Há algum tempo, discursando numa cerimónia presidida pelo Senhor Presidente da República e a que assistiram também dois membros do Governo, tive oportunidade de citar o grande português, grande estadista e grande médico António José de Almeida: "Nós os portugueses, o que precisamos é de redobrar esforços, por uma actividade maior nos nossos trabalhos, cerrar mais apertadamente as malhas da nossa organização e caminhar para a frente".
Se esta frase seria oportuna quando foi escrita na revista "Alma Nacional", no início de 1910, mais acutilância terá actualmente, ao findar este século XX. É imperioso que nos esforcemos por detectar as nossas dificuldades e por encontrar soluções apropriadas para os nossos problemas. É imprescindível que trabalhemos mais, e sobretudo em qualidade, organizando-nos e disciplinando-nos, no sentido de obtermos uma superior eficácia de actuação a todos os níveis. É importante que nos deixemos de lamúrias e que caminhemos, de facto, em frente.
O povo português diz que "os homens não se medem aos palmos", distinguindo um grande homem de um homem grande. E os países medem-se aos palmos? Ou seja, medem-se pela extensão do seu território, ou pela densidade populacional? Obviamente que não. Os países assumem maior ou menor preponderância internacional, de acordo com o valor das obras dos seus naturais. Em todos os tempos se salientaram na comunidade internacional países de dimensões relativamente pequenas, o que, aliás, ainda hoje acontece.
O mesmo António José de Almeida, já em 1922, no seu memorável discurso no Congresso Nacional brasileiro, afirmava: "É pesada e grave a representação que temos, a representação dos heróis, dos capitães, dos batalhadores, dos nossos castros, das nossas cidadelas! É o que está no fundo das nossas catedrais, é o que dorme no silêncio dos nossos monumentos - são os Gamas, os Nun'Álvares, os Pedro Álvares Cabral, são todos eles!".
Sim. Afinal Portugal também já
foi um grande país, pelo valor de alguns grandes portugueses. E
nós somos os herdeiros desses valorosos homens. Nós todos.
Desde o mais alto magistrado da nação, até qualquer
vulgar cidadão. E, se cada um quiser contribuir para o engrandecimento
da pátria, cumprindo com o seu pequeno mas valoroso quinhão,
este poderá ser de novo um grande país, ainda que de reduzidas
dimensões territoriais.
Fazendo parte da União Europeia, talvez
seja despropositado assumirmo-nos como inevitavelmente pequenos e insignificantes,
autocondenando-nos à condição de neocolonizados. Parece
bem mais razoável e desejável que saibamos racionalizar as
situações, procurar utilizar inteligentemente os mais que
bons meios disponíveis e agir de forma a merecermos (conquistarmos)
o respeito da comunidade internacional.
Por tudo isto, concluí o meu discurso
desejando que cada um de nós saiba dar o seu contributo para que
Portugal se assuma como "um grande país numa Europa grande".