«Quem me dera não ser tão
sensível!».
Frase bastante comum nos consultórios
médicos, sobretudo de psiquiatras, e nas clínicas de psicólogos.
São muitas as pessoas que têm
problemas com a sua sensibilidade. Há os que choram ao ver um filme
dramático, há os que não conseguem dormir depois de
verem um noticiário com cenas de guerra, há quem se excite
elevando a voz em ambientes de perturbação, existe quem se
sinta desconfortável em certos locais, há quem tenha medo
da escuridão ou de outras situações, ou quem faça
uma crise asmática em situações de stress.
Será então a sensibilidade algo
de prejudicial? Algo que devamos abafar em nós mesmos? Parece-nos
que não. Pelo contrário, é uma riqueza adquirida;
mas que é importante saber utilizar.
À medida que a sensibilidade se desenvolve
o ser vai sentindo cada vez mais o que se passa à sua volta. Inicialmente
o desenvolvimento da sensibilidade é algo descontrolado. O indivíduo
sente o que se passa, mas deixa-se perturbar, submerge na onda envolvente.
Porém, com o tempo, o Homem vai distinguindo
entre o que sente a partir do ambiente envolvente e o que é o seu
próprio pensamento e educa este para se manter norteado pelos seus
superiores interesses.
O desenvolvimento da personalidade proporciona
ao ser condições para saber utilizar a sua sensibilidade
em proveito próprio e dos seus semelhantes, numa crescente harmonia
com a Natureza.
Mantendo o pensamento positivo, disponibilizando-se
a assumir as atitudes mais correctas em todas as situações,
o Homem cria condições para receber a intuição
certa no momento certo, conjugando-a com um raciocínio sereno, lógico
e superior.
Para trás ficam os deleites materiais
das sensações mais primitivas. A capacidade intuitiva desenvolve-se
progressivamente.
O indivíduo aprende a desviar-se do
que não presta, a não ter medo de coisa alguma, a controlar
os seus pensamentos, as suas palavras e os seus actos, a confiar em si
próprio e, sobretudo, nas leis universais. Nada o perturba. Sente-se
bem.
Em Ourique, quando as forças cristãs
eram muito inferiores às muçulmanas, «um eremita veio
anunciar a Afonso Henriques, na véspera da batalha, a protecção
divina» e, quando este agradecia a Deus o apoio, terá — segundo
a lenda — visto Jesus, o que o inspirou fortemente a assumir uma atitude
vitoriosa no dia da batalha que veio a ser considerada crucial para a implantação
do reino de Portugal.
Beethoven compôs algumas das suas mais
belas sinfonias quando já era fisicamente surdo; contudo, escrevia-as
à pressa dizendo que as ouvia mentalmente, consistindo o seu trabalho
em apenas as passar ao papel.
Pasteur contava ter encontrado em sonho, durante
a noite, a solução para algumas das experiências que
fazia no seu laboratório, que vieram a revolucionar a ciência
médica no século XIX.
Será interessante citar o pensador
inglês Paul Brunton: «O intelecto é tão-somente
um instrumento, não o ser essencial do Homem. Ele não se
mantém às próprias custas. É uma faculdade
automática e de rotina. O homem moderno representa o triunfo do
intelecto mecanicista sobre o instinto puro, assim como o homem do futuro
representará o triunfo da intuição divina sobre o
intelecto puro».