Depois da série de trocadalhos do
Fernando, acabei estimulado a publicar estas lembranças, vindas à
tona como efeito de uma matéria do Almanaque
da TAM deste mês, a propósito do Dia Mundial da Poesia. O texto
versa sobre um nosso coestaduano, o poeta ouropretano Bernardo Guimarães.
A matéria fez-me lembrar um período
compreendido entre meus doze e treze anos de idade, quando um de seus
poemas, O Elixir do Pajé, juntamente com os chamados
“catecismos”, de Carlos Zéfiro, e com alguma revista sueca
ensebada (naturalmente, alugada de algum colega mais velho, por todo o
dinheiro da semana para o lanche no colégio) eram todo o nosso “kit
de educação sexual”, à época. Sem mais delongas, vamos ao
artigo, que cuidei de linkar com os poemas citados.
”Em 15 de agosto de 1825, Ouro Preto
ganha um ilustre poeta do Romantismo: nasce Bernardo Guimarães, autor
do propalado romance A Escrava Isaura. Enquanto seus colegas Castro
Alves e Álvares de Azevedo escrevem obras sentimentais e emotivas,
como Espumas Flutuantes e Lira dos Vinte Anos, Bernardo segue outro
rumo. Usa a rica oratória em uma poesia irreverente: o bestialógico.
Eram poemas bem metrificados e precisos, mas que formavam versos
desconexos, de sentido confuso. Com apurado humor, era capaz de rimar,
em um poema supostamente de amor, escada com marmelada. Em outro, faz
uma ode ao charuto.
Preterido pela crítica, o
“bestialogista-mor” recebeu apenas recentemente um exame mais
detalhado. Pérolas como A Orgia
dos Duendes e o inusitado Parecer
da Comissão de Estatística a Respeito da Freguesia de
Madre-de-Deus-do-Angu ficaram bom tempo na gaveta, esquecidos.
Enquanto Gonçalves Dias saudava os índios
em O Canto do Guerreiro, Guimarães ironizava com os pornográficos O
Elixir do Pajé e A Origem do
Mênstruo, que circulam clandestinos em 1875.
Até José Bonifácio, o Patriarca da Independência, experimentou um
pouco do seu tempero, arriscando sua verve bestialógica em O Barão e
Seu Cavalo. Mas Bernardo é inconteste. Seus poemas se espalham na
boca do povo. Segundo o jornalista Artur Azevedo, sobre O Elixir do
Pajé, mesmo sem ter sido impresso na época, “é raro o mineiro que
o não saiba de cor”. (DG)
SAIBA MAIS
Poesia Erótica e Satírica, de Bernardo Guimarães (Imago, 1992). “