Nos últimos anos alguns pensadores têm defendido que, no virar do século, o Homem tenderá a modificar a sua perspectiva da vida e a nortear-se por outros valores. Como se dará essa transformação e quais poderão ser esses valores?
Em "A Vida Impessoal", o norte-americano Joseph S. Benner expõe como cada um de nós é essencialmente uma partícula da Inteligência Universal ou de Deus, apenas de passagem pela Terra. Assim, incentiva o leitor a pensar como sendo esse ser universal (ainda que partícula), a descortinar na sua consciência os seus verdadeiros interesses e a assumir-se na simplicidade de partícula do Todo apenas e só ao Seu serviço.
Benner aponta para uma revitalização dos problemas materiais: «Tu és aquilo que crês que és; nenhuma coisa é Real em tua vida ou tem qualquer valor para ti, a menos que teu pensar e crer lhe tenha atribuído essa realidade».
Nesta perspectiva, o Homem deixará de hipervalorizar a riqueza material. Não verá mais os recursos materiais como "seus", a não ser como fiel depositário, por tempo limitado e de acordo com a sua própria capacidade de neles concentrar a sua atenção, a sua vontade e o seu esforço realizador.
O egoísmo, a ambição desmedida, a inveja perderão sentido. Tudo, afinal, é do Todo.
Desenvolver-se-á, naturalmente, a noção de utilidade ao Todo. Concretizada em primeiro lugar na partícula do Todo que cada um de nós é, através da análise conscienciosa da nossa forma de ser e de estar: como poderemos ser verdadeiramente úteis a nós próprios? E como poderemos ser construtivamente úteis àqueles que nos rodeiam: familiares, amigos, vizinhos, colegas, conhecidos?
Crescendo em desprendimento das coisas terrenas, o Homem tenderá a preocupar-se em ser útil mesmo aos seus inimigos (que então tenderão a não o ser) e, indiscriminadamente, a todas as partículas do Todo: humanos, animais, vegetais, minerais. útil ao Todo.
Assim, a vida de cada um de nós será cada vez menos marcada pelas "nossas" coisas, para ser cada vez mais impessoal.
Deixará de ter razão de existir a noção de caridade. Tudo é de todos. Cada um tem disponível temporariamente apenas a parte que merece. Não mais um homem "dará" um "peixe" a outro homem.
Crescerá em força a noção de solidariedade. Tudo é de todos. E todos se apoiarão mutuamente sempre. Como os "peixes" são do Todo, todos ensinarão os restantes a pescar e, então, todos saberão pescar e todos pescarão o necessário e suficiente.
A leitura de autores como Benner parece levar-nos a abstrair das coisas vulgares do nosso dia-a-dia e a mergulhar no ideal e, aparentemente, irreal. Ou será que a vivência apaixonada das coisas vulgares do nosso dia-a-dia é que nos leva a uma vida longe do ideal e, desse modo, verdadeiramente irreal?