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Vicente descobriu a Cristo, Evangelizador dos pobres; e aos pobres como Senhores e Mestres, nossos juizes. E esta descoberta vai orientar toda a sua vida. Nada o detém! A partir de 1617 a sua actividade será intensa e as obras multiplicam-se. Entre elas sobressai a das missões, que começa em Folleville, com uma experiência aparentemente casual, mas que depressa se alarga e se torna de âmbito nacional... E não tardará a ultrapassar as fronteiras da França e da Europa... Os não-cristãos são também pobres, são pobres espiritual e materialmente, são pobres de países longínquos que é preciso evangelizar. No sec. XVII não se distinguiam missões dentro e fora do país cristão. E muito menos se falava de Missões "ad gentes", com a riqueza de conteúdo que a expressão hoje encerra. Mas em Vicente de Paulo nota-se uma evolução crescente no seu pensamento e compromisso missionário. Ele passa da admiração e oração (1639) a grande afecto e devoção; de profunda admiração por essa vocação até chegar ao ponto de a considerar a mais útil e santificadora que existe. Não tardará que as disposições da Providência e a vontade positiva da Igreja, expressa pela Congregação da Propagação da Fé, lhe apontem, depois das terras berberes do Norte de África, onde a sua Congregação teve apóstolos e mártires, o caminho de Madagáscar. Para fundadores desta nova missão, foram escolhidos os Padres Nacquart e Gondrée. São comoventes as palavras da carta em que S. Vicente lhes comunica a vontade de Deus a seu respeito: "Há muito tempo que Deus pôs em vosso coração o desejo de lhe prestar algum assinalado serviço. Quando em Richelieu se falou de iniciar as missões entre os gentios e idólatras, parece-me que Nosso Senhor fez sentir à vossa alma que para lá vos chamava, como então escrevestes. É tempo de frutificar em vós esta semente de Divina vocação. O Sr. Núncio, por autoridade da Sagrada Congregação da Propaganda da Fé, que tem como chefe o Santo Padre, o Papa, escolheu a Companhia para ir servir a Deus na Ilha de S. Lourenço, também chamada de Madagáscar. E a Companhia lançou os olhos sobre vós, como a melhor hóstia que tem para oferecer ao nosso Soberano Criador, a fim de, com outro bom Padre da Companhia lhe prestar esse serviço... Não há condição que eu mais desejasse na terra, se me fosse possível, do que a de vos ir servir de companheiro..." Em muitos outros passos das suas cartas e conferências sentimos que S. Vicente queria que a sua Congregação da Missão fosse sempre, no mais universal sentido, uma congregação missionária. Os Padres Nacquart e Gondrée recebem de S. Vicente o seguinte envio: "Segundo as Regras do nosso Instituto, estamos obrigados a atender à salvação das almas em qualquer lugar aonde Deus nos chame, sobretudo em lugares onde há mais necessidade e faltam outros operários evangélicos... e sabendo que nas Índias, especialmente na Ilha de Madagáscar há uma grande falta de operários e é muito abundante a messe... vos destinamos e vos enviamos, para que, segundo as funções do nosso Instituto vos dediqueis à salvação das almas". Partiram de França a 21 de Maio de 1648 e aportaram ao Sul da Ilha após mais de 6 meses de viagem, a 4 de Dezembro. Durante 12 anos - os que lhe restaram de vida - Vicente de Paulo vai empenhar nesta tarefa o melhor do seu pessoal e dos seus recursos. Ele tem consciência de que esta missão ad gentes é a mais nobre e importante, conseguindo também contagiar os seus missionários.
(Trad. e adapt. de P.S.)
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