, menos tempo.
Vinte dias.
Vamos comemorar,
Vamos estrear
nosso novo dormitório. Nosso velho amor.
15/01/98
SÃO PAULO
Minha querida São Paulo
Te amo cada vez mais
Apesar da violência
Apesar da injustiça social.
Quanto caminho por tuas ruas!
Quanto trafego por tuas estradas e avenidas!
És bela demais!
Muitas vezes, triste: meninos de rua.
Triste por tuas inúmeras favelas e becos.
Imponente nos teus edifícios.
Cheirosa nos teus shoppings.
Mau-cheirosa nos leitos dos teus rios.
Culta, nos teus centros culturais.
Alegre, nos teus carnavais.
Desonesta, nos teus politiqueiros.
Honesta, no teu povo.
Magnífica, no teu alvorecer.
Ao meio-dia – gastronomia.
à tarde – engarrafamento.
Ao anoitecer – melancolia.
Quatro. Quatro. Quatro.
Quatrocentos e quarenta e quatro.
És tão bela!
És tão jovem! Te amo!
19/01/98 - 17h00
AGUARDA-ME
Sozinha...
no meu quarto...de hospital.
Vejo-me invisível,
lá, no meu lar.
Caminhando
por entre os cômodos.
Meus entes queridos
sentem a minha presença,
mas reclamam
da minha ausência...física.
Que importa? Estou presente.
"Guerra nas estrelas":
estou lá, estou cá.
É fácil me transportar.
É só me concentrar.
Falta pouco
pra eu voltar.
Aguardem-me!
Cuca, tenha paciência
e conforte as crianças.
Estou voltando...Voltei! Abracem-me!
15/01/98