Ultimamente os governantes de alguns países têm aumentado os seus esforços no combate à droga, reforçando as respectivas verbas nos orçamentos dos seus Estados, desenvolvendo grandes acções de sensibilização da opinião pública, incrementando algumas medidas repressivas.
As populações em geral parecem acolher bem esta linha de tendência, que procura contrariar um crescente consumo de boa parte dos tóxicos, especialmente pelas camadas jovens.
O conjunto de medidas que têm sido tomadas parece estar a provocar alguns resultados positivos, nomeadamente a nível do desmantelamento de uma ou outra rede de traficantes. Mas... quanto à diminuição do consumo, os resultados ainda são muito frustes ou, até, quase nulos.
Talvez seja conveniente ponderar o que poderá ou deverá ser feito que, decisivamente, relegue para níveis despreocupantes a utilização da droga. Ou melhor, o que poderá ser acrescentado ao que tem sido feito nesse sentido.
Nas suas diversas vertentes, a educação parece poder desempenhar um papel muito importante ou mesmo decisivo. Nos lares, nas escolas primárias, secundárias e universitárias, nas associações desportivas, na comunicação social, em instituições de carácter social e outras, algo mais pode ser feito. Encarando o fenómeno de frente, os educadores poderão, desde cedo, ir sensibilizando os jovens, um pouco por todo o mundo, para as vantagens de saberem viver longe das grilhetas do vício.
À medida que os povos vão tendo um melhor nível cultural, ir-se-ão, naturalmente, desapegando da droga. Quer do cultivo, quer do tráfego, quer do consumo.
Será lógico que os agricultores
sul-americanos e asiáticos, por exemplo, tornando-se culturalmente
mais evoluídos, saibam encontrar mais facilmente soluções
alternativas para as suas plantações, ou até saibam
descobrir novas formas de subsistência para o seu agregado familiar.
Por outro lado, será importante que
os jovens cresçam com a noção de que o consumo de
tabaco e do álcool (que também são drogas, o que tantas
vezes é infelizmente esquecido) não os amadurece, antes os
atrofia. De que o consumo dos psicotrópicos não os liberta
de nada (a não ser de uma forma tão ilusória quanto
breve), antes os prende na dependência psíquica ou, por outras
palavras, no desejo insaciável do tóxico e na dependência
somática, que se exprime pelos característicos fenómenos
de privação no momento da supressão do tóxico
(suores profusos, náuseas, fortes crises hipotensivas, etc.).
Nesse sentido, os mais velhos devem ter a coragem de lhes oferecer exemplos nobilitantes, ou, em alternativa não desejada, assumirem os seus próprios erros como tal. Será sempre muito improvável que um jovem aceite o caminho que lhe é apontado por um educador que siga um caminho contrário.
Mas, à educação intelectual, deverá somar-se a educação moral, que faça com que os diferentes membros da cadeia da droga, desde o agricultor até ao consumidor, e sobretudo o comerciante, com um carácter melhor formado, possam sentir, perante a sua própria consciência, a necessidade de se decidirem a outro tipo de actividades, mais propícias ao seu próprio bem-estar psicossomático e de todos aqueles que os rodeiam.
Importante, ainda, será a consciencialização de todos os intervenientes de que o bem e o mal que fizerem, para si o fazem. Poderão, até, cumulativamente, prejudicar terceiros com os seus actos; mas, ainda aí, a responsabilidade é do próprio que os pratica.
Parece-nos perniciosa a ideia, por vezes comum, de que, um dia mais tarde, o indivíduo se poderá arrepender dos seus desatinos e encontrar uma forma fácil de ser deles perdoado, sem mais consequências.
A realidade mostra-nos que aquilo que cada
um faz está feito. E que, se há alguma coisa a emendar, é
o próprio que tem que desenvolver todo o esforço necessário
à correcção das suas anteriores atitudes. Os familiares,
os amigos, os técnicos de saúde e outros poderão apoiá-lo.
Mas, no fundo, o próprio é que tem que fazer jus à
correcção da sua trajectória evolutiva.