Mensagem de Fé

A Jornada de Abraão (2)

Prof. Anísio Renato de Andrade


Caminhando com Deus, aprendendo e crescendo

Abraão e Sara tinham um problema familiar. Apesar de toda a sua riqueza material, algo muito importante lhes faltava: um filho. Se a esterilidade é motivo de sofrimento em qualquer época, naquele tempo era ainda pior, pois representava fracasso, vergonha e perspectiva de solidão na velhice. O casal vivia entre o desejo e a impossibilidade. A vultosa herança ficaria para o servo Eliezer (Gn.15.2).

Foi no meio dessa situação difícil que Abraão ouviu a voz de Deus. Não sabemos se ele estava clamando por uma solução, mas o fato é que os problemas da vida tornam-se motivos para buscarmos ao Senhor. Sua palavra vem até nós para nos mostrar o caminho, uma saída, uma direção.

Deus poderia ter dito: “Abraão, resolvi abençoá-lo. Sua esposa terá um filho dentro de alguns meses.” Não foi assim. O Senhor lhe propôs uma caminhada. Estava começando um relacionamento entre Deus e aquele homem. As bênçãos viriam, mas isso não era o principal. O Senhor disse: “Abençoar-te-ei”. O verbo está conjugado no futuro. Não é bem assim que gostaríamos, mas o melhor de Deus vem no tempo certo.

Nós também temos nossos problemas, desejos e impossibilidades. Queremos soluções imediatas, bênçãos instantâneas. O Senhor pode nos atender rapidamente ou nos deixar esperando, mas ele sempre nos convida a caminhar com ele. Nossa maior necessidade é andar com Deus. As outras coisas, ainda que sejam importantes, são secundárias. Determinado problema pode servir como ponto de partida para uma vida com Deus.

Ele pode resolver tudo o que nos aflige, mas o seu propósito é muito superior a isso. Não seremos apenas abençoados, mas transformados. A bênção não é apenas para o indivíduo, mas precisa alcançar muitos outros através dele. A vontade de Deus vai muito além dos nossos pequenos desejos.

“Porque, assim como o céu é mais alto do que a terra, assim são os meus caminhos mais altos do que os vossos caminhos, e os meus pensamentos mais altos do que os vossos pensamentos” (Is.55.9).

Desbravando fronteiras

O Senhor mandou que Abraão saísse da sua terra, da sua parentela e da casa do seu pai (Gn.12.1). Era necessário decidir, levantar e agir. Ele precisava ultrapassar suas fronteiras, indo além dos limites conhecidos, em busca da promessa divina.

A peregrinação de Abraão, além ser um deslocamento geográfico, era também uma senda espiritual. Ele foi da Mesopotâmia até a terra prometida, e ali percorreu várias cidades. Vejamos seu itinerário desde o início: Ur dos Caldeus (Gn.11.31); Harã (Gn.11.31); Canaã (12.5); Na terra de Canaã, Abraão habitou em Siquém (12.6) e depois entre Betel e Ai (12.8); desceu ao Egito (12.10) e voltou, passando pelo Neguebe (13.1). Novamente em Canaã, estabeleceu-se entre Betel e Ai (13.3-4); Depois habitou em Hebrom (13.18; 18.1); no Neguebe, entre Cades e Sur (20.1); e em Gerar (20.1 a 21.34); Depois de ter ido ao monte Moriá (22), passou a morar em Berseba (22.19) e novamente no Neguebe (24.62).

Assim como Deus mandou que ele saísse de Ur, novas ordens foram dadas para que Abraão avançasse, mesmo quando ele parecia querer parar.

Disse Deus: “Levanta-te, percorre esta terra, no seu comprimento e na sua largura; porque a darei a ti” (Gn.13.17).

É preciso caminhar, avançar, crescer. Diga ‘não’ ao comodismo. A terra prometida é muito extensa. Não podemos aceitar estagnação em nossas vidas. É preciso ir em frente, mas sempre sob a direção de Deus, sem descer ao Egito.

No início da sua peregrinação, ele saiu de Ur e foi até Harã. Ali ficou morando até a morte do pai (At.7.4). Sair de Ur foi um progresso, mas Harã não era o destino final. Ainda que estivesse perto da terra prometida, ainda vivia no território babilônico. Não adianta estar perto de cumprir o propósito de Deus. Precisamos cumpri-lo de fato.

Em nossas vidas, também podemos ser tentados a parar no meio do caminho. Deus nos diz: “prossiga para o alvo”. Podemos estar satisfeitos, mas Deus tem mais. Aceitar a Cristo como Salvador não é o fim, mas apenas o começo do processo. Ser batizado nas águas não é tudo. Ser batizado com o Espírito Santo, idem. Os dons espirituais, por sua vez, não são troféus, mas apenas ferramentas para o trabalho. Nada disso deve nos fazer acomodar. São etapas importantes na vida cristã, mas existem outras adiante.

Deus disse a Abraão: “Anda na minha presença e sê perfeito”. Tal ordem deixa claro que ele estava andando com Deus em um processo de aperfeiçoamento, que passa pelo conhecimento e prática daquilo que o Senhor ensina.

Abraão saiu sem saber para onde ia (Heb.11.8). Portanto, sua dependência de Deus era fator fundamental em sua vida. Durante sua trajetória, Abraão edificava altares, orava invocando o nome do Senhor, era respondido, recebia instruções, obedecia ordens, enfrentava novos desafios e tinha novas experiências. Esta é a normalidade da vida dos servos de Deus.

Para saber qual seria o próximo passo, Abraão precisava estar sempre sintonizado como Senhor. Ele jamais poderia andar sozinho. Não poderia planejar seu próprio caminho, embora tenha feito isso quando desceu ao Egito. Deus nos quer sempre dependentes dele. Dependência cria vínculos, como acontece entre pais e filhos. Por isso, Abrão se tornou amigo de Deus (Tg.2.23).

Ampliando a visão

Quando Abraão saiu de Ur dos Caldeus, ele possuía um conhecimento bem limitado dos desígnios divinos. Conhecia a promessa da terra, mas não a terra da promessa. Não sabia o nome do lugar nem a localização. Tendo obedecido ao Senhor e caminhado muito, descobriu que se tratava de Canaã. Entretanto, ainda não conhecia a extensão da terra. Por isso Deus mandou que ele avançasse. É como se o Senhor dissesse: “Anda, Abraão. Minha bênção é muito maior do que o que você pode enxergar de onde você está”. O patriarca foi caminhando e descobrindo quão grande era a terra prometida.

“E disse o Senhor a Abrão, depois que Ló se apartou dele: Levanta agora os olhos, e olha desde o lugar onde estás, para o norte, para o sul, para o oriente e para o ocidente. Porque toda esta terra que vês, te hei de dar a ti, e à tua descendência, para sempre” (Gn.13.14).

Vejamos outro detalhe: Abraão sabia que Deus lhe prometera um filho, mas demorou para saber que esse filho nasceria de Sara (Gn.17.16). Precisou caminhar muito com Deus para descobrir cada aspecto do plano divino. Abraão desejava apenas ter um filho, mas Deus logo disse que ele seria pai de uma nação (Gn.12.2). Já deve ter sido uma grande surpresa, mas ainda não era tudo. Andando com Deus, Abraão veio a saber, muito tempo depois, que seria pai de muitas nações (Gn.17.4). O conhecimento do propósito de Deus para a sua vida foi crescendo.

Mas, qual seria o tamanho de uma nação? Considerando que, com 318 homens, Abraão derrotou 4 reis e seus exércitos (Gn.14.14), concluímos que uma nação, naquele tempo, não era tão grande quanto as que conhecemos hoje. Abraão ainda não tinha idéia da grandeza do que Deus lhe falara. Por isso, o Senhor propôs que ele, se pudesse, contasse as estrelas do céu (Gn.15.5). Sua descendência seria tão numerosa quanto elas ou como os grãos de areia da praia (Gn.22.17).

“E farei a tua descendência como o pó da terra; de maneira que se puder ser contado o pó da terra, então também poderá ser contada a tua descendência” (Gn.13.16).

Para aprender essa lição, Abraão precisou sair da sua tenda e olhar para o céu (Gn.15.5). Precisou sair de sua acomodação para que sua visão fosse ampliada. Talvez estejamos presos em nossos próprios limites, olhando para o teto, quando deveríamos olhar para o infinito.

Abraão e Sara riram ao saberem que teriam um filho (Gn.17.17 e 18.12). A palavra de Deus lhes parecia absurda diante das dificuldades que enfrentavam. Por isso, o filho se chamou Isaque, que significa “riso”.

O propósito de Deus para cada um de nós é bem maior do que aquilo que desejamos. Não haveremos de gerar nações no sentido literal, mas precisamos produzir frutos espirituais, filhos espirituais. Precisamos alcançar as nações com o evangelho. Esta é a forma através da qual se cumprirá a promessa de Deus a Abraão: “Em ti serão benditas todas as famílias da terra” (Gn.12.3).

Em Abraão, Deus começou um projeto de alcance mundial. A igreja da atualidade tem a responsabilidade de dar continuidade a essa obra. Precisamos andar com Deus, avançar com determinação, ampliar a visão e receber o cumprimento das promessas do Senhor, trazendo à luz uma realidade muito superior a tudo o que poderíamos desejar, pedir ou imaginar.


Em caso de utilização impressa do presente material, favor mencionar o nome do autor:
Anísio Renato de Andrade – Bacharel em Teologia.
Professor do Steb - Seminário Teológico Evangélico do Brasil
e do Sebemge - Seminário Batista do Estado de Minas Gerais

Para esclarecimento de dúvidas em relação ao conteúdo, encaminhe mensagem para anisiorenato@ig.com.br

Retorno à página principal

1