O Gênesis é o primeiro livro na sequência bíblica e pode ser dividido em duas grandes partes:
a) - História das origens:
da criação até o pecado original (Cap. 1 a 3);
de Adão até Abraão (Cap. 4 a 11).
b) - História dos patriarcas
Abraão (Cap. 12,1 a 25,18);
Isaac e Jacó (Cap. 25,19 a 37, 1.);
José (Cap. 37,2 a 50,26)
HISTÓRIA DAS ORIGENS
Há duas histórias da Criação no Gênesis. A análise história descobriu que a primeira na ordem que se encontra na Bíblia é de origem da tradição sacerdotal, portanto, bastante recente e mais evoluída; a segunda que está logo em seguida é, cronologicamente, anterior. É de origem da tradição javista e tem composição mais rudimentar.
a-1 – Narrativas da Criação
A narração
começa: "no princípio". Isto
é por causa da mentalidade judaica, porque eles não podiam
dar um 'tempo' para Deus, então eles usam uma expressão temporal
genérica. "Deus criou", o verbo 'criar'
em hebraico tem características próprias e é empregado
apenas referindo-se a Deus, nunca para o homem. A palavra 'criar' sempre
anuncia uma coisa nova, uma maravilha e indica também falta de esforço,
ou seja, a realização de algo pelo trabalho mas sem consumo
de energia corporal. As palavras "informe, vazio,
trevas, abismo" são de origem mitológica, para indicar
simplesmente o caos. E o "espirito de Deus"
que pairava sobre tudo, dominava tudo, significa a força de Deus.
Um conceito
importante é o da palavra "nada", que não era um conceito
negativo, mas representava algo que eles não entendiam, e precisavam
personificar. Por isso o autor faz aquela descrição detalhada
de como era o caos antes que Deus operasse a criação.
Na primeira
narração, há uma insistente tendência apologética,
insistindo sobre o fato de Deus ter criado os astros e assim eles também
eram criaturas de Deus. Isto era porque alguns hebreus, influenciados por
outras nações vizinhas, queriam adotar também a adoração
dos astros. Ao dizer que os astros eram criaturas, o autor queria
mostrar que eles são inferiores a Deus e não mereciam adoração.
A partir do vers. 26, o autor muda de linguagem porque vai falar da criação do homem. E faz isto para mostrar que o homem é superior aos outros seres já criados. Diz: "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança". Ao usar o conceito de imagem, ou seja, reprodução de Deus, substituição de Deus, logo insere o conceito de semelhança, ou seja, não é igual. Já quando diz: "Deus criou homem e mulher", isto é para mostrar a igualdade de dignidade do homem e da mulher. A expressão: "Ossos dos meus ossos, carne da minha carne" quer dizer que ambos são da mesma natureza. Isto era muito avançado, porque naquela época a mulher era colocada socialmente em plano inferior ao homem; era uma 'posse' a mais, uma coisa possuída pelo homem. Por exemplo, o mandamento proibia 'tomar' o boi, o jumento, a mulher, a casa... do próximo. "Crescei e multiplicai-vos", ou seja, continuai o plano de Deus. "Possuí a terra, dominai-a, guardai-a" quer dizer que o homem tem como função desenvolver o mundo, fazê-lo produzir as coisas de que necessita.
Em Gen. l,
28 a 2,15, está a instituição
do trabalho por Deus. Em seguida, diz que o homem "deu
o nome aos animais", isto tem o objetivo de combater uma teoria
babilônica acerca da criação do mundo e também
para dar idéia de superioridade do homem, domínio sobre o
mundo. "Deus criou o homem do barro e soprou",
para dizer que o homem não é só matéria, mas
também espirito, que veio deste 'sopro' de Deus. "Come
de todas as árvores", não é uma ordem indeclinável,
como se o homem devesse ser vegetariano. Era para designar a paz paradisíaca,
no sentido de que o homem não precisaria usar violência, matar
para sobreviver. "Deus viu que tudo era bom",
isto para dizer que Deus fez tudo bom, não foi ele o autor do mal.
E, donde veio o mal? A resposta será dada no cap. 3. A narração
da criação do mundo em seis dias é para insistir no
repouso sabático. A "árvore da vida"
que havia no paraíso é resquício de uma mitologia
babilônica primitiva e significa que o homem nasceu para não
morrer.
Porém, com a chegada do homem no mundo, outro
elemento entrou também em questão, para ajudar na evolução
deste mesmo mundo: a liberdade. O homem não espera que a natureza
cumpra tudo com a sua lentidão. Ele vai lá e apressa. Neste
aspecto, deve ser entendido o progresso do mundo. A liberdade está
por trás de tudo.
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