Comportamentos ameaçadores e violentos devem ter um manejo seguro.

(Threatening and violent behaviors should have a safe management)

por Silvio Saidemberg*

Summary: One common belief is the assumption that through our recognition of patient’s needs and also by a lot of empathic attention we will be stamping out the risk of the worst violent behaviors. Skillful handling of patients should not preclude us from recognizing that more should be done to prevent violence from patients against other patients and staff members. One single occurrence may be too tragic to be ignored as a possibility. Predicting, understanding and developing reasonable interventions are a continuous exercise towards safety.

Sumário: Uma crença comum está no se assumir que através do nosso reconhecimento das necessidades do paciente e também através de um bocado de atenção empática, nós estaremos erradicando o risco dos piores comportamentos violentos. O manejo habilidoso de pacientes não deveria impedir-nos de reconhecer que mais deveria ser feito para prevenir violência de pacientes contra outros pacientes e membros da equipe profissional . Uma única ocorrência pode ser demasiado trágica para ser ignorada como uma possibilidade. Predizendo, compreendendo e desenvolvendo intervenções razoáveis são um exercício contínuo na direção da segurança.

Keywords: prediction of threatening and violent behavior, violence and psychopathy, violence in psychiatric patients.

Unitermos: predição de comportamentos ameaçadores e violentos , violência e psicopatia dentro de serviços hospitalares de saúde mental, violência em pacientes psiquiátricos.

Definição: Comportamentos ameaçadores ou violentos significam qualquer ato físico ou verbal, ameaça ou comportamentos fisicamente violentos que causam sofrimento físico ou emocional, ou dano material para outros ou para a instituição.

Relevância para uma estrutura de internação: infelizmente, a crença que ataques pessoais somente acontecem a outras pessoas pode deixar-nos vulneráveis. Poucos de nós acreditamos que podemos ser submetidos à violência e agressão”.  Através da compreensão de como um atacante comporta-se ,  nós poderemos aprender a responder de tal forma a reduzir a agressão e a violência a ser infligidas contra outros ou nós mesmos.

Objetivos:

  1. Providenciar uma compreensão abrangente dos fatores e gatilhos que possam precipitar e amplificar comportamentos agressivos.
  2. Avaliar situações potencialmente perigosas.
  3. Através do entendimento dos comportamentos do agressor e da vítima, existe a esperança que haverá desenvolvimento de confiança com o uso de meios mais efetivos de manejar e prevenir comportamento violento/agressivo.

Método:

Revisão de trabalhos na literatura psiquiátrica sobre o tema. Sumário de indícios e atitudes que precisam ser revistas no preparo de equipes de atendimento na área da saúde mental, principalmente no caso de pacientes internados.  Atitudes e indícios que apesar de aparentemente úteis devem ser continuamente investigados.  

Exemplo ilustrativo:

Uma mulher com idade acima de 50 anos, com uma história de temperamento violento desde a infância, ela apresenta um agravamento de suas explosões verbais ao ponto de bater em seu marido. Como isto era um episódio recente, o marido consulta uma popular colunista conselheira. Ele diz que enquanto ele estava dirigindo durante as suas férias, ele se riu de alguma coisa que a esposa considerava séria, as crianças do casal estavam no assento traseiro. A resposta dela aos risos do marido foi esbofeteá-lo.  A esposa não demonstrou nenhum remorso pelo seu comportamento volento contra o esposo, mesmo muito depois da ocorrência.

A colunista faz 5 comentários importantes:

1.      O reconhecimento que a violência não pode ser tolerada, seja ela verbal ou física.

2.      A raiva fora de controle da esposa deve ser efetivamente controlada para a proteção dos outros.

3.      Toda pessoa sente-se enraivecida em algum momento. Raiva pode ser desencadeada por muitas coisas, incluindo-se o se sentir amedrontado e desamparado.

4.      Suprimir raiva até que ela entre em erupção é uma das causas de explosões violentas.

5.      A esposa necessita ser ajudada a expressar sua hostilidade de maneira mais efetiva e construtiva, como aprendendo a dizer umas poucas palavras selecionadas para defender o seu ponto de vista.

Discussão: Uma questão é inevitável quanto ao exemplo ilustrativo anterior: conhecendo a sua sensibilidade, não poderia o esposo evitar rir-se da esposa?  A raiva pode ainda ser dificil de ser predita, compreendida ou conquistada através de intervenções razoáveis, como as que acima foram sugeridas. Profissionais na área de saúde mental necessitarão manejar  comportamentos ameaçadores e violentos a despeito de possuírem muito menos contato prévio com o paciente do que o marido vitimizado pela sua esposa tinha com ela, neste nosso exemplo.  Também, mesmo que um melhor manejo de emoções seja possível, acredita o paciente estar com necessidade urgente de aprender maneiras melhores para se expressar? Além disto, quanto tempo alguém leva para mudar sua maneira de reagir?

Avaliação de potencial para violência:

1.      Investigação de qualquer ameaça de violência feita pelo paciente.

2.      Estabelecer os 4 parâmetros importantes: tipo de injúria, severidade de injúria, iminência de causar injúria, probabilidade de injúria ser causada.

3.      Determinar que ameaças são provavelmente reais, baseando-se nos detalhes a respeito de cada ameaça.

4.      História passada de violência, (o fator de risco mais importante para violência futura),

5.      Impulsividade, capacidade de resistir a impulsos violentos, reação à violência, motivação para manter o auto-controle, uso de álcool e drogas (um outro fator de risco maior para violência).

6.      Tentar obter dados históricos a partir de outros membros da família.

A- Avaliação do Risco de comportamento:

  1. (A)Conhecimento direto prévio do paciente, (B) o paciente faz ameaça de violência, (C) agressão verbal, (D) o avaliador sente-se ameaçado e (E)o paciente causou destruição de propriedade. Estes são os critérios mais importantes. Procedência étnica e gênero são as menos importantes. (ref.: 2)
  2. Tem a pessoa uma história de comportamento impulsivo, agressivo/violento?
  3. Temos nós uma compreensão dos gatilhos anteriores para aqueles comportamentos?
  4. Estamos nós como membros da equipe de tratamento a par daqueles gatilhos em cada novo paciente?
  5. Estamos despendendo tempo para rever aqueles gatilhos e nos certificando que nossos companheiros de trabalho e outros pacientes naquele mesmo ambiente estejam advertidos a respeito da maior possibilidade para a perda de controle naquele paciente?
  6. Tem aquele paciente qualquer preconceito contra os membros da equipe de tratamento ou contra outros pacientes? Está sendo o preconceito apropriadamente identificado?
  7. Sente o paciente que está sendo discriminado?
  8. Existe uma história de trauma que o paciente pode ou não revelar?
  9. Existe alguma razão para o paciente acreditar que em sendo verbalmente ou mesmo fisicamente abusivo para outros, isto não trará qualquer conseqüência?
  10. Está o paciente tão auto destrutivo a ponto de não se importar mais com conseqüências?
  11. Está o paciente inquieto, andando sem parar, com sinais de irritabilidade?


---------------------------------------------------------------------------------------------------

B- A avaliação do risco de se tornar vitima :

  1. Confronta-se por hábito ou faz-se afirmação contundente que revela a fragilidade da outra pessoa?
  2. Usa-se humor de uma forma muito pessoal?
  3. Ao se negar a uma solicitação faz-se de forma descuidada e rude?
  4. São os possíveis sentimentos injuriados considerados e reconhecidos?
  5. Após se negar a atender a uma solicitação, quais são as ações substitutivas levadas em consideração?
  6. Estamos cientes que reforços para comportamentos podem não ser reforços em absoluto para os objetivos desejados? O próprio conceito de reforço nada tem a ver com o que é realmente reforçador para outros. Nós podemos ser percebidos como manipuladores e moralmente errados em nossa intenção de influir no comportamento do outro.
  7. A aceitação para a ação substitutiva é cuidadosamente medida em termos de satisfação? Nós refletimos aqueles sentimentos de frustração que são infligidos quando se priva alguém de sua intenção original? Dizemos o que realmente queremos comunicar? Estamos sendo realmente empáticos?
  8. No caso de recusa para a substituição sugerida, é o paciente consultado a respeito de como vê opções e escolhas?
  9. Tem o paciente uma aliança com os profissionais da equipe de tratamento para aceitar mudanças?
  10. Algumas vezes o mau discernimento de um paciente terá um impacto sobre a resposta raivosa: não importa o que seja feito ou proposto, o paciente continuará em risco de perder o controle.

C- Circunstâncias que facilitam comportamentos contrários e explosões:.

  1. Dor
  2. Cansaço.
  3. Fome/Sede/outras necessidades fisiológicas.
  4. Abstinência de drogas, incluindo-se cigarros e álcool.
  5. Medo/ suspeição.
  6. Irritabilidade.
  7. Sentir-se emocionalmente injuriado.
  8. Sentindo-se humilhado.
  9. Tendo que esperar para que necessidades sejam satisfeitas.  
  10. Ser tratado psiquiatricamente contra o próprio desejo.
  11. Percepção de que existe uma interação rude com os membros da equipe profissional.
  12. Percepção de que a equipe está fraturada e se ele não pode obter o que deseja de um membro da equipe, ele o obterá de um outro.
  13. Percepção de ser ridicularizado. A equipe tem que ser cuidadosa com piadas e com risadas; memo que uma atmosfera leve deve ser criada com humor que deve ser usado para aproximar pessoas.

_____________________________________________________________________
D- Medidas úteis que se contrapoem a comportamentos desregrados e agressivos:

  1. Manter atitude de respeito e de sensibilidade aos sentimentos dos pacientes e membros da equipe.
  2. Manter flexibilidade e comunicação com a equipe profissional para estimular as mudanças necessárias do curso de ação sempre que possível ou julgado necessário.
  3. Ter uma estrutura hierárquica clara, com a liderança sendo cunsultada e seguida. Trabalho profissional implica em tomada de responsabilidade como uma conseqüência  na tomada de decisão. Identifique comportamentos que impliquem em : “Eu tomo todas as decisões e você assume toda a responsabilidade”.
  4. No meio profissional, manobras passivo-agressivas têm de ser detectadas e corrigidas. Naturalmente, os profissionais desejam corrigir esses comportamentos inadequados em seus pacientes.
  5. Evitar prometer qualquer coisa para o paciente que pode não estar claramente dentro das regras da instituição, da equipe de tratamento, dos regulamentos da saúde mental e da lei. Às vezes, o que propomos parece ser adequado; contudo, tem o paciente capacidade de entender nossa intenção? Em caso contrário, não podemos propor.
  6. Faça o paciente tão confortável quanto possível, necessidades básicas precisam ser satisfeitas. Em um hospital, restrições são muitas vezes necessárias, a equipe deve apoiar as restrições que são essenciais e evitar ser indulgente com o paciente para “prevenir a desaprovação/raiva do paciente”.
  7. Peça para um paciente desconfortável sentar-se sobre uma cadeira confortável ou deitar-se na cama, seja o que possa trazer alívio à medida que necessidades são avaliadas.
  8. Sempre que avaliarmos camas, assentos e meio ambiente, certifiquemo-nos que o máximo conforto e considerações ergonômicas estão ocorrendo na escolha de mobiliário.
  9. Muitos pacientes possuem dor crônica; a idéia que mais conforto convidará os pacientes a permanecerem na cama pertence à era do tratamento moral, quando a doença mental era vista como resultado direto dos sete pecados capitais; a preguiça sendo um deles.
  10. Nós queremos que os pacientes assumam uma vida moral e saudável em um meio ambiente confortável e respeitoso.
  11. Agir rapidamente quando qualquer paciente estiver abusando verbalmente ou fisicamente membros da equipe ou outros pacientes: certifique-se que cada episódio seja cuidado imediatamente. 
  12. Poderá ser necessária uma intervenção de crise com a participação de mais de um membro da equipe de tratamento. Contudo, o paciente poderá continuar a estar mais pronto para exagerar em comportamentos agressivos do que ser susceptível para expressar sentimentos de forma apropriada.
  13. Alguma medicação de uso ocasional ou medicação imediata de uso oral deveria ser oferecida tão logo quanto o transtorno do paciente é avaliado e existe concordância que a ação agressiva brota a partir do elevado nível de transtorno emocional que o paciente não consegue manejar de forma resolutiva.
  14. Um quarto no qual o paciente permaneça em repouso pode ser oferecido como uma alternativa se for muito perturbador para o paciente comunicar sentimentos/necessidades ou para lidar com as regras de expressão social aceitável.
  15. Um quarto de isolamento deve ser oferecido quando um nível mais alto de consideração sobre segurança necessita ser levado em conta.
  16. Restrição física é assegurada quando o risco de violência e auto-injúria é muito elevado. Restrição física e medicamentos de aplicação imediata por via intramuscular devem ser propostos depois que as abordagens menos invasivas falharem.
  17. Mecanismos de adaptação deveriam ser revistos com o paciente depois que a crise se acalmar.
  18. Revisão de medicamentos terá lugar para melhorar a resposta em todos aqueles casos onde a explosões de sentimentos não são passíveis de serem controladas de outra maneira. Contudo a equipe de tratamento não deve esperar milagres de medicamentos, particularmente quando um paciente tem atitudes profundamente arraigadas que glorificam violência e abuso contra  outros. Em tais casos um paciente pode necessitar ser transferido para uma instituição de segurança máxima ou para um programa de tratamento de longo curso que irá lidar com o comportamento violento. Ação legal contra o agressor deve ser considerada à discreção das vítimas e de acordo com a severidade do ataque. 

Consideração: É sempre melhor se discutir com o paciente que está perdendo o controle a parte de sedação, na maioria das vezes isto é possível, e freqüentemente a decisão recai sobre o uso de medicação oral para ficar clara a participação do paciente no processo de recuperação do controle. _____________________________________________________________________

Conclusão: a avaliação do risco de comportamentos, avaliação do risco de ser vitima, identificação de circnstâncias que possam facilitar comportamentos agressivos e um conjunto de medidas úteis  para se contrapor a comportamentos descontrolados ou agressivos são práticas que necessitam ser desenvolvidas e pesquisadas mais profundamente em todos os programas de saúde mental. Provavelmente isto não é feito de uma forma mais intensa, devido à presunção que a proficiência  profissional naqueles programas será suficiente. Provavelmente não será.

Leitura Recomendada:

         Dolan, Mairead and Doyle, Michael- Violence risk prediction: Clinical and actuarial measures and the role of the Psychopathy Checklist, Br. J. Psychiatry, Oct 2000; 177: 303 - 311.

         Haim, Rachel, Rabinowitz, Jonathan, Lereya, Joseph, and Fennig, Shmuel - Predictions Made by Psychiatrists and Psychiatric Nurses of Violence by Patients, Psychiatric Serv 53:622-624, May 2002.

         Raja, Michele and Azzoni, Antonella - Hostility and violence of acute psychiatric inpatients, Clinical Practice and Epidemiology in Mental Health July 29, 2005 - 1:11 doi:10.1186/1745-0179-1-11

         Szmukler, G. Violence risk prediction in practice, The British Journal of Psychiatry (2001) 178: 84-85.

         Van Buren, Abigail – Wife’s outbursts of temper escalate to physical assault, Express - Oct 19,

*Silvio Saidemberg, M.D. was the Medical Director of the Behavioral Health Services of Aspirus Wausau General Hospital, Wausau, Wisconsin. on April 4, 2006. Presentemente em prática privada como psiquiatra e psicoterapeuta e realizando trabalho de supervisão e consultoria em Campinas, SP.

e-mail: ssaidemb@yahoo.com       Tradução e revisão em 19 de novembro, 2006.

Threatening and violent behaviors should have a safe management http://searchwarp.com/swa107864.htm

1