S. Vicente de Paulo e Madagáscar

Não há condição que eu mais desejasse na terra, se me fosse possível, do que a de vos ir servir de companheiro...

"Ide e lançai corajosamente as redes"

A 4 de Dezembro de 1648, chegaram  a Madagáscar os dois primeiros missionários enviados por S. Vicente: Pe Nacquart e Pe Gondrée. Completaram-se, portanto, 350 anos do primeiro projecto vicentino.
Acontecimento, importante para a Igreja e a Província da Congregação da Missão de Madagáscar, foi ali
"digna e simplesmente" celebrado; e é algo que nos interessa também a nós, apenas separados daquela Ilha por um braço do Índico. Somos, assim, Igreja e Família Vicentina que tem assento de um e outro lado do canal. Ao evocar a data, queremos não só fazer memória, mas também guardar a lição da história; aprender com Vicente de Paulo a ser missionários no mais universal sentido da palavra.
Um princípio fundamental guiava a sua vida: não se adiantar à Providência, mas procurar a vontade de Deus nos acontecimentos. Por isso pôde dizer:
"Ninguém sabia o que eram as missões", "não pensávamos encarregar-nos dos ordenandos", "não pensávamos ir à Berbéria". Também dirá: "Não pensávamos em Madagáscar, quando vieram fazer-nos a proposta"
Da leitura dos acontecimentos surgiram experiências de fundações especialmente lúcidas, intuições originais de encontro com Deus que iluminaram a sua vida:
"Deus serviu-se de nós, sem que soubéssemos aonde íamos chegar".

Vicente descobriu a Cristo, Evangelizador dos pobres; e aos pobres como Senhores e Mestres, nossos juizes. E esta descoberta vai orientar toda a sua vida. Nada o detém! A partir de 1617 a sua actividade será intensa e as obras multiplicam-se. Entre elas sobressai a das missões, que começa em Folleville, com uma experiência aparentemente casual, mas que depressa se alarga e se torna de âmbito nacional... E não tardará a ultrapassar as fronteiras da França e da Europa... Os não-cristãos são também pobres, são pobres espiritual e materialmente, são pobres de países longínquos que é preciso evangelizar.
No sec. XVII não se distinguiam missões dentro e fora do país cristão. E muito menos se falava de
Missões "ad gentes", com a riqueza de conteúdo que a expressão hoje encerra. Mas em Vicente de Paulo nota-se uma evolução crescente no seu pensamento e compromisso missionário. Ele passa da admiração e oração (1639) a grande afecto e devoção; de profunda admiração por essa vocação até chegar ao ponto de a considerar a mais útil e santificadora que existe.
Não tardará que as disposições da Providência e a vontade positiva da Igreja, expressa pela Congregação da Propagação da Fé, lhe apontem, depois das terras berberes do Norte de África, onde a sua Congregação teve apóstolos e mártires,
o caminho de Madagáscar.
Para fundadores desta nova missão, foram escolhidos os Padres Nacquart e Gondrée. São comoventes as palavras da carta em que S. Vicente lhes comunica a vontade de Deus a seu respeito:
"Há muito tempo que Deus pôs em vosso coração o desejo de lhe prestar algum assinalado serviço. Quando em Richelieu se falou de iniciar as missões entre os gentios e idólatras, parece-me que Nosso Senhor fez sentir à vossa alma que para lá vos chamava, como então escrevestes. É tempo de frutificar em vós esta semente de Divina vocação. O Sr. Núncio, por autoridade da Sagrada Congregação da Propaganda da Fé, que tem como chefe o Santo Padre, o Papa, escolheu a Companhia para ir servir a Deus na Ilha de S.  Lourenço, também chamada de Madagáscar. E a Companhia lançou os olhos sobre vós, como a melhor hóstia que tem para oferecer ao nosso Soberano Criador, a fim de, com outro bom Padre da Companhia lhe prestar esse serviço... Não há condição que eu mais desejasse na terra, se me fosse possível, do que a de vos ir servir de companheiro..."
Em muitos outros passos das suas cartas e conferências sentimos que S. Vicente queria que a sua Congregação da Missão fosse sempre, no mais universal sentido,
uma congregação missionária.
Os Padres Nacquart e Gondrée recebem de S. Vicente o seguinte envio:
"Segundo as Regras do nosso Instituto, estamos obrigados a atender à salvação das almas em qualquer lugar aonde Deus nos chame, sobretudo em lugares onde há mais necessidade e faltam outros operários evangélicos... e sabendo que nas Índias, especialmente na Ilha de Madagáscar há uma grande falta de operários e é muito abundante a messe... vos destinamos e vos enviamos, para que, segundo as funções do nosso Instituto vos dediqueis à salvação das almas".
Partiram de França a 21 de Maio de 1648 e aportaram ao Sul da Ilha após mais de 6 meses de viagem, a 4 de Dezembro.
Durante 12 anos - os que lhe restaram de vida - Vicente de Paulo vai empenhar nesta tarefa o melhor do seu pessoal e dos seus recursos. Ele tem consciência de que esta missão
ad gentes é a mais nobre e importante, conseguindo também contagiar os seus missionários.

(Trad. e adapt. de P.S.)

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