O Que Está Escrito? - Junho 1997
[Como
Neemias Orou] [Estudo Textual: 1 Pedro
5:1-14 Precisamos Estar Alertas e Vigilantes]
[O Que Significa Perdoar?] [O Que a Bíblia Diz?
É Errado Ser Rico?]

O Que Significa Perdoar?
José tinha apenas dezessete anos
quando seus irmãos, friamente, venderam-no para a escravidão. Separado de sua
família e do seu país, ele atingiu a posição de supervisor da casa de
Potifar, seu senhor egípcio. Mas o desastre atingiu-o novamente. Ele recusou os
avanços sexuais da esposa de Potifar e ela acusou-o falsamente de assediá-la.
Ele foi posto na prisão, onde, mais uma vez, o Senhor estava com ele e se
tornou o supervisor dos outros prisioneiros. José permaneceu nessa prisão pelo
menos durante dois anos (Gênesis 37; 39).
Faraó, rei do Egito, teve um sonho
e desejava sua interpretação. José foi capaz, pelo poder de Deus, de
interpretar o sonho de Faraó e foi exaltado a uma posição de poder próxima
à do próprio Faraó. Este fê-lo encarregado da armazenagem e da distribuição
dos cereais em toda a terra do Egito. Foi depois disto que os irmãos de José
vieram ao Egito para comprar cereais. Estava dentro do poder de José tomar
vingança contra aqueles que tinham pecado contra ele tantos anos atrás.
Contudo, a Bíblia nos conta que José experimentou seus irmãos e, tendo visto
o arrependimento deles, recebeu-os com lágrimas e afeto (Gênesis 45:1-15). Ele
os tinha perdoado por seu pecado.
Muitas pessoas não perdoariam, como
José o fez. Não é fácil, freqüentemente, perdoar, e quanto maior a
intimidade que temos com aquele que peca contra nós, mais difícil é perdoá-lo.
As Escrituras nos ensinam, contudo, que a má vontade em perdoar os outros nos
retira o perdão divino. Jesus ensinou: "Porque, se perdoardes aos
homens as suas ofensas, também vosso Pai celeste vos perdoará; se, porém, não
perdoardes aos homens as suas ofensas, tampouco vosso Pai vos perdoará as
vossas ofensas" (Mateus 6:14-15). Desde que todos os indivíduos
responsáveis diante de Deus necessitam de perdão, é portanto indispensável
que entendamos e pratiquemos o perdão.
O que é o Perdão?
A palavra grega traduzida como
"perdoar" significa literalmente cancelar ou remir. Significa a liberação
ou cancelamento de uma obrigação e foi algumas vezes usada no sentido de
perdoar um débito financeiro. Para entendermos o significado desta palavra
dentro do conceito bíblico de perdão, precisamos entender que o pecador é um
devedor espiritual. Até Jesus usou esta linguagem figurativa quando ensinou aos
discípulos como orar: "e perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós
temos perdoado aos nossos devedores" (Mateus 6:12). Uma pessoa se
torna devedora quando transgride a lei de Deus (1 João 3:4). Cada pessoa que
peca precisa suportar a culpa de sua própria transgressão (Ezequiel 18:4,20) e
o justo castigo do pecado resultante (Romanos 6:23). Ele ocupa a posição de
pecador aos olhos de Deus e perde sua comunhão com Deus (Isaías 59:1-2; 1 João
1:5-7).
A boa nova do evangelho é que Jesus
pagou o preço por nossos pecados com sua morte na cruz. Quando aceitamos o
convite para a salvação através de nossa obediência aos mandamentos de Deus,
ele aceita a morte de Jesus como o pagamento de nossos pecados e nos livra da
culpa por nossas transgressões. Não ficamos mais na posição de infratores da
lei ou devedores diante de Deus. Somos perdoados!
O perdão, então, é um ato no qual
o ofendido livra o ofensor do pecado, liberta-o da culpa pelo pecado. Este é o
sentido pelo qual Deus “esquece” quando perdoa (Hebreus 8:12). Não que a
memória de Deus seja fraca. Por exemplo, Deus lembrou-se do pecado de Davi a
respeito de Bate-Seba e Urias muito tempo depois que Davi tinha sido perdoado (2
Samuel 12:13; 1 Reis 15:5). Ele liberta a pessoa perdoada da dívida do seu
pecado, isto é, cessa de imputar a culpa desse pecado à pessoa perdoada (veja
Romanos 4:7-8).
O Perdão é Condicional
É importante entender que o perdão
de Deus é condicional. Deus perdoa livremente no sentido que ele não exige a
morte do pecador que responde a seu convite de salvação, permitindo que a
morte de Jesus pague a pena por seus pecados. Contudo, Deus exige fé,
arrependimento, confissão de fé e batismo como condições para o perdão do
pecador estranho (Marcos 16:16; Atos 2:37-38; 8:35-38; Romanos 10:9-10). O perdão
é também condicional para o cristão que peca. O arrependimento, a mudança de
pensamento, precisam ocorrer antes que o perdão divino seja estendido (Atos
8:22). Deus nos chama a perdoar assim como ele perdoa. Quando alguém peca
contra mim, ele se torna um transgressor da lei de Cristo. Eu o considero um
pecador. Se ele se arrepende e pede para ser perdoado, eu tenho que perdoá-lo,
isto é, libertá-lo de sua culpa como transgressor. Quando eu o perdoo, não o
considero mais um pecador. Posso não ser literalmente capaz de esquecer o
pecado que ele cometeu mais do que Deus literalmente "esquece" nossos
pecados, mas preciso deixar de atribuir a ele a culpa pelo seu pecado. Deste
modo, eu o liberto de sua "dívida"”
E se o pecador não se arrepender?
Tenho que perdoar aquele que peca contra mim, mas não se arrepende? Talvez esta
pergunta seja melhor respondida pelas palavras de Jesus: "Acautelai-vos.
Se teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender, perdoa-lhe.
Se, por sete vezes no dia, pecar contra ti e, sete vezes, vier ter contigo,
dizendo: Estou arrependido, perdoa-lhe" (Lucas 17:3-4). Jesus
indicou que o perdão deveria ser estendido quando o pecador se arrepende e
confessa seu pecado. Precisamos também lembrar que Deus sempre exige
arrependimento como condição de divino perdão. Deus não exige de nós o que
ele mesmo não está querendo fazer.
Perdão Não É . . .
De fato, se libertamos o pecador de
sua culpa sem arrependimento, encorajamo-lo a continuar em seus modos
destruidores. O perdão não é a desculpa pelo pecado. Algumas pessoas
"esquecem," isto é, ignoram os pecados cometidos contra elas porque têm
medo de enfrentar o pecador. Entretanto a Bíblia é bem explícita sobre o
curso da ação a ser seguida quando um irmão peca contra mim (Lucas 17:3;
Mateus 18:15-17). O perdão fala de misericórdia, mas não deverá ser
confundido com a tolerância e permissão do pecado. O Senhor perdoará ou punirá
o pecador, dependendo da reação do pecador ao evangelho, mas ele não tolera a
iniquidade.
A Bíblia ensina que o direito de
vingança pertence ao Senhor (Romanos 12:17-21). O perdão, contudo, não é
simplesmente uma recusa a tirar vingança. Algumas vezes a pessoa ofendida abstém-se
de responder ao mal com o mal, mas não está querendo libertar o pecador de sua
condição de transgressor mesmo quando o pecador se arrepende. A pessoa contra
quem se pecou pode querer usar o pecado como um cacete para castigar o pecador,
mencionando-o de vez em quando para vergonha do pecador. Se perdoo meu irmão,
tenho que "esquecer" seu pecado no sentido que não mais o atribuo a
ele.
O perdão não é a remoção das
consequências temporais de nosso pecado. O homem que assassina outro pode
arrepender-se e procurar o perdão, mas ainda assim sofrerá o castigo temporal
da lei humana. Mesmo se perdoado, pode ter que passar o resto de sua vida na
prisão. O perdão remove as consequências eternas do pecado!
Como Posso Perdoar?
O pecado danifica as relações
entre as pessoas como prejudica nossa relação com nosso Criador. A pessoa
contra quem se pecou frequentemente se sente ferida, talvez irada pela injustiça
do pecado cometido. O perdão é necessário para a cura espiritual da relação,
mas precisamos preparar nossos corações para perdoar. Precisamos aceitar a
injustiça do ferimento, a deslealdade do pecado, e ficarmos prontos para
perdoar (observe os exemplos de Jesus e Estevão; Lucas 23:34; Atos 7:60). Mesmo
se o pecador se recusar a se arrepender, não podemos continuar a nutrir a
raiva, ou ela se tornará em ódio e amargura (veja Efésios 4:26-27,31-32).
Ainda que o pecador possa manter sua posição como transgressor por causa de
sua recusa a se arrepender, seu pecado não deverá dominar meu estado
emocional.
E se o pecador se arrepender? Como
posso aprender a perdoar? Jesus contou uma parábola sobre um servo que devia
uma quantia enorme (10.000 talentos) ao seu rei (Mateus 18:23-35). Ele era
incapaz de pagar a dívida e implorou ao rei por compaixão. O rei perdoou-o por
sua enorme dívida, mas este servo prontamente saiu e encontrou um dos seus
companheiros servos que devia a ele uma quantia relativamente pequena e exigiu
pagamento, agarrando-o pelo pescoço. Ainda que o companheiro de servidão
implorasse por compaixão, o credor entregou-o à prisão. Quando o rei foi
informado dos atos de seu servo incompassivo, irou-se e reprovou este servo,
entregando-o aos torturadores até que ele pagasse totalmente sua dívida. É
claro que estamos representados na parábola pelo servo que tinha uma dívida
enorme. Não há comparação entre as ofensas que temos cometido contra Deus e
aquelas que têm sido cometidas contra nós. Jesus observou que, justo como no
caso do servo não misericordioso, o Pai não nos perdoará por nossas infraçõe
se não perdoarmos nossos companheiros (18:35; veja também Mateus 5:7).
Para nos prepararmos para perdoar,
precisamos lembrar que nós mesmos somos pecadores e necessitados do perdão
divino (Romanos 3:23). No caso do cristão, Deus já lhe perdoou uma imensa dívida
no momento do batismo. Quando nos lembramos da grandeza da dívida que Deus quer
nos perdoar, certamente podemos perdoar aqueles que nos devem muito menos em
comparação (Efésios 4:32; Colossenses 3:13).
por Allen Dvorak
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