Os portugueses evidenciaram-se como navegadores. Ao longo de séculos desenvolveram um trabalho notável sobre diversos aspectos: grande espírito de iniciativa, apropriado planeamento, substancial desenvolvimento tecnológico, apreciável coragem e forte persistência.
Embora tendo cometido cumulativamente assinaláveis erros, Portugal conseguiu, na época dos Descobrimentos, o respeito e o apreço do mundo, tornando-se uma das potências dominantes.
Nunca mais os portugueses deixaram de ser vistos como um povo de navegadores e de pescadores, para o que certamente contribui o facto de dispormos de uma importante faixa costeira, uma enorme e rica área marítima e, tradicionalmente, uma forte frota pesqueira.
Os anos passaram. O Atlântico continuou naturalmente a banhar as costas oeste e sul, bem como a Madeira e os Açores. Contudo, os portugueses deixaram envelhecer e quase desaparecer a sua frota pesqueira, perdendo grande parte dos seus hábitos piscatórios. Para além disso, não defenderam apropriadamente a riqueza das suas águas territoriais, consentindo que os vizinhos espanhóis (que souberam continuar donos de uma das maiores frotas mundiais e senhores de uma armada imponente) e tantos outros povos pescassem nelas o que quisessem e como quisessem.
Também ainda não souberam desenvolver com força algumas das novas ciências aquáticas e das novas indústrias de utilização de recursos marinhos.
E aí resta a perspectiva miserabilista de que o país é pequeno, a frota está destroçada, a armada quase inexistente, o mar empobrecido e... basta!
Não são os portugueses de hoje feitos da mesma "massa" que os de outrora? Não é a nossa ZEE um espaço considerável e susceptível de ser enriquecido a médio ou longo prazo? Não será possível reconstruir uma frota pesqueira de dimensões apropriadas? Não será útil investir no desenvolvimento científico do sector? Não será possível renovar a armada? Não será viável o desenvolvimento industrial nesta área?
Cada um de nós poderá tecer as mais diversas considerações sobre as questões que aqui se deixam. Mas que alguns saibam realizar a obra de que o país necessita.
Um velho ditado chinês diz: "se encontrares
um pobre com fome, não lhe dês um peixe, ensina-o a pescar".
Que os portugueses saibam aproveitar apropriadamente os fundos comunitários
disponíveis para reaprenderem a viver com o "seu" mar.