Um considerável número de pessoas vive perseguindo a felicidade, como se habitassem no paraíso; vivem pensando ter o direito gratuito à felicidade e com o objectivo de serem o mais felizes que lhes for possível.
Mas a realidade é que estamos na Terra onde, segundo os dicionários, felicidade é a satisfação experimentada pelo indivíduo ao realizar-se aquilo para que tendia ou aspirava. E, se a satisfação das tendências é muitas vezes fácil, já a concretização das aspirações é usualmente difícil, implicando o desenvolvimento de algum esforço próprio.
Assim, parece que podemos usufruir de diversos níveis de felicidade. Um primeiro nível está basicamente relacionado com a actividade instintiva e com os hábitos adquiridos em torno desta actividade. Alguns autores preferem a palavra prazer para designar a satisfação vivida durante um banquete ou no acto sexual. Certas pessoas parecem ignorar a existência de outros níveis de felicidade, procurando então viver com muita frequência situações deste tipo, até porque o prazer sentido desaparece rapidamente.
Pelo contrário outras pessoas valorizam a vida de relação, envolvendo-se em emoções e paixões e valorizando crescentemente sentimentos como a amizade e a solidariedade. A felicidade de que usufruem é naturalmente mais forte e mais duradoura, embora entrecortada por momentos de sofrimento, sobretudo devidos à má utilização do seu livre-arbítrio.
Algumas criaturas valorizam também a vida intelectual, procurando raciocinar sobre os acontecimentos e encontrar as soluções inteligentes. E quanto mais o fazem, mais vão descobrindo novos níveis de felicidade, pela concretização de aspirações cada vez mais nobres.
Finalmente, existe um outro grupo que tenta valorizar apropriadamente as vidas instintiva, de relação e intelectual, procurando o harmonioso controlo das primeiras pela última e tendo como objectivo o seu autoaperfeiçoamento. Estas são as pessoas que vão conseguindo estar de bem consigo próprias, ou de consciência tranquila pelo dever cumprido. E estando de bem consigo estão de bem com a Natureza, criando condições para a fluência das intuições apropriadas no momento certo.
Este último grupo diferencia-se dos outros pela forma serena como encara todos os acontecimentos da vida. Se os restantes amam sobretudo o seu "ego", ou alguns seres à sua volta, eles aprendem a amar o Todo. A vida que de facto valorizam é a vida espiritual.
A serenidade, a autoconfiança, o equilíbrio na palavra e na acção, a compostura, a generosidade, o respeito à dignidade humana, a disciplina educativa, o comedimento, a discrição, a probidade, a cordialidade no trato, a prática de bom-humor, a orientação permanentemente construtiva do pensamento, são atributos que atestam os mais elevados níveis de felicidade.
Aqueles que os apresentam vão encontrando
uma felicidade de carácter permanente, assumindo-se como seres sem
medo de nada nem de ninguém. Sempre serenos, mesmo ao encarar a
morte física. Felizes apenas porque existem em Amor espiritual.