Segundo Francis Fukuyama, "nas democracias estáveis tem existido uma cultura democrática por vezes irracional e uma sociedade civil espontânea, fundamentada em tradições pré-liberais. A prosperidade capitalista tem-se desenvolvido melhor através de uma forte ética de trabalho, a qual, por seu turno, tem dependido dos fantasmas de crenças religiosas... ou de uma dedicação irracional à nação ou à raça. O reconhecimento do grupo tem constituído um melhor suporte para a actividade económica e a vida comunitária do que o reconhecimento universal".
Esta perspectiva actual de democracia tem permitido ainda alguma confusão entre poder e poderes, pois aqueles que são escolhidos para os órgãos de soberania, detentores, portanto, de poderes limitados no tempo, no espaço e no âmbito da escolha feita, tantas vezes neles se embriagam, assumindo-se como o poder - neste caso naturalmente falso, oco, podre e condenado ao descrédito.
Assim, temos visto alguns políticos dos nossos dias tentar impor soluções e abafar a opinião de largas camadas da população que neles delegou o poder material, como tem sucedido em Portugal relativamente às diversas regiões periféricas e, nomedamente, ao Norte do país.
O Norte não tem qualquer estação de televisão e deixou de ter espaço na programação dos diversos canais da capital (ou dos poderes). A emissora de rádio oficial cortou também as emissões nacionais a partir do Norte. Apenas na imprensa o Norte mantém expressão, sendo contudo apreensiva a situação em que um jornal diário lançado há poucos anos fundamentalmente com capital do Norte, é hoje provavelmente o maior defensor dos pontos de vista da capital e em que dois tradicionais matutinos do Porto são hoje dominados por accionistas da capital.
Mas, como democracia é a expressão livre da vontade da maioria - o que torna inaceitável que seja quem for tente apropriar-se do poder e mantê-lo contra essa vontade -, situações como a acima relatada serão naturalmente rejeitadas e corrigidas a curto prazo. A maioria estará ciente de que a cultura democrática apela à serena expressão das pluralidades, das diferenças, das liberdades individuais; e ainda de que a cultura democrática se constrói com base na tolerância e na livre circulação da informação.
Contudo, quanto ao reconhecimento dos valores universais, que farão certamente transfigurar a actual concepção de democracia, apenas a prazo longo poderemos esperar a sua "descoberta".
Quando o Homem souber sintonizar com os valores universais (que sendo universais aí estão permanentemente), deverá passar a saber ocupar exactamente o "seu" espaço no Todo, respeitando tolerantemente (estética e, sobretudo, eticamente) as restantes partículas do Todo.
Estará, nessa altura, consciente de que a Verdade se anuncia, não se impõe; de que a Pureza existe, não se cria; e de que a Perfeição se conquista, não se exige.
Então, sentirá espelhado em si
em todo o seu esplendor o verdadeiro Poder ou Força Universal.