Esta história inicia-se em 1912, quando a Merck, uma companhia alemã pediu a patente para estas substancias. (Nota 114) Esta companhia permitiu que a patente expirasse sem que a substancia tenha sido utilizada. Recolheram-na de novo quando o exercito dos Estados Unidos demonstraram interesse nos alucinogénios e autorizou pesquisas durante 1953 e 1954 sobre o MDA, MDMA e outras substancias para serem usadas como "soro da verdade". Mais tarde verificou-se que elas não eram adequadas para este propósito. Os resultados deste estudo não foram publicados até 1973 (Nota 115).
O MDA tornou-se popular nos anos sessenta, enquanto que o MDMA foi pela primeira vez identificado, como droga de rua, em 1972.
Em 1978 Shulgin e Nichols (Nota 117) publicaram um artigo cientifico sobre a estrutura do MDA, MDMA e outras substancias. Contudo as informações nele contidas já estava disponível há algum tempo. Entre aqueles que tinham conhecimentos sobre elas estavam alguns psicoterapeutas que de forma crescente utilizaram o MDMA como ajuda psicoterapeutica. (Notas 118, 119)
Estas substancias adquiriram em 1981 o nome Ecstasy (XTC), pelo qual são hoje conhecidas. O uso desta designação verificou-se quando o seu uso recreativo, como estimulante, começou nos Estados Unidos. Logo após esta fase, o seu consumo espalhou-se também rapidamente para além das fronteiras dos Estados Unidos.
Na Universidade Metodista do Sudoeste, em Dallas, na qual o consumo de álcool era proibido os estudantes compravam, legalmente, MDMA como seu substituto e pagavam com cartão de crédito. O seu consumo nos Estados Unidos subiu de 10.000 doses por ano em 1976 para 30.000 doses por mês em 1985. (Nota 120) Ao mesmo tempo a Drug Enforcement Administration, DEA, organismo governamental do Estados Unidos que controla e faz aplicar as leis relativas às drogas, relatou que apenas no Texas eram consumidas 30.000 doses por mês. Um estudo de 1987 revelou que 40% dos estudantes no campus da Universidade de Stanford tinham consumido MDMA. (Nota 121) Em 1985 o MDMA foi proibido pela DEA, e foi-lhe atribuído o mesmo status que à heroína e ao LSD.
O MDMA foi também usado pelos seguidores de Baghwan e espalhou-se pela Europa. O contexto para o seu uso na Europa foi diferente. Foi ao inicio consumido em Ibiza, onde a combinação de XTC com a dança ao som ensurdecedor de musica electrónica numa vida nocturna de atmosfera exótica, foi inventada. Ela espalhou-se daqui para a Inglaterra e para a Holanda em particular, de onde uma emergente nova cultura da juventude se espalha por toda a Europa: a "rave".
Um grande numero de substancias são vendidas com o nome de XTC, incluindo as anfetaminas, a ketamina, o PCP e a cafeína, assim como uma gama de medicamentos "normais" que são puras falsificações. (Nota 122)
Nas próximas linhas são abordados os principais entactogénios, quer eles sejam vendidos como Ecstasy ou não.
Shulgin (Nota 123) descreve o efeito alucinogénio do MDA da seguinte forma: "com os olhos fechados produz alucinações que se impõem. Acontece de forma absolutamente consistente a recolecção de acontecimentos passados, de memórias da infância, um reviver dos tempos iniciais que aparentam ser, pelo menos até onde podem ser documentados, totalmente acurados".
Uma característica que parece ser exclusiva do MDA consiste principalmente no reforço das emoções e da empatia até um elevado grau e a criação de uma forte ligação emocional com as outras pessoas presentes. Foram estes efeitos que tornaram o MDA popular como droga recreativa. O MDA tem também uma clara actividade simpáticomimética.
A dose normal situa-se entre os 80 e os 160 mg, e o seu efeito estende-se por 8 a 12 horas. No contexto das pesquisas para encontrar o soro da verdade, esta substancia foi administrada pelo exercito dos Estados Unidos a algumas pessoas cobaias, em alguns casos sem o seu conhecimento. Num dos casos, um doente psiquiátrico, morreu em resultado de lhe ter sido administrada uma injecção intravenosa de 500 mg.
"O primeiro efeito é muito rápido, cerca de meia hora após a ingestão, a maioria das pessoas testadas relataram que o nível mais elevado de estabilidade do efeito começa entre, outra meia hora, ou uma hora depois. Sem considerar a continuação de um estimulo simpaticomimético muito diminuto, o qual que se prolonga mais umas horas que os sintomas de intoxicação, os sintomas de intoxicação desaparecem em grande parte duas hora depois de se iniciar a fase anteriormente referida. Existem poucos sintomas físicos de intoxicação, e são virtualmente inexistentes os pós-sintomas psicológicos. Em termos qualitativos, a droga aparenta evocar um estado, facilmente controlável, de consciência modificado com nuanças emocionais e sensoriais. Em termos de feitos pode ser comparado com a cannabis, a psilocibina sem a componente alucinatória, ou a baixas doses de MDA" (Nota 117)
Dez anos depois, um informador anónimo que alega ter 50 anos, descreveu os seus efeitos da seguinte forma:
"A droga remove todas as neuroses. Retira o medo das respostas. Existe uma sensação de paz irresistível, e o sujeito sente-se em paz com o mundo. Um sensação de abertura, de nitidez e de ternura. Não consigo imaginar que alguém se enfureça sobre a sua influencia, ou que seja egoísta, ou ainda que se ponha na defensiva. Tem-se um grande discernimento sobre nós próprios, um discernimento verdadeiro, que se conserva quando a experiência acaba. (Nota 125)
Esta variante pouco difere da MDMA. É um pouco mais suave: a dose é de cerca de 135 mg e o seu efeito dura de 3 a 5 horas. A sua principal diferença em relação ao MDMA é que o "efeito magico e o efeito sobre a afectividade parecem não existir" (Nota 124)
Downing (Nota 126) e Hayner & McKinney (Nota 127) registaram os seguintes efeitos:
Conclusão: "este estudo indica que não existem, dentro dos parâmetros examinados, consequências significativas imediatas do consumo de MDMA, ou consequências neurocomportamentais subsequentes". Todos estes efeitos podem provavelmente ser explicados a partir do efeito estimulante do MDMA.
Isto também se refere aos sintomas póstumos que tem sido descritos, cansaço e exaustão, depressão, e em alguns casos psicoses mais prolongadas, excepto as depressões que algumas vezes lhe sucedem por um curto período.
Os problemas que mais frequentemente se apresentam são: ansiedade, aceleração do ritmo cardíaco, e paranóia em casos graves. O tratamento é sintomático. É geralmente suficiente explicar que esses são os efeitos de uma sobredosagem, e que esses efeitos desaparecem quando o efeito da droga acaba. O método que é aplicado ás reacções ao LSD, o "talk down", ajuda na grande maioria dos casos. Mais de uma vez a droga acabou por perder todos os efeitos.
Nos poucos casos em que a ansiedade subsiste, os pacientes podem voltar para algumas sessões de aconselhamento, as quais não são geralmente continuadas por mais do que uma semana, a menos que o paciente tenham problemas com outras drogas ou problemas emocionais. (Nota 128)
Por ultimo, têm-se afirmado que o MDMA reduz a resistência às infecções (virais). Têm sido relatadas nos Estados Unidos infecções brônquicas (Nota 129), enquanto que nos consumidores holandeses se relatam infecções na região urinária nos indivíduos do sexo feminino (Nota 130).
A existência do debate sobre os possíveis efeitos alucinogénios do MDMA é provavelmente causado pela regularidade com que os consumidores relatam (suaves) alucinações, mas não tem sido certo que eles realmente tenham consumido MDMA, pelo que é possível que tenham ingerido pequenas doses de LSD ou MDA pensando que era XTC. Existem também indicações de que uma pequena parte do MDMA é convertido no interior do corpo em MDA (Nota 131). Se bem que esta conversão não seja significante nas doses normais, mas pode, se tomada em doses maiores, causar alucinações.
Algumas publicações médicas e os mass media atraíram a atenção para o numero de mortes entre os consumidores. Foram descritas as seguintes complicações agudas: (Notas 132 a 143)
As complicações cardíacas ocorreram todas entre pessoas que já possuíam, se bem que algumas vezes sem que os mesmas tivessem já sido identificados, problemas cardíacos.
A hipertermia com todos os tipos de complicações mortais é já desde à muito conhecida como uma rara complicação das overdoses de anfetaminas, provavelmente baseado numa "idiossincrasia" individual da sensibilidade. (Nota 144)
A hepátotoxicidade é um novo fenómeno em relação ás substancias que se aparentam com as anfetaminas, mas as psicoses são bem conhecidas como complicações usuais e temporárias entre as pessoas que lhes são predispostas.
Existem indicações derivadas de experiências com animais, de que o MDMA danifica as extremidades nervosas serotonérgicas. (Nota 145) Mas não foi até agora possível demonstrar que isto também se verifica nos humanos. (Nota 146) Um grupo de pessoas teste que consumiram XTC em média 95 vezes em 5 anos, têm concentrações significativamente menores de um indicador da função da serotonina no cérebro, mas não existe informação sobre o seu nível antes de iniciarem o consumo de XTC. Estas pessoas de teste eram significativamente menos impulsivas e hostis e mostraram mais autocontrolo que o grupo de controlo que não tinha consumido XTC. (Nota 147) Já que as ultimas características são aspectos comportamentais e que as mesmas são assumidas como mediadas pela serotonina, isto pode ser uma indicação de que podem ter existido mudanças na concentração de serotonina, mas é uma questão de opinião considerar que essas mudanças, se é que realmente existiram, devem ser vistas por uma perspectiva negativa. Para além disso, foram prescritos fármacos de modo crónico como a fenfluramina, uma droga que reduz o apetite, e que os efeitos neurotóxicos foram descritos da mesma forma, ou a fluoxetina (Prozac), cujos efeitos a longo prazo nunca foram investigados.
Deve ser obvio que, por mais dramáticas que estas complicações possam ser ao nível individual, quando relacionadas com as estimativas do numero de consumidores de XTC elas são sem duvida muito raras.
O MDMA aumenta a secreção de serotonina nas sinapses e inibe a sua recaptação. O MDA e a anfetamina também têm este efeito, mas o MDMA e MDA tem uma capacidade 5 vezes maior de inibir a recaptação da serotonina que a anfetamina, e pelo menos 20 vezes mais que o DOM, um verdadeiro alucinogénio. O MDA e MDMA são razoavelmente potentes como inibidores da recaptação da noradrenalina, o que constitui a principal causa do efeito simpaticomimético do MDMA.
O MDA inibe a recaptação da dopamina. O MDMA tem a mesma característica mas num grau muito menor, e o DOM nem sequer apresenta essa característica. Esta situação demonstra que a este respeito, o MDA e o MDMA pertencem a uma categoria completamente diferente dos verdadeiros alucinogénio. (Nota 148)
Tradução do texto disponível no Drugtext website.
Publicado com o consentimento da DrugText.
Agosto de 1997
Ver também textos sobre :
MDA em http://www.hyperreal.org/drugs/pihkal/pihkal100.html
MDMA em http://www.hyperreal.org/drugs/pihkal/pihkal109.html