Em Agonia num Jardim

Tendo terminado a Festa da Páscoa e tendo sido proferidos o discurso de João 14-16 e a oração de João 17, Jesus atravessou o vale com os onze discípulos para o monte das Oliveiras.  Muitas vezes ele se retirou para aquele monte e ia até o jardim do Getsêmani para descansar, orar e ter momentos de comunhão com os discípulos, muitas vezes também passando a noite ali (Lucas 21:37; João 18:2).  Essa noite era diferente.  Ele estava bem consciente do que lhe esperava.  Ele já tinha sido traído por um de seus apóstolos e vendido por 30 moedas de prata; o impetuoso Pedro o negaria três vezes antes do galo cantar na manhã seguinte; os demais apóstolos se espalhariam como ovelhas sem pastor; ele passaria pela farsa de um julgamento, seria despido, açoitado, esbofeteado, cuspido e por fim crucificado.  Sabendo plenamente tudo o que estava para acontecer, ele procurou um lugar solitário para orar.

Jesus deixou oito dos discípulos na entrada do jardim e disse:  "Assentai-vos aqui, enquanto eu vou ali orar" (Mateus 26:36).  Depois levou Pedro, Tiago e João consigo para o jardim.  Então aconteceu aquela espantosa e misteriosa agonia:  ele começou a ficar profundamente triste, como se estivesse para morrer.  Ele se virou para os três e disse:  "Ficai aqui e vigiai comigo" (Mateus 26:38).  Afastando Jesus só um pouco deles (Lucas 22:41), caiu com o rosto em terra e orou:  "Meu Pai, se possível, passe de mim este cálice!  Todavia, não seja como eu quero, e sim como tu queres" (Mateus 26:39).

O nosso Senhor estava prestes a andar pelo "vale da sombra da morte" e era como uma tempestade que estava sobre ele.  Será que estava com medo de morrer?  Terá sido esse o motivo de sua agonia?  Seria a morte o "cálice" que ele queria que fosse afastado?  Podemos estar quase certos de que não era apenas o medo de morrer que o deixou "em agonia" enquanto "seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra" (Lucas 22:44).  Muitos entre o povo de Deus e mesmo alguns ímpios encontraram-se com a morte e hesitaram com medo; mas sabemos com que segurança e tranqüilidade o Senhor suportou a vergonha da cruz.

Não podemos compreender todo o significado dessa agonia por demais tremenda, mas devemos constantemente contemplá-la com respeito e gratidão.  Se não fosse o Getsêmani, nunca teria havido o Calvário.  Ele tinha o poder de convocar 10 mil anjos e gritar "Chega" a qualquer momento, mas ele passou por tudo aquilo por você e por mim. Onde ele conseguiu força para não desistir?  Na epístola aos hebreus, temos mais alguns detalhes comoventes:  "Jesus, nos dias da sua carne, tendo oferecido, com forte clamor e lágrimas, orações e súplicas a quem o podia livrar da morte e tendo sido ouvido por causa da sua piedade, embora sendo Filho, aprendeu a obediência pelas cousas que sofreu" (Hebreus 5:7-8).  Jesus orou intensamente e verteu lágrimas.  Desceu um anjo do céu para consolá-lo e fortalecê-lo, cumprindo Salmo 91:11.  Jesus pediu que o "cálice" fosse afastado, mas ele não o foi.  Ele ainda tinha de tomar do cálice, mas com a força do Pai e o consolo do anjo, ele teve condições de suportá-lo.

Poucos dias antes dessa agonia no jardim, a impenitência de Jerusalém tinha-lhe arrancado algumas lágrimas; e agora, quando a profunda perversidade dos homens, os pecados dos apóstolos e das autoridades de seu próprio país achavam-se ao seu redor, é bem possível que ele tenha agonizado diante dessa desalentadora perspectiva.  Ele tinha amado aquelas pessoas.  Ele tinha descido do céu para salvá-las, e elas se apressavam para o pecado mortal, para a completa ruína. Jesus estava bem consciente do fato de que ele seria feito pecado por todo o mundo.  Isaías informa-nos que "o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos" (Isaías 53:6).  Paulo disse:  "Aquele que não conheceu pecado, ele [Deus] o fez pecado por nós" (2 Coríntios 5:21).  Uma vez que Deus o fez pecado por todo o mundo, podemos estar certos de que todos os pecados desde o primeiro, cometido por Eva, até o último a ser cometido pelo último homem S todos se fizeram um só fardo de terror acumulado sobre "o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo".  Aquele que não tinha pecado estava prestes a ser a nossa oferta pelo pecado.  Ele sabia que, por causa de nossos pecados, Deus, o Pai, haveria de abandoná-lo por um breve instante.  Na cruz, Jesus exclamou:  "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?".  Embora Deus o amasse como Filho, teve de voltar as costas para Jesus por causa dos nossos pecados.

Jesus veio aos apóstolos como se buscasse a compreensão e a afeição deles, em seu isolamento e em sua profunda tristeza.  Mas eles dormiam.  "Esperei por piedade, mas debalde; por consoladores e não os achei" (Salmo 69:20).  Ele disse a Pedro:  "Então nem uma hora pudestes vós vigiar comigo?" (Mateus 26:40).  A tentação estava bem perto.  Eles precisavam estar atentos; eles precisavam orar.

Três vezes ele agonizou em oração. Com tranqüilidade, ele pôde por fim dizer: "Se não é possível passar de mim este cálice sem que eu o beba, faça-se a tua vontade". Era chegada a sua hora, e ele estava pronto. Ele tinha educa-do a sua vontade humana chegando à completa resignação, à harmonia abso-luta com a vontade do Pai. Ele estava pronto para morrer por você e por mim.

- por Bob Buchanon

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