Titãs História
Por Daniel Nassar
Com 15 anos de carreira, o Titãs é uma das bandas mais misteriosas do rock nacional. Apostaram na diversidade, misturando estilos como punk, funk, hard rock, pop, new wave e MPB, mudaram de imagem e intenções diversas vezes, e conseguiram realizar uma façanha: mantiveram por todos esses anos um público fiel e com certeza causaram muita controvérsia, pois não pensavam duas vezes antes de fazer duras críticas a sociedade e incluir palavrões em suas músicas.
Em 1982, com um grande número de integrantes, a banda já causava estranheza no público, eram nove: Arnaldo Antunes (vocal), Paulo Miklos (vocal, sax, guitarra), Marcelo Frommer (guitarra), Sérgio Britto (vocal, teclado),Toni Belloto (guitarra) ,Branco Mello (vocal), Nando Reis (baixo, vocal), André Jung (bateria) e Ciro Pessoa (vocal). Essa formação surgia com o nome de "Titãs do iê iê iê" e a proposta inicial era fazer apenas uma releitura da Jovem Guarda
Dois anos depois, com a saída de Ciro Pessoa em 84, assinaram com o selo WEA e lançaram o primeiro disco auto-intitulado. Sem estilo definido, o único sucesso do disco foi "Sonífera Ilha", que chegava a ser cantada de 3 a 4 vezes durante os shows. Segundo Sérgio Britto, a falta de um estilo próprio, de um direcionamento musical definido era proposital, uma ideologia da banda.
No ano seguinte sairia o segundo disco "Televisão", produzido por Lulu Santos. A variedade de estilos continuava, canções pesadas e pops dividiam espaço entre as gravações. No mesmo ano, a imagem da banda seria marcada pela prisão de Arnaldo Antunes e Tony Belloto por porte de heroína. Foram 26 dias de cárcere, onde Arnaldo passou chorando e rezando, segundo ele.
Em 1986, com uma produção e musicalidade de peso, os Titãs chegam ao auge da carreira com o que pode ser considerado um verdadeiro marco na história do rock tupiniquim, o disco "Cabeça Dinossauro", que faz duras críticas a igreja, a polícia, a família e a sociedade. Um disco agressivo, contundente e pertinente, é discoteca básica.
Com a entrada de Charles Gavin no lugar de André Jung, seria o disco mais pesado, mais punk de toda a carreira da banda. Pela primeira vez podia se enxergar ali uma identidade definida, a verdadeira face do grupo. Músicas como "Policia", "AA UU" ,"Porrada", "Igreja" e "Bichos Escrotos", que foi censurada, mostravam toda a agressividade e senso crítico da banda, seria uma revolução no rock nacional. Neste disco estava ainda um dos maiores sucessos do grupo, a música "Homem Primata", que era continuamente executada nas rádios.
E quem pensava que a banda teria encontrado o seu caminho, se enganou. Contrariaram todas as expectativas com o lançamento do próximo disco "Jesus Não Tem Dentes no País dos Banguelas", que apesar de conter algumas músicas pesadas, a ênfase do disco estava na utilização de samplers e efeitos eletrônicos, que segundo Arnaldo Antunes, não desejavam que fosse um Cabeça Dinossauro 2. O público continuava fiel.
Em 1988, gravado durante a apresentação da banda num festival na Suiça, é lançado "Go Back", com o objetivo de resgatar canções da fase anterior a Cabeça Dinossauro. Entre elas estavam as faixa "Marvim" e "Go Back".
No ano seguinte, em Pernambuco, conheceram a dupla Mauro e Quitéria , que cantavam em uma língua estranha , misturando diversos idiomas, seria ai que ncontrariam a inspiração para o próximo trabalho. O canto dos nordestinos foi usado em " Õ Blèsq Blom " . A faixa "O Pulso" seria o maior sucesso do disco.
Dispensaram produtores e de forma totalmente independente lançaram em 91, o álbum "Tudo Ao Mesmo Tempo Agora ", seria o mais polêmico dos Titãs por trazer incluídos nas letras palavrões e termos escatológicos , além de um som sujo e pesado. Sofreram duras críticas da mídia e em conseqüência as músicas tiveram vida curta nas rádios. Somado a isso, os Titãs levariam um duro golpe com a saída de Arnaldo Antunes, o nome mais marcante da banda, que deixava a banda para realizar projetos individuais ,que não cabiam no grupo.
Para amenizar a situação, contratam o produtor norte-americano Jack Endino , famoso por trabalhar com grupos " grunge" de Seattle como Nirvana e Soundgarden, para produzir "Titanomaquia", um retorno ao rock pesado que emplacou vários hits. Porém um dos fatos mais marcantes deste disco, foi o fato de ele vir embalado em um saco de lixo.
Após o fim dessa turnê a banda entra em uma grande crise, os integrantes se separam e resolvem se dedicar a novos projetos. Toni Belloto lança o livro "Bellini e a Esfinge", Nando Reis lança o CD "12 de Janeiro" um trabalho solo, Paulo Miklos também lança seu trabalho solo. Charles Gavin produziu o álbum de estréia da banda Moleques , e junto com Nando Reis produziu o álbum Vange, da cantora Vange Leonel.
Os Titãs lançam em conjunto com a WEA um selo "Banguela Records" ,que revelou outras bandas, entre essas os Raimundos. Parecia definitivamente o fim da banda, mas em 1995 novamente eles contrariam as expectativas, mudam de rumo mais uma vez e com Jack Endino produzindo, lançam o disco "Domingo", um dos mais pop desde "Televisão", apesar das participações peso-pesado de Andreas Kisser e Igor Cavalera do Sepultura, Herbert Vianna e João Barone dos Paralamas do Sucesso. O destaque fica por conta das faixas "Domingo" e "Eu Não Agüento".
No ano de 1997, entram no projeto Acústico e lançam um disco em comemoração aos 15 anos de carreira. Com mais de 1 milhão e meio de cópias vendidas, o Acústico se tornou um dos discos mais bem sucedidos do grupo em termos de vendagem. Além de grandes sucessos revestidos em novos arranjos, o álbum conta ainda com 4 canções inéditas e diversas participações especiais, incluindo Rita Lee na faixa "Televisão", Marisa Monte que divide os vocais com Branco Mello em "Flores", o reencontro com o ex-titânico Arnaldo Antunes na música "O Pulso", entre outras.
Finalmente em 1998, lançam o disco "Volume II", uma continuação do Acústico, mais sucessos antigos que não entraram no primeiro, juntamente com algumas inéditas e duas covers, entre elas "É preciso saber viver" de Roberto e Erasmo Carlos. Com uma fórmula desgastada e algumas músicas cansativas e enfeitadas demais, não alcançou o sucesso do disco anterior e deixou muitos fãs enfurecidos. Comportados, sentados em banquinhos e tocando violões, não lembram nem de longe aquele bando de malucos que balançavam a cabeça e metiam o pau em todo na ótima fase de Cabeça Dinossauro. Com toda essa diversidade musical, o grupo foi ganhando e perdendo fãs a cada ano e disco lançado. Mas a imensa maioria continua fiel, talvez esperando que um dia a banda volte a fazer novas obras-primas como "Cabeça Dinossauro".
A banda já se encontra em estúdio gravando novo disco que deve ser lançado até o fim de 99, com a ajuda de um velho conhecido, Jack Endino, mesmo produtor de "Titanomaquia", e quem espera uma volta aos velhos tempos pode se decepcionar, pois nesse disco estarão mais algumas regravações da época da Jovem Guarda, leia-se Roberto Carlos e Erasmo Carlos. É esperar pra ver, ou melhor, ouvir....
Citações |
No começo tinha uns caras que vinham até a gente e pediam
"Me dá um autógrafo, Lobão..." Sem contar aqueles
que trocavam o nome de todo mundo, chamavam o Branco de Arnaldo,
essas coisas.
(Nando Reis)
Dentro de nossa proposta despreconceituosa, tocávamos em qualquer barraco. (Marcelo Fromer)
Antes da
gente gravar o nosso primeiro disco, a gente fez show em lugares
absurdos, tipo... casas gay, casas de chá, coisas que não é o
caso.
(Sérgio Britto)
A gente tocava Sonífera Ilha tipo umas três, quatro vezes, e o show tinha uns vinte minutos mais ou menos. A gente tocava no começo, meio e fim, e dava um biz com ela. (Sérgio Britto)
Ciro estava trazendo um astral muito baixo para a banda. (Tony Bellotto sobre a demissão de Ciro Pessoa)
Se o cara
tem a manha de dizer 'ou ele ou eu', é claro que agente escolhe
ele pra sair.
(Branco Mello)
Sempre
fomos muito convictos do que fazíamos, e foda-se quem não
entendesse.
(Nando Reis)
Comprei
heroína pela primeira vez, por curiosidade.
(Arnaldo Antunes, sobre seu envolvimento com heroína)
A gente se
dá bem, pelo fato de sermos sete; tá com problema com algum,
você muda de companhia.
(Sérgio Britto)
No
começo, por um certo motivo, não deu pra gente trabalhar junto.
Aí começaram a falar muito mal de mim na imprensa: "O
Liminha faz um som meio perninha, meio kid abelha, blá, blá,
blá... o cara vai estragar nosso som...
(Liminha, produtor)
"Sempre
tivemos essa característica de sermos um bando de homens em cima
do palco, com uma performance curiosa e agressiva".
(Sérgio Britto, sobre Cabeça Dinossauro)
"Vão
se fuder! Porque aqui na nossa terra só Bicho escroto é que vai
ter!"
(Refrão de "Bichos Escrotos, censurada em 86)
"Tivemos
cuidado para não fazer um segundo 'Cabeça Dinossauro'
(Arnaldo Antunes sobre o disco "Jesus Não Tem Dentes no
País dos Banguelas")
"O
show de Montreaux foi difícil, já que tivemos pouco tempo para
ensaiar. Saímos de lá meio derrubados , preocupados com o
resultado. Dai, quando escutamos a fita , vimos que estava
legal".
(Marcelo Fromer, sobre a gravação do disco "Go Back"
num festival na Suiça)
"A
saída do Arnaldo gerou uma confusão, mas superamos. E gravamos
um disco de rock pesado como nunca se fez no Brasil".
(Paulo Miklos, sobre o disco "Titanomaquia")
O
Acústico surgiu do nosso desejo de comemorar de uma forma bem
especial esses quinze anos juntos.
(Paulo Miklos)
"A
gente nunca foi nada acústico"
(Tony Belotto)
"Sempre
fomos o oposto disso"
(Sérgio Britto)
"Desde
'Sonífera Ilha' eu peguei no sono e quis tocar com eles. E o
dinheiro que eles estão pagando é muito bom, não pude
recusar!"
(Rita Lee, sobre sua participação no Acústico)
"É
muito bom rever os Titãs, matar a saudade."
(Arnaldo Antunes, sobre sua participação no Acústico)
"Talvez
o número de pessoas no palco chegue a 20. Isso é uma coisa que
a gente nunca enfrentou antes."
(Charles Gavin, sobre o Acústico)
"Acho
que algumas músicas mudaram mais, 'Flores' é um
clássico."
(Marisa Monte sobre sua participação no Acústico)
"Acho
que esse vai ser o grande disco da nossa carreira, um
marco."
(Branco Mello, sobre o Acústico)
Se você
acha que você é apenas uma banda de rock, que por isso deve
apenas fazer rock, se você quiser não tem nenhum problema...
mas você achar que você só pode fazer rock, é no
mínimo...pobre.
(Nando Reis)
Curiosidades |
Ao sair dos Titãs, André Jung foi pro Ira! e Charles Gavin que veio pra ficar em seu lugar, saiu do Ira!
No disco Cabeça Dinossauro, a capa "Expressão de um homem urrando" e contracapa "Cabeça grotesca" são desenhos originais de Leonardo da Vinci.
Toni Belloto lançou dois livros "Bellini e a Esfinge" e "Bellini e o Demônio", são uma mistura de policial e romance. Belloto ainda pretende ainda produzir um filme sobre seus dois livros.
Discografia |
Titãs
(1984)
Televisão (1985)
Cabeça Dinossauro (1986)
Jesus Não Tem Dentes No País Dos Banguelas (1987)
Go Back (1988)
Õ Blésq Blom (1989)
Tudo Ao Mesmo Tempo Agora (1991)
Titanomaquia (1993)
Titãs 84-94 (1994) - Coletânea
Titãs 84-94 Dois (1994) - Coletânea
Domingo (1996)
Acústico (1997)
Volume II (1998)