RESENHA VETERINÁRIA |
por Elisabeth Rodrigues |
PLANTAS ORNAMENTAIS TÓXICAS
O envenenamento, assim como danos causados por plantas, é um problema potencial na prática clínica de animais de pequeno porte durante qualquer época do ano e em qualquer região do país. Os efeitos podem ser menores, como naúsea e o vômito associados ao consumo de gramas pelos cães, ou então a morte pode ocorrer dentro de poucas horas da ingestão de plantas tão altamente tóxicas.
Na maioria dos casos é necessária a ingestão da planta para que ocorra o envenenamento mas algumas plantas produzem irritação na pele e mucosas, danos mecânicos, ou fenômenos alérgicos sem que tenham sido ingeridas.
FATORES QUE INFLUENCIAM NO ENVENENAMENTO POR PLANTAS
Muitos fatores devem ser considerados durante a avaliação do potencial para um envenenamento por plantas, dentre eles, o histórico do animal quanto a ingestão ou mastigação de plantas, a idade dos animais, outras atividades ou mudança comportamentais, uma mudança no ambiente, e os hábitos alimentares normais do animal e de seu dono. Também fatores relacionados com a planta, assim como a sua identidade, a parte e a quantidade consumida, devem ser considerados.
SISTEMAS AFETADOS POR PLANTAS VENENOSAS
Todos os sistemas do corpo podem ser afetados por plantas venenosas, sendo que muitas delas afetam mais de um sistema, além de os efeitos observados poderem variar além do curso da doença.
O sistema gastrointestinal é, sem dúvida, o sistema afetado com maior frequência pela ingestão de plantas (ex. Hera). O sistema cardiovascular é por alguns dos tóxicos mais potentes das plantas, produzindo bradicardias e arritmias. Outras variedades de plantas afetam o sistema nervoso de diversas maneiras (efeitos alucinógenos, convulsões, etc.). Algumas plantas podem também causar irritação ou dano mecânico aos animais com os quais têm contato ( irritações significantes na boca, faringe e esôfago, acompanhados de salivação e edema ), como é o caso da comigo-ninguém-pode.
PLANTAS TÓXICAS
Comigo-Ninguém-Pode
Arácea, cujas folhas grandes mostram desenhos coloridos muito ornamentais e por esta
razão bastante encontrada em ambientes domiciliares.
1. Família / Ordem : Araceae / Spathiflorae (Arales).
2. Espécies: Dieffenbachia picta Schott (sul do Brasil), Dieffenbachia seguine
Schott (norte do Brasil).
3. Nomes populares: Comigo-ninguém-pode, Aningá-do-Pará (Amazonia), Bananeira
dágua (Céara).
4. Aspectos Botânicos: Planta ornamental cultivada em vasos. Apresenta espesso
caule erecto; folhas grandes, oblongas, vistosas, pecioladas, verde-escuras, com manchas
esbranquiçadas; flores unissexuadas, dispostas em espádice, com as flores masculinas
ocupando a porção superior da inflorescência; frutos bagas, vermelho-alaranjadas.
Possui seiva leitosa, de odor pungente. Reproduz-se por estaca.
5. Animais afetados: Cães (jovens), pequenos ruminantes.
6. Toxicologia: As propriedades tóxicas da Diffenbachia picta, bem como de outras
espécies deste gênero e da família, decorrem principalmente da existência em todas
suas partes, particularmente no caule, folhas e no látex, de cristais de oxalato de
cálcio, que agiriam por ação mecânica irritativa (irritante das mucosas). Admite-se,
no entanto, a existência de outros princípios tóxicos talvez saponinas. Como o quadro
clínico apresentado pelo tóxico ultrapassa os efeitos da simples irritação produzida
pelos cristais, considera-se também a existência de um princípio ativo
hipersensibilizante.
7. Sinais e sintomas: A ingestão de qualquer parte da planta ou o simples ato de
mastigá-la são seguidos rapidamente por intensas manifestações de irritação de
mucosas, edema de lábios, língua e palato com dor em queimação, sialorréia, disfagia,
cólicas abdominais, naúseas e vômitos. Algumas vezes observam-se também sinais de
esofagite, com ardor retroesternal. Em virtude do grande edema, o doente fica
impossibilitado de falar; daí deriva o nome popular americano dump cane, ou
seja, cana de mudez. A afonia pode ser devida também ao edema de faringe ou de cordas
vocais, para os quais contribui a ação hipersensibilizante da planta. Contato dos olhos
com o suco leitoso ou com os dedos contaminados produz irritação intensa com congestão,
edema, fotofobia, lacrimejamento. Os sinais clínicos aparecem algumas horas após a
ingestão.
8. Tratamento geral: A lavagem gástrica ou medidas provocadoras de vômitos devem
ser realizadas com muito cuidado em virtude dos efeitos irritantes das plantas. O
tratamento é sintomático, incluindo a administração de demulcentes (leite, clara de
ovos, óleo de oliva) e ainda antiespasmódicos e analgésicos. Anti-histamínicos são
úteis e nos casos mais graves convém administrar corticosteróides (via sistêmica). As
lesões oculares são tratadas com lavagens demoradas com água corrente e aplicação de
colírios anti-sépticos.
9. Curiosidade: Extratos desta planta foram experimentados pelos alemães, em
prisioneiros de campo de concentração, por um possível efeito esterelizante que, no
entanto, revelou-se inexistente. O seu decôto (chá) é empregado para curar a hidropsia.
Hera
1. Família:
Araliaceae
2. Espécie: Hedera helix L.
3. Nome popular: Hera.
4. Aspectos botânicos: Arbusto sarmentoso utilizado como planta de adorno.
Estende-se pelo chão cobrindo-o com sua densa folhagem ou prende-se aos muros e árvores
por meio de raízes adventícias. Folhas alternadas, verde-escuras ou manchadas de
branco-acinzentado; flores pequenas, verde-amareladas; o fruto é uma baga preta.
5. Animais afetados: cães e gatos (jovens ou adultos).
6. Toxicologia: A Hera está incluída no grupo das plantas produtoras de
saponinas, substâncias que de um modo geral tem efeitos irritantes, produz lesões
celulares e modificam a permeabilidade celular. A absorção intestinal é lenta e
difícil, por isso são pouco freqüentes as manifestações sistêmicas, caracterizadas
principalmente por hemólise eritrocitária.
7. Sinais e sintomas: A ingestão da planta determina manifestações irritativas
da mucosa gastrointestinal com dor retroesternal, cólicas, sialorréia, náuseas,
vômitos e diarréia. Desidratações aparecem com frequência. A absorção da saponina,
que é excepcional, evidencia-se por um quadro de hemólise, com sintomatologia
conseqüente a anemia e hipóxia. Entre 24 e 48 horas, o animal entra em coma e morre, se
não for tratado.
8. Tratamento: Não existe um antídoto específico, o tratamento feito é
sintomático. A administração de demulcentes e anti-espasmóticos é o suficiente na
maioria dos casos. Lavagem gástrica deve ser realizada com cautela. Hemólise é tratada
com transfusões de sangue.
9. Curiosidades: Da Hera a literatura profana e científica estão
repletas. Ela surgiu há muitos milênios como planta mística. Serviu na cobertura dos
tabernáculos dos judeus nas suas festividades religiosas. As sua folhas servem para
tingir o cabelo, são excelentes para vomitórios, boas para curar úlceras, escrófulas,
queimaduras, etc. O seu decôto (chá) como o dos caules, é diaforético, anti-febril,
etc.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
1. BARBOSA, R.C.S.B.C. Revisão e Atualização da Literatura em Plantas Tóxicas do
Estado da Paraíba. João Pessoa: Universitária, 1983. 55p.
2. FOWLER, M. E. Plant Poisoning in Small Companion Animals. USA: Ralston Purina Company,
1981. 51p.
3. HOENE, F.C. Plantas e Substâncias Vegetais Tóxicas e Medicinais. São Paulo:
Departamento de Botânica de SP, 1978.
4. PEREIRA, C. A. Plantas Tóxicas e Intoxicações na Veterinária. Goiânia:UFG, 1992.
279p.
5. RUHR, L. P. Plantas ornamentais tóxicas. In: KIRK, R. W. Atualização Terapêutica
Veterinária: Pequenos Animais. SãoPaulo: Manole, 1988. 876p.
6. SCAVONE, O. & PANIZZA, S. Plantas Tóxicas.São Paulo: CODC-USP, 1980. p. 110. p.
75-78.
7. SCHVARTSMAN, S. Plantas Venenosas. 2a.ed. São Paulo: Sarvier, 1979.
8. SCHVARTSMAN, S. Intoxicações Agudas. 2 ed. v3. São Paulo: Savier, 1979. 425p.
Topo da página |